Vidro Fumê é o que considero um filme processo. Digo isso porque desde a etapa de desenvolvimento até à sua finalização, ele passou por grandes transformações, numa trajetória de amadurecimento da ideia central e da abordagem empregada para tratar de um assunto tão delicado.
O filme nasceu como a anatomia de um crime, com a proposta de esmiuçar a violência sofrida por uma turista americana de passagem pelo Rio de Janeiro a fim de chamar a atenção para um problema estrutural que afeta milhões de mulheres em todo o mundo.
Entretanto, com as gravações iniciadas antes da Covid e o hiato gerado até que a segunda etapa de filmagens fosse possível, a história ganhou novos rumos com o fortalecimento de personagens até então secundários e o que as suas vozes representam.
Entendi que apesar de partir da história do crime real reencenado pela personagem Mary, havia todo um entorno ainda com potencial de ser aprofundado, com igual relevância para a narrativa e que proporcionaria um retrato mais equilibrado sobre a temática da violência contra as mulheres e a questão da desigualdade social - dois pontos-chave que sempre tencionei abordar, porém sabia que não poderia fazê-lo sozinho.
Com a colaboração da roteirista brasileira Luciana Bezerra, ela mesma mulher, negra e ativista, Vidro Fumê passou a ser enunciada a partir do lugar de fala necessário para contar esta história, concluindo-se como uma obra ainda mais completa, profunda e relevante do que as intenções iniciais apontavam. Faço, então, o convite para que assistam ao filme tendo em mente a estruturação de sua mensagem principal através de um período de produção dilatado, entrecortado pelas dificuldades impostas pela pandemia, e a construção de um duplo protagonismo que dá força à narrativa ao unir a vivência de mulheres com backgrounds completamente diferentes, mas que estão sujeitas ao mesmo tipo de violência.
Pedro Varela é um diretor e roteirista português. Começou como ator aos dezesseis anos, tendo trabalhado por mais de quinze anos em teatro, cinema e TV. Em 2011, adaptou e dirigiu a série da Fox Tempo Final. É também o criador, escritor e realizador da aclamada e premiada série Os Filhos do Rock (2013), e da série A Filha da Lei (2017), ambas para o canal português RTP.
Nos cinemas, A Canção de Lisboa (2016), uma comédia romântica escrita e dirigida por Varela, foi o filme mais visto do ano em Portugal.
Regressando à TV, em 2020 Pedro lançou a série Esperança, com o recorde de audiência na estreia pela SIC, e premiada como melhor projeto de ficção nos Globos de Ouro de 2021.
Em 2022 dirigiu a série Santiago, uma coprodução entre a Blanche Filmes e a 313 Features para a OPTO SIC.
Atualmente trabalha em Azul, uma série original na qual assina a autoria e direção, outra parceria com o canal SIC, e dirige também a série documental Chasing Rhinos, em coprodução com a Red Bull Studios que aborda o fenômeno do surf de ondas gigantes na Nazaré, em Portugal.
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