Potência transformadora de Hélio Oiticica chega ao CCBB Belo Horizonte
Hélio Oiticica – Delirium Ambulatorium exibe mais de 80 trabalhos marcados pela experimentação e performance, que apontam a transformação na obra e no pensamento do artista na virada entre as décadas de 1950 e 1970; a entrada é gratuita com retirada de ingresso no site: ccbb.com.br/bh
Informações para a imprensa: www.agenciagalo.com/oiticica
Capas-Parangolés | 2023.
Foto: Diego Bressani
BELO HORIZONTE, DEZEMBRO DE 2023 — Uma exposição inédita de Hélio Oiticica, artista brasileiro que marcou a história da arte mundial com seu trabalho potente e performático, chega ao Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH) em 06 de dezembro. Delirium Ambulatorium apresenta instalações, pinturas, esculturas e manifestações que influenciaram gerações de artistas plásticos, músicos e pensadores. A exposição fica em cartaz até 05 de fevereiro de 2024, com visitação gratuita de quarta a segunda, das 10h às 22h.
Com curadoria do pesquisador Moacir dos Anjos, a mostra abrange o trabalho de Oiticica desde os anos 1950, o período radicado em Nova York, até suas últimas produções nos anos 1970. São projetos, escritos, objetos, pinturas e instalações, como Bilaterais; Relevos espaciais; Núcleos; Penetráveis; Bólides e Capas-Parangolés (réplicas para serem experienciadas pelos visitantes).
Delirium Ambulatorium (1978), obra-conceito de Oiticica que dá nome à exposição, é um misto de proposição e performance, um “estado de invenção”, que coloca no centro de suas atenções a ideia de deambular na cidade como estopim crucial da invenção artística. A exposição apresenta o artista por meio de um dos últimos movimentos de sua trajetória.
“Talvez esta seja a expressão mais radical da tentativa do artista de quebrar as distinções entre ateliê e rua, e, principalmente, entre artista e público, acionando o segundo como participante na atividade criadora e instaurando uma forma de expressão genuinamente disseminada e coletiva”, afirma o curador, Moacir dos Anjos.
Instalada nas galerias do terceiro andar e no pátio central do CCBB Belo Horizonte, a mostra extrapola as barreiras dos espaços expositivos convencionais e convida os visitantes a vivenciar as obras de Oiticica com todos os seus sentidos e, assim, honrar o artista que uma vez disse: “o museu é o mundo”. O acervo demonstra a complexidade do pensamento do artista e a sua afiada percepção da identidade brasileira. O patrocínio é do BB Asset Management e a produção é da Tuîa Arte Produção.
AS OBRAS: ATIVAÇÃO E LIBERDADE
A mostra traz produções de Oiticica inseridas no contexto do neoconcretismo, como na série Bilaterais (placas de madeira recortadas em formas irregulares, pintadas de uma única cor e suspensas no espaço); os Relevos Espaciais (semelhante aos anteriores, mas com volume); os Núcleos (placas pintadas, quadradas ou retangulares, penduradas do teto de modo a criar espaços de cor); os Penetráveis (cabines feitas de planos de madeira pintada que podem ser adentradas); e os Bólides (objetos feitos de materiais variados que servem de depositário para outros tantos, destacando a fisicalidade da cor no mundo).
Capas-Parangolés | 2023.
Foto: Diego Bressani
Os Metaesquemas partem de formas geométricas (como as primeiras obras de Oiticica), constituídas agora por cores mais sólidas, organizadas de maneira cada vez menos homogênea na superfície. Quase como um desdobramento, os Monocromáticos sobrepõem forma e suporte, possuem apenas uma cor que ocupa toda a superfície, evidenciando o formato retangular do papel como uma das formas geométricas da pintura. Esses são os últimos trabalhos dele a se relacionarem com a parede.
A mostra também traz os famosos Parangolés, invenção do artista, fruto de suas andanças pela capital carioca e pelo Morro da Mangueira. São “capas protesto”, como eram chamadas por Oiticica, carregadas de adornos e frases-lema, como “da adversidade vivemos”, “incorporo a revolta” e “estamos famintos”.
