Teatro da Caixa recebe mestres da cultura popular brasileira
Espetáculo Na Eira, do grupo Ponto br, reúne mestres populares (do Maranhão e Pernambuco) com os artistas contemporâneos, numa fusão que coloca em cena a experiência e a ousadia
Nos dias 12, 13 e 14 de abril, o teatro da Caixa, em Curitiba, será palco de uma apresentação de encher os olhos e a alma. O show Na Eira, que reúne músicos contemporâneos e mestres da cultura tradicional, coloca em cena a música e as tradições do Bumba Boi maranhense, do Maracatu, o Coco e a Ciranda de Pernambuco, do Carimbó do Pará, das Caixeiras do Divino e dos ritmos dos terreiros. Além das apresentações serão ministradas oficinas gratuitas pelos mestres.
Esta mistura de sons é o resultado do coletivo Ponto br, grupo que reúne nomes como mestre Humberto de Maracanã, Mestre Walter do Maracatu Estrela Brilhante de Recife, Dona, Zezé de Iemanjá, em diálogo com a paulistana Renata Amaral, o pernambucano Eder “O” Rocha, o suíço Thomas Rohrer e o maranhense Henrique Menezes. O espetáculo Na Eira já foi apresentado em 16 cidades brasileiras e esta será a primeira vez que o grupo vem a Curitiba com o patrocínio da Caixa Cultural.
Formado em 2002, a convite do Festival Wemilere, em Guanabacoa, Cuba, o Ponto br se apresentou em diversos espaços e festivais em São Paulo. O coletivo também representou o Brasil no Golden Karagöz Folk Dance Festival, Turquia. Selecionado pelo Programa Petrobras Cultural, o grupo lançou em 2010, em circulação por seis estados brasileiros, o CD Na Eira, que conta também com a participação de Seu Nelson da Rabeca (AL), o babalorixá Euclides Talabyan, as mestras Maria Rosa e Anunciação Menezes (MA), o Povo Kariri Xocó (AL) e a comunidade da Tenda São José de Pirapemas (MA).
Ação - Por onde passa, o grupo Ponto br faz também oficinas de gêneros populares como Bumba Boi, Caixa do Divino, e Maracatu Nação, em propostas de musicalização e arte educação. Paralelo às apresentações em Curitiba, o grupo fará três oficinas gratuitas nos dias 13 e 14 de abril (ver abaixo). “O trabalho do Ponto br é o diálogo possível entre vertentes e gerações, nas quais as diferenças estéticas, temporais, sociais são harmonizadas revelando outra via para o fazer artístico. Experimentando saberes e sonoridades destas tradições, o show Na Eira tem como resultado uma sonoridade única e atemporal”, disse Renata Amaral.
A investigação estética está fundamentada em uma longa convivência com estas comunidades, sua cultura, seus guardiões, em pesquisas que já renderam dezenas de registros em CD e documentários destas manifestações. Toadas de Bumba Boi, Maracatu, pontos de Tambor de Mina, Jurema, Cocos, Cirandas, Carimbós, Rojões e vários outros fazem parte do show Na Eira, cujo processo de concepção resultou de uma imersão do grupo em ensaios e encontros registrados ao vivo que resultaram também no CD de mesmo nome.
Reconhecimento - Em 2012, o grupo recebeu duas indicações ao Prêmio da Música Brasileira, patrocinado pela Vale. Com o disco “Na Eira”, Ponto br concorreu aos prêmios de “melhor grupo” e “melhor álbum” na categoria Regional. Venceu como melhor grupo.
A faixa “Terra de Caboclo” foi incluída na compilação em CD dos vencedores dessa 23° edição, com distribuição da Universal Music, ao lado de artistas renomados como Céu, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Criolo, Dori Caymmi, Dom Salvador, Hamilton de Holanda, Chitãozinho & Xororó, Alcione, Dominguinhos, Marisa Monte, entre outros. Em 2013, o grupo foi selecionado entre centenas de artistas para uma circulação do projeto Natura Musical
Esculpido pela memória de seus mestres, o repertório dos gêneros tradicionais alia a absoluta simplicidade a uma surpreendente elaboração estética que a cultura oral filtra qualitativamente através do tempo. Esses pontos são melodias e ritmos matrizes da música urbana, que influenciaram a formação de gêneros como o samba, o forró e inúmeros outros. Na Eira revela a sofisticação e a contemporaneidade destas manifestações, através das quais o povo brasileiro veicula e harmoniza sua vocação artística, sua corporalidade, sua espiritualidade.
