sexta-feira, 4 de abril de 2025

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Trump, ciberataques e clima elevam riscos na economia mundial

Webinar da Britcham destaca estudo da Control Risks: mais incertezas globais, mas estabilidade na América Latina e Brasil


A economia mundial vive este ano um período de muita incerteza que eleva os riscos para as empresas e os negócios, mas a situação é menos alarmante na América Latina. A constatação é do RiskMap, levantamento anual realizado em todo o mundo há 50 anos pela empresa britânica Control Risks e que foi apresentado nesta terça-feira (1) em webinar promovido pela Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham).


De acordo com Christian Perlingiere, sócio da Control Risks para Brasil e Cone Sul, os riscos são associados, entre outros fatores, às iniciativas anunciadas por Donald Trump desde que assumiu a Presidência dos Estados Unidos. Na lista das causas de insegurança no mundo este ano, Perlingiere destaca as novas posturas dos EUA, que estão se tornando mais isolacionistas e com isso provocam maior instabilidade geopolítica.


Os focos principais da estratégia de Trump, no entanto, não estão na América Latina, o que, na avaliação do especialista, ajuda a colocar a região em situação de relativa estabilidade em relação aos riscos. Segundo ele, a exceção é a questão dos imigrantes ilegais – e mesmo assim, se restringe mais à América Central e ao México. “A América do Sul está recebendo menos atenção nesse ponto”, afirmou.


Quanto ao Brasil, Julia Souza, consultora de Risco Político da Control Risks, disse no webinar da Britcham que não há tanta preocupação em relação ao cenário geopolítico. Segundo ela, embora o presidente Lula tenha declarado apoio à Kamala Harris nas eleições norte-americanas, a opção brasileira foi pelo pragmatismo na política externa. A postura também foi de evitar o confronto em relação às tarifas impostas pelo governo Trump. “O presidente e o ministro Fernando Haddad deixaram claro que o país adotou posição de cautela em relação às sobretaxas e que não reagirá baseado apenas em rumores”, disse.


Souza também lembra que a América Latina como região (Brasil incluído) não deve ocupar papel central na nova diplomacia norte-americana. Como destaque, ela considera que é importante acompanhar o relacionamento dos EUA com a Argentina, já que Javier Milei aparentemente tem alinhamento automático com Trump.


No entanto, mesmo que Trump e Milei se mantenham muito próximos, a consultora acredita que os argentinos não poderão abrir mão de parcerias com a China. Na mesma linha, Christian Perlingiere prevê que o isolacionismo de Trump vai fortalecer o relacionamento do Brasil com os chineses. 


O webinar promovido pela Britcham tratou também do risco cibernético, cada vez mais presente no mundo. Nesse aspecto, Lucas Silva, diretor de Discovery + Data Insights da Control Risks, destacou a intensa preocupação causada pela concentração digital. “Existem poucos provedores de serviços nesse setor e as empresas ficam dependentes deles. Se acontece uma parada em um desses fornecedores, por exemplo, a situação tende a ficar caótica para os clientes”, apontou.


Silva lembra o caso que aconteceu em 2024 com uma fornecedora norte-americana de cibersegurança, que teve uma parada e causou dores de cabeça a vários setores, incluindo a paralisação de aeroportos. Não foi um ataque cibernético, mesmo assim causou perdas calculadas em US$5,2 bilhões.


A preocupação com os riscos dessas situações tem aumentado, segundo o especialista, porque cresce o número de “hackers” financiados por governos, que deixam de lado antigos acordos de não-agressão. Ele também recorda que a crescente dependência de poucos provedores se somou às novidades que surgiram rapidamente no setor, como a computação em nuvem e a Inteligência Artificial. As inovações deixaram as vulnerabilidades mais evidentes e ampliaram o espectro dos ataques, que passaram a acontecer também a cadeias de suprimento. 


Outro fator de aumento dos riscos cibernéticos, disse o diretor de Discovery + Data Insights da Control Risks, são as respostas ineficazes dos governos, que não conseguem acompanhar a rápida evolução tecnológica dos “hackers”. Para o especialista, esse é um desafio “completamente novo”, trazido pela adoção de novas tecnologias.


O Brasil figura entre os países mais ameaçados, salientou Lucas Silva: “somos o segundo país que mais sofre ataques cibernéticos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. São 700 milhões de tentativas no ano, o que equivale a um ataque por minuto”.


No webinar da Britcham, ele também ressaltou que o quadro é mais grave porque as empresas que atuam no Brasil, na maioria, não se atentam a questões de segurança cibernética, embora muitas implementem tecnologias em suas atividades. “Há pouca atenção à ‘segurança por design’, que vai desde o primeiro momento de implementação de uma tecnologia até seu ciclo de vida contínuo”, ponderou.


Além da cibersegurança, os executivos da Control Risks salientaram durante o webinar que o crescimento do crime organizado e os eventos climáticos elevam de maneira significativa os riscos para os negócios. 


Souza recorda que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima a destinação de 1,3% do PIB brasileiro à extensão dos danos causados pelo clima extremo no país. Ela salienta, também, que o crime organizado se expandiu rapidamente no Brasil, já que há 20 anos ele se concentrava principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo, e atualmente se estende para o Nordeste e para a Amazônia – situação semelhante ao que se observa no México.


O webinar foi organizado pelo Comitê de Riscos & Seguros da Britcham – Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil.


Sobre o Britcham:


A Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil é uma associação nacional sem fins lucrativos, cujo objetivo é incrementar as relações de negócios entre Brasil e Reino Unido, promover debates sobre o ambiente de negócios e atuar no desenvolvimento de oportunidades de negócios para as comunidades empresariais britânica e brasileira.

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