sexta-feira, 22 de setembro de 2023

  

PRIMAVERA



 






Lhe esperei às vésperas

Quando o frio recolhe-se em francos



Nos céus fechados e severos

Em meio às folhas secas acolhidas ao chão

 

Quando pássaros tremiam

Nos galhos fúlgidos

Por casas de barro

Conchas de palha

Em gramas frescas e molhadas

 

Aguardei tuas flores, Primavera

Os cheiros flutuantes

Em correntes de ventos e sopros

Entre árvores, sinos e eucaliptos

 

Senti em mim uma esperança transformadora

Um tempo quebrado ao meio

Aos extremos de vidros finalmente esmagados

Por gotas, orvalhos e frescores serenos

 

Quando assoprei dentes-de-leão ao ar

Colhi girassóis à beira da estrada e beijei beija-flores

Aqueci meus temores com o calor aconchegante que existe em mim

 

Primavera, verás o mundo em cores

Muitas cores, perfumes, margaridas e odores

 

De rosas, orquídeas, tulipas encantadas

Em quadros de Manet, Renoir, Matisse ou Guardi

Em pomares arejados, aromas e afrescos sagrados

 

Tuas flores, parques e praças me arrebatam

Levam-me, breve, ao paraíso dos Deuses

Ao templo da natureza

Aos elfos de luz, aos amores selados

 

Pelas ruas, jardins e canteiros frutíferos

Repletos de plantas, sementes e mudas de esperança

Atravesso os mares de um inverno casto

Para alcançar a primeira verdade de tantas almas

 

Primavera amena e ameixas

Sua aurora e beleza são estações iluminadas

Dos sonos e encantos dos pássaros

Das aves e voos elegantes

 

Somos envoltos por perfumes, invólucros, incólumes e cores

Em um único espírito de paz, vida em momentos supremos

 

Os desertos sumiram...

 

Enfim, ando por cantos floridos e primaveras infinitas

Por amores cintilantes

Com cheiros, texturas, prazeres e poemas

Solstícios de flores e desejos abertos

 

Primavera, minha doce Primavera, veja tuas flores

 

És a mais bela dentre as folhas

Sublime, sensata, cheia de cantos e florattas

 

Flautas de jasmim nos jardins do dia

Por mim, por ti, existem flores livres

 

Onde os pólens e os querubins voam como beijos suaves pelos céus

Com tons azuis e amores invisíveis

Que nascem nos tempos de primaveras sem fim

 

Somos mesmo Primavera quando florimos

Inestimáveis, com verdades e primazias de luz

No coração e por toda alma iluminada das flores de estrelas

 

Quando nossos sonhos florescem em jardins

Nos elevamos ao cume das árvores da vida

És, sim, a mais bela, chegamos à Primavera



Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista.

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