Perfil
Mestre Humberto de Maracanã – voz e percussão
Homenageado do Prêmio Culturas Populares do MinC em 2008, Mestre Humberto é ícone da cultura maranhense condecorado com a Ordem dos Timbiras. Considerado um dos maiores compositores e cantadores de Bumba Boi da Ilha de todos os tempos. É líder do Bumba Boi de Maracanã, comunidade centenária com cerca de mil integrantes, sendo um dos dois maiores e mais conhecidos grupos tradicionais do estado.
Mestre Humberto compõe vários gêneros de música, e tem experimentado parcerias com artistas como A Barca, Siba, Alcione, Tião Carvalho, Beto Villares e Ubiratã Souza, entre outros. Ele também participou de gravações, concertos e documentários de projetos de registro como Tambores do Maranhão, Música do Brasil e Turista Aprendiz, além de ser tema de teses e artigos de pesquisadores em todo o Brasil.
Em 2007, com o patrocínio da Petrobras, lançou o DVD documentário Rio do Mirinzá e o CD Estrela Brasileira. Em 2008 foi o único grupo do Maranhão selecionado no prêmio Rumos do Itaú Cultural. Neste mesmo ano lançou o CD o Lira Brasileira. Nos últimos dez anos o grupo lançou os CDs 25 anos de toadas do Guriatã no Maracanã (1998), São João meu Santo Forte (1999), Luz de São João (2000), CD Duplo Boi de Maracanã (2001) e Humberto de Maracanã 30 anos de glória (2003).
Mestre Walter França – voz e percussão
Um dos principais mestres da Cultura Popular de Pernambuco, ele é Chefe do Baque e compositor das loas do Maracatu Nação Estrela Brilhante do Recife, grupo centenário fundado em 1906 e inúmeras vezes campeão do carnaval de cidade. Começou na música aos quatro anos de idade ao lado dos 21 irmãos e do pai Zacarias, artista popular fundador da mais tradicional escola de samba do Recife, a Gigantes do
Samba, e de outros folguedos como Pastoril, caboclinhos e cocos. Mestre de bateria da Gigantes por 10 anos, assumiu em 1986 a chefia do Estrela Brilhante. À frente de centenas de brincantes e dos 120 batuqueiros do maracatu, se apresentou em cidades da Europa como Hannover (Expo 2000), Lisboa (Parque das Nações), Paris, Amsterdã, Colônia e Aechen, além de ter ido à África em 1991. Ministra oficinas e vivências em todo o país tendo fundado diversos grupos de maracatu pelo Brasil.
Zezé Menezes – voz e percussão
Caixeira do Divino Espírito Santo e Primeira ekedi da Casa Fanti Ashanti, uma das principais casas de culto afro religioso do Maranhão, Ponto de Cultura em atividade há 50 anos. Especialista nos gêneros da Casa - Tambor de Mina, Tambor de Crioula, Candomblé, Carimbó de Caixa, Pajelança, Baião de Princesas, Canjerê, Samba Angola, Bumba Boi, Festa do Divino - ele ministra oficinas de Caixa do Divino e Tambor de Crioula em diversos estados brasileiros. Trabalha em projetos de capacitação solidária e arte educação p/ crianças e adolescentes da comunidade do Cruzeiro do Anil, na periferia de São Luís. É mestre do Reis do Oriente, gênero dramático tradicional do ciclo natalino e há 11 anos participa do Festejo do Divino, em São Paulo, na Associação Cachuêra. Gravou os CDs Caixeiras Cantam para o Divino (Itaú Cultural), Baião de Princesas (A Barca / CPC-UMES), Tambor de Mina na Virada Pra Mata, Tambor de Mina Raiz Nagô e Tambor de Crioula de Taboca (A Barca / Petrobras)
Éder “O” Rocha – bateria e percussão
Formado em percussão pelo Centro Profissionalizante de Criatividade Musical do Recife. Tocou nas principais orquestras do Nordeste como Sinfônica do Recife, Sinfônica do Rio Grande do Norte, de Olinda, Banda Sinfônica do Recife e Orquestra de frevo do Maestro Duda.
