sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Comportamento

 


Efeito porta: quando se preocupar?

Quem nunca foi para a cozinha pegar alguma coisa, mas chegando lá, não lembrava o que tinha ido buscar? Esse é o exemplo clássico do Efeito Porta, como são popularmente conhecidos os lapsos de memória que ocorrem no dia a dia.

De acordo com a psicanalista Maristela Carvalho, esses esquecimentos podem acontecer em diferentes fases da vida e em pessoas de qualquer idade.


“O Efeito Porta pode revelar que estamos passando por um estresse grande, excesso de estímulos ou sobrecarga em nossa rotina e, sobretudo, em nosso processo de atenção”, explica.


São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, um excesso de demandas para resolver, que não conseguimos a atenção plena para as atividades básicas do dia a dia. Por isso esquecemos o que fomos buscar na cozinha, onde colocamos o celular, deixamos a porta de casa aberta, o fogão aceso e uma série de outras situações que não deveriam acontecer, mas estamos sobrecarregados, sobretudo emocionalmente”.


De acordo com a psicanalista, a tecnologia, que oferece ferramentas de extrema importância para nos auxiliar, inclusive na organização ao longo do dia, pode atrapalhar se não tomarmos cuidado.


“As mensagens de whatsapp, e-mails e notificações que nos interrompem a todo instante comprometem nossa concentração e invadem nossa rotina. Se paramos a todo momento o que estamos fazendo para responder, olhar as redes sociais, resolver questões que nem sempre são prioridades, muitas vezes esquecemos o que estávamos fazendo. Quando estamos vivendo este tipo de situação, é preciso reavaliar, antes que estas interferências tomem proporções maiores, prejudicando nossa vida pessoal, profissional e colocando em risco nossa saúde física e mental”.

 

Atenção aos sinais do corpo


Desviar a atenção das nossas prioridades pode ser um sinal da nossa mente de que aquilo que estamos fazendo, por algum motivo, até mesmo emocional, esteja nos incomodando.

“No processo de análise, poderemos identificar o que nos dificulta concretizar trabalhos importantes, realizando outros, menos importantes”, diz Maristela.


O primeiro passo para reverter essa situação, orienta a psicanalista, é investigar e mudar alguns hábitos.


“Há estratégias práticas que nos ajudam a manter o foco. Anotar os compromissos, priorizar as tarefas, utilizar recursos como agenda, ainda que uma agenda online, post-it, bloco de notas, mas fazer anotações importantes e não depender exclusivamente da nossa memória”.


No campo emocional, é preciso identificar aquilo que nos angustia para que seja possível desconstruir as ansiedades mais fortes e, aos poucos, alcançar a tranquilidade.


“A atividade física, a meditação e uma boa noite de sono tranquilizam a mente, auxiliando no foco e atenção ao longo do dia. A psicoterapia e a análise são ferramentas importantes, inclusive para identificar aquilo que nos angustia e porque estamos tão sobrecarregados”, explica.


Uma boa noite de sono


Além dos esquecimentos, este excesso de estímulos e a sobrecarga ao longo do dia podem trazer outros efeitos nocivos, como os distúrbios de sono.


“Quando vamos dormir, nos deitamos e tentamos relaxar, mas somos atropelados por uma avalanche de pensamentos, é um sinal de que a nossa cabeça está sobrecarregada de problemas e emoções, em busca de uma solução. É a nossa mente tentando resolver questões que não conseguimos resolver ao longo do dia, da semana, dos meses. Neste caso, não basta toar remédio para tratar a insônia, é importante buscar a causa para, então, encontrar uma solução”.


Na análise, revela Maristela, psicanalista e paciente têm a oportunidade de conversar em busca dessas causas, traumas, dores, com o objetivo tranquilizar a mente e consequentemente voltar a dormir, voltar a pensar com tranquilidade e permitir se organizar.




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* Maristela Carvalho é formada em pedagogia pela PUC/SP; em psicologia pela Université Lumière Lyon II, na França; e em psicanálise pelo Centro de Estudo Psicanalítico. É membro do Grupo APOIAR e do Centro de Refugiados da USP, nos quais presta serviços de apoio à saúde mental para refugiados e pessoas em situação de vulnerabilidade social, e do Órion Instituto Médico. 


 

 

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