Flip 2023 e uma reflexão sobre o papel do escritor
*Lilian Cardoso
A Flip 2023 foi muito mais do que um festival literário convencional. Além das poesias, saraus, bate-papos e sessões de autógrafos que encantaram os amantes da literatura, a programação abordou temas cruciais para o mercado livreiro. Entre debates e reflexões, destaco minha primeira participação em mesas que exploraram o universo do marketing literário, um aspecto essencial para garantir que as obras alcancem seu público de maneira efetiva. Apesar de ser visto como um tabu para quem é da alta literatura, todos já sabem que, se não encararmos a divulgação dos livros como parte deste processo, a obra deixa de chegar às mãos do nosso principal convidado: o leitor.
Com a Casa Escreva, Garota lotada, participei da mesa "Personal Branding para Escritores: como encontrar sua voz literária", na qual dividi o palco com a escritora catarinense Marina Hadlich. Discutimos a importância dos autores desenvolverem identidade única, a "marca pessoal" que os diferencie no vasto cenário literário. Afinal, o livro não é apenas uma obra impressa; é uma voz que ecoará nos corações dos leitores. Marina é um grande exemplo de autora que faz o que chamo de “marketing do bem”. Seja na sessão de autógrafos ou andando pela feira, ela se orgulha em vender e falar de sua literatura, movimento que deixa os novos autores e autoras mais confiantes para levar a obra a mais pessoas.
Participar da programação da Casa PublishNews também foi uma experiência enriquecedora. Na mesa "Como fazer autores e livros se destacarem na multidão", tive a oportunidade de compartilhar insights ao lado de colegas do mercado que, assim como eu, se dedicam a espalhar literatura. No debate com Daniel Lameira, Vanessa Passos e mediação de Tatiany Leite, falamos das nossas experiências em defesa da promoção do livro ao entendê-lo também como um produto. Escritores e editores esperam resenhas e elogios, sim. Porém, mais do que isso, precisam de vendas, afinal, por trás da elaboração de uma obra, diversos profissionais estão envolvidos: revisor, designer, diagramador, tradutor, leitor crítico (sem contar com o custo de gráfica e logística). A conta precisa ser paga.
Neste encontro tive a oportunidade de abordar a importância de o autor estar em eventos literários, como a própria Flip e outras bienais. Abri o coração sobre o erro que cometi ao ficar por anos somente nos bastidores do mercado, e como trabalhar no meu próprio marketing pessoal me ajudou aumentar em 400% o faturamento da minha agência, que divulga em média 100 livros por mês de editoras e autores. Hoje todos nós precisamos divulgar mais o nosso trabalho se desejamos ser reconhecidos. É isso que fazemos há 14 anos para os clientes da LC e ensino também aos meus alunos. Os mercados fazem propaganda de seus produtos o tempo todo; por que não falar de nossos livros?! Precisamos furar esta bolha e, mais do que isso, desmistificar o marketing.
A reflexão que permeou todas as mesas em que participei é clara: não podemos pensar em obras sem considerar como vamos alcançar e formar novos leitores. O marketing não é apenas uma ferramenta, é a ponte que conecta a voz do autor ao coração do público. É preciso ensinar estes escritores a se conectarem de forma autêntica em cada interação e evento literário.
Em última análise, a Flip 2023 não apenas celebrou a literatura, mas, por meio da programação paralela, também proporcionou um espaço valioso para discutir os desafios e oportunidades do mercado literário contemporâneo. Participar dessas mesas e contribuir para o diálogo sobre marketing, branding pessoal e conexão autêntica com os leitores foi uma experiência enriquecedora que influenciará minha abordagem como autora e empresária do mercado do livro.
Daqui, sigo incentivando autores e editores a “abrirem o livro” para que suas obras cheguem a mais e mais leitores.
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