Percussionista do grupo Mestre Ambrósio, trabalhou com artistas como Herbert Vianna, Zélia Duncan, DJ Dolores, Nação Zumbi, etc. Diretor artístico da Cia Circense Nau de Ícaros e do grupo Olho da Rua. Articulista das revistas Batera e Manguenius, lançou disco solo Circo do Rocha e o método de percussão Zabumba Moderno
Henrique Menezes – voz e percussão
Nascido em São Luis, Maranhão, Henrique Menezes pertence a uma importante família de artistas populares da Casa Fanti-Ashanti, centro religioso que é referência da cultura do estado. Tem ali o cargo de primeiro Ogã (Ogã Alabê Huntó) da Casa. Trabalhou como percussionista com os principais artistas maranhenses como Ubiratã Souza, Josias Sobrinho, Rosa Reis e Tião Carvalho. Radicado em São Paulo há 15 anos, ministra oficinas de percussão e danças populares em escolas e universidades como ECA-USP, Unicamp, Universidade Estadual de Londrina e Universidade Anhembi-Morumbi, além da Associação Arte Despertar. No teatro, atuou sob a direção de José Celso Martinez nos espetáculos “Os Sertões” e “Bacantes”. É membro do grupo “Força Tarefa” que há 10 anos encena o espetáculo infantil “Lampião no Céu”, de Eliana Carneiro, e atua ainda no grupo “Cia. das Mães”, desde 2002. Atualmente é diretor geral do Grupo Pé no Terreiro, que lançou o primeiro CD, “Cacuriá” e desenvolve também trabalho autoral junto à banda Bom Que Dói.
Thomas Rohrer – rabeca e saxofones
Suíço radicado no Brasil desde 1995 é formado pela escola de jazz de Lucerna. O trabalho dele transita entre a improvisação livre, o jazz contemporâneo, a música regional brasileira e a musica medieval. Em 1999 tocou no Montreux Jazz Festival com Chico César, Rita Ribeiro e Zeca Baleiro. Apresentou-se na Suíça, Itália, Nova York e no Brasil em duo com a percussionista italiana Alessandra Belloni. Em 2002 e 2003 fez turnê pela França, Espanha e Inglaterra com o quinteto de música instrumental de Carlinhos Antunes. Membro do grupo de música medieval Sendebar se apresentou no Lincoln Center, Metropolitan Museum e na Catedral St, Johns the Divine, em Nova York. Em 2004 participou do projeto de intercâmbio MPB-BPM, integrando a Orchestra Escócia-Brasil. Participa na banda Aparelhagem, do pernambucano DJ Dolores com apresentações no Brasil e Europa. Ele é membro do grupo A Barca, gravou e apresentou-se ainda com Zé Gomes, Ceumar, Tião Carvalho, Paulo Lepetit, Ivaldo Bertazzo. Paulo Freire, John Labarbera, Suzana Salles, Alexandra Montano, Satoshi Takeishi, Steve Gorn, Jamey Haddad, Antonio “Panda” Gianfratti, Marcio Mattos, Phil Minton, Jamie Haddad, Alexandra Montano, Mark Dresser, Nelson da Rabeca, Saadet Türköz, Miguel Barella, Celio Barros, Carlinhos Antunes, Passoca, entre outros.
Renata Amaral
Formada em Composição e Regência pela Universidade Estadual Paulista, se apresentou ao lado de intérpretes em todo o Brasil, América do Sul e Europa como Tião Carvalho, Suzana Salles, Priscila Ermell, Maria Preá e Fuzarca em São Paulo, Itiberê Zwarg no Rio, Orquestra Popular do Recife e Claudionor Germano em Pernambuco. Desde 1998 trabalha com A Barca, com quem lançou os CDs Turista Aprendiz, Baião de Princesas e as caixas Trilha, Toada e Trupé e Coleção Turista Aprendiz Como pesquisadora, desde 1991 viaja pelo Brasil formando um acervo com cerca de 800 horas de registros audiovisuais e milhares de fotos de manifestações tradicionais brasileiras. Produziu nos últimos 10 anos 27 CDs e 10 documentários sobre cultura popular, e ministra cursos e oficinas tendo como base gêneros da Cultura Popular Tradicional em espaços diversos. Recebeu por duas vezes o Prêmio Interações Estéticas da Funarte para residências artísticas no Maranhão e no Benin, desenvolvendo pesquisas que resultam em espetáculos e documentários sobre cultura afro-brasileira.
