Em meio a mais uma onda de calor, Greenpeace Brasil alerta para falta de políticas no país voltadas às populações na linha de frente da crise climática.
Pesquisa recente do Greenpeace Brasil com Ipec mostrou que brasileiros mais pobres são os que mais temem a ocorrência de eventos climáticos extremos em suas cidades
São Paulo, março de 2024 – Março ainda não acabou e o Brasil já enfrenta a sua terceira onda de calor em 2024, segundo alerta do Inmet. No ano passado, foram nove ondas como esta, com temperaturas igual ou superior aos 40º Celsius. Como os cientistas têm alertado, períodos de calor extremo serão cada vez mais comuns no país e em todo o mundo por causa da crise climática.
O calor não é questão apenas das ciências climáticas, contudo, mas também das sociais, uma vez que as temperaturas impactam de maneira desigual as populações. Os efeitos das ondas de calor e temperaturas altas impactam de forma desproporcional as populações ribeirinhas, pescadores e pescadoras, comunidades indígenas, quilombolas, população preta, periférica e trabalhadora. Estas populações também são as primeiras a sofrerem as consequências e as que possuem menos ferramentas para reagir.
“As populações mais empobrecidas têm menos condições de enfrentar os eventos climáticos extremos, incluindo as ondas de calor. O impacto das altas temperaturas é sentido de formas diferentes pela população, pois as possibilidades de se proteger e enfrentar o calor estão diretamente ligados à classe social, raça, gênero e como determinados territórios têm acesso às políticas públicas estruturais, como acesso à água, áreas verdes, saúde e renda", diz Igor Travassos, porta-voz da frente de Justiça Climática do Greenpeace Brasil.
Travassos lembra que 33 milhões de pessoas sequer têm acesso à água tratada no país, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Além disso, dados do IBGE de 2022 mostraram que enquanto 26,7% dos brancos têm ar-condicionado em casa, a proporção de pretos e pardos com acesso a esse bem é de apenas 12,6% e 15,3%, respectivamente.
“O Brasil precisa de políticas, ações e medidas de adaptação às mudanças climáticas para enfrentar esse cenário de emergência climática que já está posto. Esta não é a primeira e não será a última onda de calor que vamos enfrentar daqui pra frente. É urgente a reconstrução do Plano Nacional de Adaptação (PNA) para que estados e municípios também implementem seus planos locais, assim como é necessária a participação das pessoas mais impactadas na elaboração dessas políticas. O diagnóstico dos riscos e problemas enfrentados pelos territórios já são de conhecimento das pessoas que ali estão, é preciso que o poder público construa soluções com quem vivencia diariamente os efeitos das mudanças do clima”, diz Travassos.
Estudo recente do Greenpeace Brasil e Ipec, divulgado em outubro de 2023, mostra que 62% dos brasileiros reconhecem que pessoas pobres são as mais afetadas por eventos climáticos extremos. Os dados também apontam que 72% das pessoas pretas confiam pouco ou não confiam nas gestões municipais para protegê-las dos impactos de desastres causados pelas mudanças climáticas, enquanto entre os brancos o percentual é de 63%.
O Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), elaborado em 2016 a toque de caixa e atualmente defasado (seu prazo expirou em 2020), não considera as periferias das cidades como territórios sensíveis. O Greenpeace Brasil defende a renovação urgente do PNA, com ampla participação da sociedade civil e elaboração de medidas que promovam a justiça climática, protegendo as parcelas da população que estão mais expostas aos riscos. Recentemente, a organização entregou ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), o abaixo-assinado Basta de Tragédias, que pede aos governantes urgência de adaptação frente aos eventos extremos que seguem afetando cidades de diferentes regiões no Brasil.
Sobre o Greenpeace Brasil
O Greenpeace Brasil é uma organização ativista ambiental sem fins lucrativos, que atua desde 1992 na defesa do meio ambiente. Ao lado de todas as pessoas que buscam um mundo mais verde, justo e pacífico, a organização atua há mais de 30 anos pela defesa do meio ambiente denunciando e confrontando governos, empresas e projetos que incentivam a destruição das florestas.
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