Primeiro caso de ETC em uma atleta feminina reacende debate sobre perigo dos esportes: Neurocientista explica o caso
Segundo o Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, o caso pode ser o primeiro de muitos para atletas femininas
Pesquisadores australianos diagnosticaraam o primeiro caso da história de Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) em uma atleta profissional do sexo feminino. A descoberta durante a autópsia de Heather Anderson, jogadora de futebol australiana que cometeu suicídio no ano passado,aos 28 anos, quando foram encontrados sinais de CTE em estágio inicial.
Na esperança de ajudar nas pesquisas sobre a condição, a família de Heather Anderson doou seu cérebro para o Australian Sports Brain Bank (ASBB), um centro de pesquisas médicas.
Os resultados, revisados por pares e publicados recentemente na revista médica Acta Neuropathologica, lançam luz sobre os efeitos potencialmente devastadores das lesões cerebrais traumáticas em atletas femininas e levantam preocupações sobre a saúde e a segurança no esporte.
O que é a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC)?
A Encefalopatia Traumática Crônica (ETC) é uma doença neurodegenerativa que ocorre como resultado de repetidos traumas na cabeça. É mais comumente associada a lesões cerebrais traumáticas, como concussões, que ocorrem em esportes de contato ou em situações de impacto físico, como acidentes automobilísticos.
A principal característica da ETC é o acúmulo progressivo da proteína tau no cérebro. Esse acúmulo interfere nas funções cerebrais normais e pode levar a uma série de sintomas, como problemas de memória, demência, anormalidades motoras, alterações de humor, depressão, problemas cognitivos e comportamentais, distúrbios do sono, entre outras.
Por que a descoberta é tão marcante?
De acordo com o Pós PhD em neurociências e membro da Sigma Xi e da Royal Society of Biology no Reino Unido, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a condição sempre foi associada aos homens, o que tornou o diagnóstico inédito.
“Os diagnósticos de ETC são feitos post-mortem, ou seja, após a morte do indivíduo, eles sempre foram feitos em homens, essa foi a primeira vez que um caso foi identificado em uma mulher, o que acende o alerta. Os estudos sobre a condição ainda são, de certa forma, limitados, e casos como esse podem ajudar a entender melhor a doença”.
O risco de ETC para as atletas do sexo feminino
Desde o diagnóstico do caso os especialistas têm reforçado que o caso será o primeiro de muitos em mulheres no esporte, posição que o Dr. Fabiano de Abreu reforça.
“Sabe-se que as concussões e lesões na cabeça estão fortemente relacionados com o desenvolvimento da condição, o que faz com que o esporte seja um ambiente bastante propício para o seu surgimento e como o crescimento cada vez maior da participação feminina em competições esportivas, é natural que os casos de ETC comecem a serem cada vez mais comuns entre as mulheres”.
Críticas às normas sobre concussões das organizações de esportes
O caso reforça a onda de críticas que as organizações de esportes têm sido alvo nos últimos tempos devido aos protocolos e normas frágeis para prevenir e lidar com casos de concussões e lesões na cabeça durante partidas.
Na Austrália, um grande número de ex-jogadores da AFL (Australian Football League) decidiu processar a liga em busca de uma compensação substancial pelos danos alegadamente causados por concussões. Mais de 60 ex-atletas estão buscando um valor estimado em até 1 bilhão de dólares australianos (cerca de R$ 526 milhões ou R$ 668 milhões) em indenizações.
Essa tendência não é exclusiva do país, pois casos semelhantes têm surgido nos Estados Unidos e no Reino Unido. Na ação coletiva movida nos EUA, quase 400 jogadores se uniram para buscar reparações pelos impactos prejudiciais das concussões ao longo de suas carreiras.
“É fundamental que as entidades responsáveis pela regulamentação dos esportes, voltem-se a essa questão e definam diretrizes para lidar com casos de concussão que são recorrentes e podem gerar não só ETC, como uma série de outras condições que podem levar à morte” Alerta Dr. Fabiano de Abreu.
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Sobre Dr. Fabiano de Abreu Agrela
O Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA - American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia e filosofia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Pesquisador e especialista em Nutrigenética e Genômica. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE - Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE - Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro das sociedades de alto QI Mensa, Intertel, ISPE High IQ Society e Triple Nine Society. Autor de mais de 200 artigos científicos e 15 livros.
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