Serviço
Show Na Eira
CAIXA Cultural Curitiba – Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Curitiba (PR)
Data: de 12 a 14 de abril de 2013 (quinta-feira a domingo)
Hora: sexta-feira e sábado às 20h e domingo às 19h
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia - conforme legislação e correntista CAIXA)
Bilheteria: (41) 2118-5111 (de terça a sexta-feira das 12h às 20h, sábado das 16h às
20h e domingo das 16h às 19h)
Classificação etária: Livre para todos os públicos
Lotação máxima: 125 lugares (dois para cadeirantes)
(Box)
Oficinas com mestres da cultural popular brasileira
Os mestres da cultura brasileira que estarão no show Na Eira, que acontece de 12 a 14 de abril no Teatro da Caixa, farão oficinas gratuitas nos dias 13 e 14 de abril, também no Teatro da Caixa. As inscrições acontecem de 26 de março a 4 de abril pelo email caixacultural08.pr@caixa.gov.br e a seleção será por ordem de inscrição. No sábado (13/04), das 11h às 13h, será a oficina de Maracatu de Baque Virado das 11h às 13h (30 vagas) com Mestre Walter França e Eder “O” Rocha. E das 14h às 16h acontecerá a oficina Caixa do Divino (20 vagas) com Mestra Zezé Menezes e Renata Amaral. No domingo (14/04) será a oficina Bumba Boi, das 11h às 13 h (30 vagas), com Mestre Humberto de Maracanã e Henrique Menezes.
Conteúdo das oficinas
Maracatu Nação
Mestre Walter França e Eder “O” Rocha
- Uma das manifestações remanescentes dos cortejos e coroações dos reis de Congo, o Maracatu Nação – ou de Baque Virado – é uma das principais expressões da tradição popular pernambucana. Feita no ciclo carnavalesco, tem forte conotação religiosa. Nações centenárias, como a Estrela Brilhante de Recife são ligadas a terreiros de Xangô, que fundamentam seus cortejos públicos. Em geral muito numerosos, os grupos são formados de diversas alas além da corte, o cordão de catirinas e o baque – a grande orquestra de percussão do maracatu. A oficina enfoca a música do Maracatu nação a partir do canto – Loas ou toadas – e a percussão, chamada de Baque, formado pelos instrumentos Tarol, Ganzá, Abê, Gonguê, Alfaias Marcante, Alfaia Meião e Alfaia Repique. São praticados os toques dos instrumentos nos diferentes baques – Arrasto, Parada, Martelo, Imalê e outros
Público-alvo: Músicos, arte-educadores, interessados em geral.
Duração: 2 horas.
Vagas: 30
Bumba Boi
Mestre Humberto de Maracanã e Henrique Menezes
- O Boi é tema de inúmeras manifestações populares em todo o Brasil. Do Boi de Mamão de Santa Catarina aos grandes espetáculos amazônicos do Boi de Parintins, de norte a sul do país encontramos gêneros populares que tem o Boi como figura central. No Maranhão, o Bumba Boi é um fenômeno sócio-cultural de enormes proporções. O auge do ciclo (o batismo do Boi) ocorre no dia de São João. Num ciclo longo e ritualizado, que compreende o nascimento do Boi após o carnaval, o batismo em 24 de junho e a morte em período que varia de agosto a dezembro, centenas de grupos de todo o estado movimentam um mercado cultural que compreende o lançamento de CDs, montagem de arraiais, confecção de instrumentos e indumentárias bordadas em mosaicos de miçangas e canutilhos. A oficina se concentra no bumba boi de matraca ou da Ilha, um dos sotaques mais conhecidos e que forma os maiores batalhões – grupos com mais de mil integrantes entre músicos e dançarinos. A oficina entrelaça como num jogo o canto, a dança, e principalmente o toque dos diversos instrumentos da orquestra do bumba boi (matracas, pandeirões, maracás e tambores-onça,) sempre embalados pelas toadas de Mestre Humberto.
Público-alvo: músicos, educadores e interessados em geral.
Duração - 2 horas
Vagas - 30
Caixa do Divino
Mestra Zezé Menezes e Renata Amaral
- Festa do Divino Espírito Santo é um ritual de religiosidade popular realizado em todo o Brasil. No estado do Maranhão ela tem a particularidade de ser conduzida por mulheres tocando tambores chamados caixas. São as Caixeiras do Divino. Estes festejos são ritualizados, tendo um calendário longo que compreende a abertura da Tribuna, buscamento, levantamento e derrubada do mastro, visitas aos Impérios e Mordomos, procissões, missa e a passagem de diversos cargos entre os festeiros. A oficina oferece trabalho orgânico de musicalização pela prática do canto e da percussão. Os cânticos do Divino, transmitidos oralmente há gerações, são assimilados com facilidade, resgatando a memória coletiva, onde a percussão simples e vigorosa conduz esta prática de conjunto de fácil resultado musical. Algumas cantigas propõem improvisações poéticas e vocais que são experimentadas durante a aula. A oficina é encerrada com a tradicional dança das caixeiras.
Público-alvo: interessados em geral.
Duração - 2 horas
Vagas- 20