Há dez anos, era plantada a semente do Coletivo Inclusão.
Com uma forte rede de pessoas e empresas parceiras, associação promoverá festival de inclusão em maio.
Pessoas com deficiência costumam sofrer duplamente. Sofrem com as limitações de sua condição e depois, muitas vezes, com o preconceito e a invisibilidade que a sociedade lhes impõe.
Há pouco mais de dez anos, em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, um grupo de pessoas começou a se movimentar para alterar essa realidade por meio de um poderoso instrumento: a cultura. Em comum, elas acreditavam que a participação de pessoas com deficiência na sociedade não é um privilégio, mas um direito. E para garantir a inclusão desses cidadãos, arregaçaram as mangas.
Oficinas de teatro foram montadas para atender aos alunos da APAE local, abrindo espaço para que eles mostrassem as suas potencialidades aos familiares e à comunidade. A assistente social Marcia Miranda, uma das idealizadoras do Coletivo Inclusão, lembra que as oficinas de teatro em pouco tempo transformaram a rotina na APAE de Fazenda Rio Grande. Para que os alunos da manhã pudessem participar das aulas, eles ficavam na escola, o que mobilizava toda a equipe para preparar a alimentação tornando o dia ainda mais especial. “O dia mais esperado da semana passou a ser a quinta-feira da aula de teatro. Os familiares ficavam emocionados ao testemunhar a transformação dos alunos. Aos poucos, os profissionais que trabalhavam com eles passaram a relatar a melhora terapêutica e de aprendizado”, conta Marcia.
A iniciativa gerou duas necessidades imediatas: buscar qualificação para a equipe - por meio de cursos e treinamentos mais aprofundados ao público atendido - e conseguir fontes de recursos para continuar e ampliar os atendimentos.
O primeiro projeto aprovado pela Lei Rouanet do Governo Federal consta do Diário Oficial da União de 27 de novembro de 2013. A semente havia germinado e começava a construção de uma rede potente de apoiadores formada por indivíduos e empresas comprometidas com a inclusão das pessoas com deficiência. Em junho de 2017 o Coletivo Inclusão foi constituído legalmente sob forma de associação sem fins lucrativos.
As oficinas cresceram em variedade de temáticas e locais de atendimento. Às aulas de teatro somaram-se ballet, pintura, coral, musicalização e a introdução do esporte com a capoeira, o judô e um pioneiro projeto de equoterapia. Nas APAES de Curitiba, São José dos Pinhais, Mandirituba, Fazenda Rio Grande, Paranaguá e Passo Fundo (RS) são atendidas 800 pessoas por semana atualmente. A equoterapia funciona com a parceria do Jockey Club de Fazenda Rio Grande e com o patrocínio da iniciativa privada e atende cem pessoas semanalmente. “Essa atividade exige a participação do corpo inteiro. Por isso, contribui para a força muscular, o relaxamento, a coordenação motora e o equilíbrio. Ela usa o movimento do cavalo para fazer a terapia e a partir dessa vivência com o animal e a equipe multidisciplinar promove um desenvolvimento global na pessoa que está fazendo a terapia. O ganho é observado no âmbito escolar, da família e em outros ambientes a qual está inserida”, afirma a equitadora Caroline Rossi, responsável pelo projeto de Equoterapia do Coletivo Inclusão.
Reencantando a vida
Infelizmente, deficiência e vulnerabilidade social muitas vezes caminham juntas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 80% das pessoas com deficiência vivem em regiões empobrecidas do planeta. Desta forma, o Coletivo Inclusão também oferece atividades assistenciais, de saúde e de geração de renda por meio do projeto Reencantando a Vida. “Buscamos proporcionar para as famílias, especialmente para as mães que muitas vezes são as responsáveis pela família, que elas tenham um reencantamento com a vida. Por isso o nome do projeto é ‘Reencantando a Vida’. Queremos levar esse apoio emocional e também a descoberta dos seus próprios talentos. Essas pessoas ficam mais fortes para uma vida mais equilibrada e ao mesmo tempo se tornam mais autônomas e empoderadas”, afirma André Rigoni Caminski, um dos gestores do Coletivo.
Rede colaborativa
O Coletivo Inclusão trabalha em estreita colaboração com organizações parceiras que têm ideias semelhantes, seja a partir de mecanismos de renúncia fiscal, seja pelo apoio direto de pessoas físicas e jurídicas. A rede de apoiadores têm viabilizado o crescimento sustentável dos atendimentos e a formulação de novos projetos, como o Festival da Inclusão, que será realizado em maio de 2024.
Atualmente, o Coletivo Inclusão atua em onze instituições no estado do Paraná e do Rio Grande do Sul com o suporte de 41 colaboradores. A organização fechou 2023 com 40 mil atendimentos no ano.
Para Ana Paula Pelanda, diretora do Grupo Pelanda, patrocinadora do projeto de Equoterapia, a parceria de mais de três anos com o Coletivo Inclusão estabeleceu uma relação de confiança e admiração. “Nós ficamos encantados com a maneira única com que o Coletivo trata a criança com deficiência, isso toca muito o nosso coração e só fez fortalecer a nossa parceria. É uma instituição séria que visa o bem-estar das crianças carentes e com deficiência. Nós confiamos muito no trabalho deles’, afirma.
Repórter especial
Mais do que números, o Coletivo Inclusão tem promovido uma pequena revolução onde se instala, mudando vidas e expectativas. Além de oportunizar o desenvolvimento físico e comportamental das pessoas atendidas, a associação incentiva as apresentações culturais e esportivas com a participação de familiares e público em geral, como uma forma de mostrar as potencialidades e talentos dos alunos. Afinal, a inclusão requer o respeito às diferenças e a mudança estrutural do olhar e das atitudes de todos e todas ao redor.
Uma das histórias de vida impactadas pelo Coletivo foi a de Luiz Fernando Glovatiski Pereira Lacovicz, de 23 anos, que tem uma deficiência intelectual moderada. Morador de Fazenda Rio Grande, ele conheceu a associação há alguns anos nas atividades da APAE de sua cidade. Das oficinas de teatro pulou para a capoeira e o judô. O envolvimento cresceu, até que no início de 2023 foi convidado para colaborar como repórter do Coletivo para matérias publicadas nas redes sociais da instituição. O jovem acompanha as várias atividades, entrevista e faz reportagens sobre pessoas atendidas. “Fazemos por partes, porque eu não consigo memorizar tudo de uma vez. Me sinto muito bem, mais antenado, mais produtivo. E agora estou me soltando mais. Até estou me arrumando melhor”, conta ele, que já faz planos para ser jornalista.
Luiz conta que antes de ingressar definitivamente na APAE passou por situações de bullying em escolas regulares. “Foi uma sensação horrível. O coletivo entrou na minha vida e me abraçou, me estendeu a mão, estou gostando muito de estar com eles. As pessoas precisam olhar para as pessoas com deficiência com mais amor e empatia”, conclui o rapaz.
Saiba mais
@coletivoinclusao
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Equipe Blog Leite Quentee news