Peça com elenco estelar aconteceu pela primeira dentro de um teatro na noite da ultima segunda-feira (24), na abertura da 33ª edição do Festival de Curitiba.
Orã Figueiredo, Leandro Santanna, Cláudia Abreu e Deborah Evelyn. Foto: Annelize Tozetto.
Eles estrearam em novembro do ano passado, em São Luís do Maranhão, e a partir daí viajaram por dez cidades de quatro estados, num ônibus que serve ao mesmo tempo de meio de transporte, cenário e camarim – e que quebrou algumas vezes pelo caminho.
Em uma dessas paradas, chegaram a reunir três mil pessoas em torno de uma praça. “Existe uma demanda, uma carência enorme no interior do Brasil. Não se gosta só de música. Se você oferece alguma coisa, as pessoas vão. É só abrir uma janelinha”, comentou o ator Orã Figueiredo, em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, 24, na Sala de Imprensa Ney Latorraca, no Hotel Mabu.
“É neste momento que eu cumpro a minha função como ator, fora do mercado, fora da lógica da minha carreira. Eu amo o público, tenho um carinho muito grande por ele. Entro em cena querendo abraçar cada um ali.”
Para Leandro Santana, a peça quebra a “ideia estranha” de que o teatro é algo “encastelado”, possível de ser acessado por poucas pessoas. “Ninguém precisa pensar com que roupa vai ou como deve se comportar. Por isso, ‘Os Mambembes’ fala do que realmente é importante no teatro.”
Em cada uma das sessões, o elenco ganhava o acréscimo de um ator local, e ainda fazia questão de promover rodas de conversa com os coletivos de cultura do lugar. “É uma aventura incrível, muito rica”, definiu Deborah Evelyn. “E a gente também consegue perceber como as dificuldades de artistas brasileiros em diferentes lugares são praticamente idênticas”, continuou o colega Leandro Santana.
“Ali, na praça, encontramos pessoas que pela primeira estão entrando em contato com o teatro”, continuou Cláudia Abreu. “E estamos desprotegidos, de uma maneira positiva. Pode chover, alguém gritar, passar um bêbado, um cachorro.”
Por ora, ninguém ainda foi agredido por um cão ou mordido por um ébrio, mas o patrocínio do Instituto Cultural Vale, que financiava as viagens pelo “interior, do interior, do interior” acabou. Nesta noite, o espetáculo acontece pela primeira vez em um palco, como parte da abertura da 33ª edição do Festival de Curitiba. Depois, segue pro Rio de Janeiro e para São Paulo, também no tablado.
“Estamos, além de muito nervosos, muito honrados. Eu participei do início do Festival de Curitiba e é muito bom ver como ele cresceu lindamente”, relembra Orã Figueiredo. “A peça é uma comédia, a gente quer alegrar o público. É como uma cerveja gelada.”
O sonho, porém, é conseguir dinheiro para voltar a circular pelos rincões perdidos do Brasil profundo. E surpreender um pessoal que vê um elenco tão estelar – que ainda conta do Paulo Betti, Julia Lemmertz e Caio Padilha – chegar numa cidadezinha. Em Santa Inês, no Maranhão, por exemplo, um pai não acreditou quando a filha disse que ia pegar carona numa moto para ver a atração na praça da cidade. Desconfiado, o patriarca desaconselhou. “Não vai não, minha filha. É mentira. Eles não vêm aqui.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário