LÁBIOS
Pedro Lichtnow
Há vida que excita ao suco lacrimal
Nas vestes de seda abaixo dos seios partidos
De volumes circulares e textura macia.
Com áurea laureada de lábios insinuantes e dourados
Com gosto ácido e libido fúlgido de lábios pérfidos.
Ah, o suco escarnecido pela língua esculpida.
Áspera, ligeira, excitante.
Polida por amantes desvanecidos.
Movida por instantes de fogo, paixão e gemidos trêmulos.
Eu destituo você do mundo da nobre ilusão dTo gozo da vida.
Dos momentos de frieza, das noites tristes, de tantos medos confusos e pensamentos perdidos.
Eu sei que vale à pena perder-se com a língua.
Partir os lábios e abrir o mundo infinito.
De prazeres complacentes.
Por amores impiedosos, rasteiros e indefesos.
Ah, os sussurros imprimem e prensam algo incrédulo.
São tácitos, profundos.
Imersos nos lábios dos lagos de desejo e tensão.
Por isso, olhe e apenas aprecie com os olhos e os desníveis.
Mergulhe nos oceanos
Mergulhe nos meus oceanos.
Mergulhe nos locais adstritos.
Em cavidades ocultas.
Nas cavernas do pecado
No horizonte de carnes e escárnio de puro deleite
O leite da vida e o gozo do instante
Da nossa natureza oculta
Dos desejos suprimidos.
Gozos permissíveis.
Lábios restritos que calam e apenas gemem
Lábios rúbeos, dúbios e impuros.
Lábios profundos, cheios e intensos.
Ecoam pelas janelas
Flutuam pelo espaço
Sobem aos céus e descem ao inferno
Corrompidos por movimentos e expressões tardias.
Há tardes vazias.
Manhãs vadias
Tempos prostituídos
Lábios de fogo, mel e ensejo.
Lábios de pétalas
Lábios de flores e cheiros
Lábios cortados
Lábios e cicatrizes delirantes.
Os teus lábios são meus
Os meus lábios são teus.
São eternos e flamejantes
Fervem com os olhos
Gritam com o toque
Vibram com o desejo e não a morte
Gozam os brios.
São calafrios e terremotos insensatos.
São correntes alternadas
Energia e libido
Vorazes, delicados e agressivos.
Os lábios são tímidos, audazes, repletos de êxtase
Insanos, quentes e enfermos.
Sugam o sulco inibido.
Os lábios são inodoros
Não escutam qualquer pedido ou quimera.
Apenas soltam os sentidos da luxuria escabrosa
Burlam as fadas da ingenuidade e os dentes de mordidas
De punhos apertados e arranhões sacros.
Pois há um estrondo por baixo dos leitos secretos
Um gosto estranho e insano das verdades distintas
Aceita por toques
Por sentidos e instintos sutis.
Somos animais fingidos.
Vestidos de anjos.
Travestidos de lobos
Cobertos de desejos e sensações.
Por momentos precisos e sentidos.
Instantes fálicos, viúvas ágeis e lábios estreitos.
Quantos gestos libertos e gostos delicados.
Somos mesmos os lábios do escárnio.
Quando tudo faz sentido, mesmo em sentidos inversos.
Em posições contrárias e gestos perpendiculares.
Em silêncio, nos cantos do abismo entre nós
Nos oceanos profundos de lábios tintos.
Espessos, confessos e vibrantes.
Intensos e pretensos
Nós encontramos o espaço e afeto despercebido.
É assim que os sentidos se invertem
As posições se tornam avessas
Os momentos verdadeiros.
Inteiros, plenos, cheios de malícias sinceras.
Sonhos prontos para satisfazer os encantos mais puros.
De quem sequer sente os sentimentos
De quem não reconhece o corpo, nem pressente a beleza do desejo maduro, em tons, cores, cheiros, texturas e gozos.
Por instintos livres
Tensões abertas
Tendões escancarados
Quadris vastos como pastos abocanhados.
O gosto do cheiro do vácuo infinito
Das pernas esparsas e espaçadas
De jogos e sedução privada entre as paredes invisíveis
Dos quartos impuros e dos pecados salientes
Lábios formosos
Com sangue quente e a temperatura cálida.
Sem dentes e língua retida.
Lábios perigosos
Lábios do céu da boca molhada
De êxito inebriante, movimentos incessantes da bebida trépida.
De arrepios e calafrios ferventes.
De mentes insurgentes ao sexo da boca e o gosto do prazer.
Quantas sensações
Quantos Desejos,
Quantos sentidos efêmeros e distantes.
Os lábios trazem o mundo no céu da língua
Nos movimentos intensos de libido disfarçado
Por gemidos acalorados e prazeres afamados.
Nas camas, nos quartos, nas paredes, dos cantos, em todas as estações do segredos camuflados.
Eis a travessia dos lábios aos campos infinitos
Do mundo separado de amores e castigos
De amantes e prazeres momentâneos.
Por lábios distintos e desvanecidos, sem vida ou verdades intensas.
Sugamos o sulco do suco das entranhas mais íntimas.
Dos Lábios da alma, das chamas acanhadas e apressadas.
Das pétalas devassas e dos prazeres sem recalque.
De libido livre e sentidos infinitos de gostos e gozos gentis.
Os lábios queimam com o fogo manso dos incensos pérfidos e insinuantes dos labirintos da boca sacra do mundo esvaecido de excitação e sigilos.
Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista.
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