Autor paulistano comenta os processos criativos em torno do romance-diário, que une experiência pessoal e ficção partindo da relação com o tabagismo
Juliano Costa (@julianofmcosta), músico, escritor, marceneiro e fumante paulistano, debruçou-se sob um diário para relatar sua rotina enquanto registrava os primeiros dias de uma vida sem nicotina. Durante o processo, se encontrou mais empenhado em sua escrita que na tentativa de deixar o cigarro. Ao longo das páginas e dos dias, a dúvida nasceu: escrever para parar de fumar ou fumar para continuar escrevendo? Daí surgiu o seu primeiro livro, “Fumo” (Editora Patuá, 120 páginas).
Escrito como um romance em forma de diário, a obra tem como principal tema a relação do personagem com o ato de fumar e o domínio exercido por esse objeto sedutor na vida do fumante, desdobrando-se também em assuntos como amizades, trabalho, rotina e sonhos.
Mesmo fictício e propositalmente fantástico, o livro tem passagens familiares a todos que já tiveram um cigarrinho como companhia. O diário acompanha o protagonista ao longo de 30 dias. Nesse mês, ele registra suas agonias e pirações a partir do dia em que decidiu parar de fumar. O herói, assim como seu criador, se encontra fascinado por conversar com o diário a respeito do cigarro e passa a questionar a escolha de rejeitar o vício. Sem conseguir se livrar da sombra projetada pela falta de nicotina, passa a enxergar cigarros todos os segundos de seu dia. Ele sonha acordado e traz à tona recordações de momentos pitorescos que sempre envolvem o tabaco enrolado num papel com filtro. De preferência, um Marlboro Vermelho, favorito do personagem.
Confira a entrevista completa com o autor:
O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita?
Em 2021 tentei parar de fumar e li que uma estratégia seria criar um diário sobre esses dias, para escrever sobre o que estava sentindo a cada dia de abstinência e marcar o progresso da tentativa. Comecei fazendo isso mas no quarto dia sem fumar, estava muito mais interessado nesse diário do que de fato na tentativa de parar. Eu passava o dia todo pensando em o que poderia escrever no diário o que atrapalhou o processo de parar de fumar. Então decidi voltar a fumar e continuar escrevendo sobre o tema.
Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
O principal tema do livro é a relação do personagem com o ato de fumar. E os desdobramentos disso em relação a amizades, trabalho, rotina, sonhos.
Por que escolher esses temas?
O livro foi uma consequência da minha relação com o cigarro. Era um momento em que eu estava muito vinculado ao ato de fumar e à tentativa de parar de fumar. Era o único tema possível.
Que livros influenciaram diretamente a obra?
Não há um específico, mas livros em formato de diário foram importantes para a obra. Na verdade, não necessariamente diário, mas livros nos quais o personagem principal narra em primeira pessoa os acontecimentos recentes. Como por exemplo o “Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva. Mas livros de contos e crônicas também influenciaram muito. Como o “Primeira pessoa do singular”, do Haruki Murakami.
Quais são as suas principais referências como autor?
Minhas principais influências literárias são Marcelino Freire, André Sant’Anna, Antonio Prata, Eliana Alves Cruz, entre outros que conseguem usar a linguagem de maneira que soe natural.
Como você definiria seu estilo de escrita?
Eu tento escrever da maneira mais simples possível.
Como é o seu processo criativo?
Eu escrevo principalmente quando não estou escrevendo. Quando estou fazendo alguma outra tarefa, sem perceber, começo a desenvolver um texto mentalmente. Nessa hora eu corro pra anotar pra não esquecer e volto mais tarde para lapidar a ideia inicial.
Como a música se relaciona com seu processo criativo de escrita? Como você diferencia o processo de composição de uma música com o de elaboração de uma história?
Na música, meu processo de composição está muito ligado à melodia. Eu geralmente começo com uma melodia e, a partir dela, tento desenvolver uma letra que faça sentido com a métrica e o clima propostos pela melodia.
Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Escrevo desde os 20 anos, mas nunca gostava do que eu escrevia. Em 2012 fiz um curso com o Marcelino Freire e isso mudou minha relação com a escrita. Desde então venho fazendo algumas experiências para achar um jeito legal de escrever.
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Agora estou participando do livro “Leia esta canção: Beto Guedes”, um livro de contos inspirados no disco do Beto Guedes da editora Garoupa. Além disso, estou começando dois livros ao mesmo tempo, o que já percebi que não é uma boa ideia, então acho que vou ter que escolher um deles para seguir.
Adquira a obra na loja da Editora Patuá:
https://www.editorapatua.com.br/fumo-romance-de-juliano-costa/p
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