Esse ambiente também apresenta a experiência coletiva de criação exibida no evento Apocalipopótese (1968) – neologismo inventado pelo artista Rogério Duarte combinando as palavras apocalipse, hipótese e apoteose. No cerne, está o conceito de Suprassensorial, elaborado por Oiticica em 1967, conceituação que propõe “exercícios criativos” para capacidades sensoriais. Na parte que lhe cabia na programação do evento, Hélio Oiticica convidou outros artistas e apresentou um conjunto de Parangolés, usados por ele mesmo, Frederico Morais e um grupo de sambistas da Mangueira e de outras escolas de samba, como Portela, Vila Isabel e Salgueiro.
CIDADE E POESIA
Um dos espaços é dedicado aos acontecimentos poético-urbanos criados pelo artista, como o trabalho Devolver a Terra à Terra (1979). Sua primeira versão foi exposta no Kleemania, evento concebido como homenagem ao centenário de nascimento do Paul Klee (1879-1940), uma das maiores influências de Oiticica. Nessa ação, o brasileiro coletou terra escura de outra parte da cidade – Jacarepaguá (RJ) – e a transportou até o aterro de lixo do bairro do Caju, depositando-a ali.
Ready Constructible n.1, 1978
Foto: Diego Bressani
O espaço reúne ainda Fragmentos-Tokens, pedaços materiais da cidade coletados nas "andanças de vadiagem", principalmente no final da década de 1970, quando Oiticica retorna ao Rio de Janeiro após sete anos em Nova York. Entre as obras está Manhattan Brutalista (1978) — pedaço de asfalto recolhido entre os escombros das obras do metrô na Avenida Presidente Vargas, por onde desfilam as escolas de samba nos carnavais, e que lembra desenho cartográfico da região nova-iorquina. A obra compõe, junto com outros pedaços de calçada da mesma avenida, um mosaico de pedras e cimento, um "jardim transformável", nomeado de Av. Presidente Vargas - Kyoto/Gaudí (1978), em homenagem a lugares pelos quais tinha especial interesse: os jardins da cidade japonesa e as construções feitas pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí.
“Hélio surge demencial, imantado pela reverberação de uma aparência de bacante, dançando, girando, uma mênade enlouquecida (...) gargalhava das obras de arte expostas ao redor pelos outros artistas (...) era a chalaça com a pretensa seriedade dos artistas comprometidos com o mercado de arte” — relembra Waly Salomão
A mostra faz alusão a um episódio particular de Oiticica. Em 1978, ele participou de um evento organizado pelo artista Ivald Granato em São Paulo, intitulado Mitos Vadios, que tinha intenção de protestar coletivamente contra a I Bienal Latino-americana de São Paulo – organizada sob o título Mitos e Magia, dada a suposta “exotificação” que a mostra fazia da região.
HÉLIO OITICICA
Hélio Oiticica (1937-1980) começou sua carreira como artista ainda jovem, aos 17 anos. Considerado a inspiração máxima para o movimento da Tropicália nos anos 60, destacou-se pela produção de caráter experimental e inovador, que pressupõe a participação do público. O artista criou, ao longo de uma vida breve e fecunda, uma série articulada – um Programa, como costumava dizer – com construções que desafiam noções convencionais sobre o que é arte. Esse percurso foi marcado por sofisticadas elaborações de conceitos que acompanhavam sua produção de trabalhos.
Circuito Liberdade
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
SERVIÇO
Hélio Oiticica - Delirium Ambulatorium
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte – Pátio e galerias do 3ª andar
Endereço: Praça da Liberdade, 450 - Funcionários, Belo Horizonte - MG
Período: 06 de dezembro de 2023 a 05 de fevereiro de 2024
Funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 22h
Entrada gratuita, mediante retirada de ingresso no site ccbb.com.br/bh ou na bilheteria do CCBB Belo Horizonte
Classificação indicativa: Livre
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