segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Poemas Urbanos

 



Inverno

 

Foram ventos fortes em tardes frias

Com folhas tristes e abatidas ao chão

Fotos, zumbidos e rostos esmigalhados em memória

Rajadas ao peito, serenos cortados à garganta.

Lábios rachados e almas vazias

 

Tantos passos pueris

Passeios perdidos em bosques de flores

Nos parques gentis

Em cidades, campos e jardins suspensos de alecrim 

 

Cada passo, cada trânsito, todo infinito em segundos  

Em um instante e um relâmpago em mim

 

Quando visitei confins esquecidos dos seios vis

Eu vi, estive, passei por colibris às alturas

Em arranha-céus com meus olhos febris

Cheios de vida e misericórdia

Da paz que ainda restou e existe aqui.

 

Nos olhos vagos e cheios de esperanças

Com desejos acolhidos em horizontes erigidos

De glórias, verdades, espantos e prantos

Eu não lamento sequer um grito escondido

Qualquer zumbido perdido, reza ou oferenda nos montes sagrados

Porque estive em meio à chuva, ao frio e as tempestades

Passei incólume aos vendavais impuros

Dos jugos e juros difames

Distante, calado e com frio ardil

Com o sangue gelado e a alma intocável

 

Cruzei vales, estradas sem fim, calçadas e ladrilhos 

Com as mãos congeladas de graças inesperadas

Com nuvens carregadas, gotas espessas, árvores esparsas por campos e delírios. Por fendas abertas em meio aos pesadelos ruins.

 

Como não viver a memória viva enfim

Quando chuvas torrentes e o coração quente passaram por mim

Nos trilhos de pensamentos longínquos

 

Único, afastado, encontro a razão para existir

Para seguir mesmo quando o frio nos esconde das sombras

Ilumina por dentro, enquanto espanta e resfria vidas sem brilhos ou afins.

 

Sim, sim, eram invernos intermináveis

Tempos cruzados por histórias sem fim

Cruzadas de vidas invisíveis

De almas frígidas que atravessam climas risíveis

Daqueles momentos molhados enquanto labirintos saiam por degraus feitos de desejos incautos e sentimentos emaranhados.

 

Ah, eu passei invernos em minh'alma

Com destreza e desdém de quem não senti

Nem percebi qualquer verdade sagrada

Ou sacramento velado

Nada estava selado

Nem o inverno fechou as portas ou trancou as janelas

Daqueles sonhos quentes enquanto sentia frio

Quando cruzeis templos e, perplexo, quase sucumbi...

 

Eu cruzo os invernos quão forem necessários

Com espírito templário e ordem dos cavaleiros dos céus

Sagrado, mitigado, mesmo com medos disfarçados  

 

Trago o verão enquanto o frio castiga os campos de trigo

Mas não enveredam por sertões de vidas intensas dentro e aqui, sim, em mim.

 

Pedro Lichtnow é jornalista, poeta e escritor existencialista.

 

 

 


Nenhum comentário: