Até o final do ano, regiões periféricas da cidade de São Paulo ganharão novos coloridos. As artistas Mimura Rodriguez e Amanda Pankill apoiarão a arte de sete grafiteiras que tiveram suas obras selecionadas pelo programa Museu de Arte de Rua (MAR), da Prefeitura de São Paulo, para estampar grandes muros com grafites que exalam cultura.
O apoio só será possível graças a um ato de resistência de ambas contra o que chamam de "atravessadores" deste meio - uma referência a Carol Itzá, artista e pesquisadora que usa o termo. Visando a independência dos artistas de rua, Mimura e Pankill decidiram pôr a mão na massa e criar uma produtora própria, a fim de permitir que os grafiteiros "tomem para si o espaço e essa fatia do mercado que é deles por direito".
"A ideia surgiu de uma necessidade urgente que sentimos de sermos autônomas às produtoras que atuam no meio da arte urbana. Achamos que falta transparência, valores justos e priorizar os artistas", comenta Pankill. "É importante que o dinheiro gire entre nós e não caia na mão de quem só enxerga nosso meio como mais um mercado a ser sugado. Prezamos pelo crescimento, profissionalização e aprimoramento da nossa classe".
Com anos de experiência e centenas de obras no portfólio, ambas contam que já tiveram experiências "bem negativas" com produtoras atuantes no cenário. "Percebemos que muitas empresas se aproveitam do fato da maioria dos artistas serem leigos nos processos de produção executiva e de campo e acabam levando vantagem", fala Pankill.
Depois de se conhecerem pintando um grafite com amigos em comum, elas perceberam que tinham a mesma angústia. Entre um grafite e outro e uma primeira produção própria, entenderam que a solução seria os próprios artistas se aprimorarem para cumprir este trabalho com seus pares, priorizando remuneração justa ao grafiteiro, uma produção que reduz custos e é transparente à classe. E assim, nasceu a "Seiva Cultural".
Como uma analogia à seiva que alimenta as plantas, levando todas as substâncias importantes para a vida delas, as artistas escolheram este nome para o projeto por serem, antes de produtoras, também artistas, exatamente iguais àqueles que vão produzir.
"Fazemos parte de um mesmo organismo, somos parte integrante do mesmo 'corpo' onde vamos atuar, que é o meio cultural que queremos nutrir e fazer com que ele fique cada vez mais rico", explica Mimura sobre a missão e visão da produtora. "É retroalimentar a nossa própria 'máquina', impulsionando nosso crescimento e dos nossos iguais", completa.
As artistas têm a expectativa de que a produtora cubra para outros grafiteiros uma ausência que ambas sentiram quando começaram e avançaram no mundo da arte urbana.
"Muita gente ganhou e ainda ganha muito dinheiro por conta da falta de expertise dos artistas em administrar os próprios trabalhos. Falta um olhar de artista, alguém que enxergue o artista como um trabalhador, mas também como quem desempenha o que de mais valioso vai resultar de qualquer trabalho: a arte", pondera a grafiteira Pankill.
Empoderando artistas mulheres
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