sábado, 19 de agosto de 2023

Poemas Urbanos

 

LÁBIOS

 


Pedro Lichtnow

 

Há vida que excita ao suco lacrimal

Nas vestes de seda abaixo dos seios partidos

De volumes circulares e textura macia.

Com áurea laureada de lábios insinuantes e dourados

Com gosto ácido e libido fúlgido de lábios pérfidos.

 

Ah, o suco escarnecido pela língua esculpida.

Áspera, ligeira, excitante.

Polida por amantes desvanecidos.

Movida por instantes de fogo, paixão e gemidos trêmulos.

 

Eu destituo você do mundo da nobre ilusão dTo gozo da vida.

Dos momentos de frieza, das noites tristes, de tantos medos confusos e pensamentos perdidos.

 

Eu sei que vale à pena perder-se com a língua.

Partir os lábios e abrir o mundo infinito.

De prazeres complacentes.

Por amores impiedosos, rasteiros e indefesos.

 

Ah, os sussurros imprimem e prensam algo incrédulo.

São tácitos, profundos.

Imersos nos lábios dos lagos de desejo e tensão.

 

Por isso, olhe e apenas aprecie com os olhos e os desníveis.

Mergulhe nos oceanos

Mergulhe nos meus oceanos.

Mergulhe nos locais adstritos.

 

Em cavidades ocultas.

Nas cavernas do pecado

No horizonte de carnes e escárnio de puro deleite

 

O leite da vida e o gozo do instante

Da nossa natureza oculta

Dos desejos suprimidos.

Gozos permissíveis.

 

Lábios restritos que calam e apenas gemem

Lábios rúbeos, dúbios e impuros.

Lábios profundos, cheios e intensos.

 

Ecoam pelas janelas

Flutuam pelo espaço

Sobem aos céus e descem ao inferno

Corrompidos por movimentos e expressões tardias.

 

Há tardes vazias.

Manhãs vadias

Tempos prostituídos

Lábios de fogo, mel e ensejo.

 

Lábios de pétalas

Lábios de flores e cheiros

Lábios cortados

Lábios e cicatrizes delirantes.

 

Os teus lábios são meus

Os meus lábios são teus.

São eternos e flamejantes

Fervem com os olhos

Gritam com o toque

Vibram com o desejo e não a morte

Gozam os brios.

São calafrios e terremotos insensatos.

 

São correntes alternadas

Energia e libido

Vorazes, delicados e agressivos.

 

Os lábios são tímidos, audazes, repletos de êxtase

Insanos, quentes e enfermos.

Sugam o sulco inibido.

 

Os lábios são inodoros

Não escutam qualquer pedido ou quimera.

Apenas soltam os sentidos da luxuria escabrosa

Burlam as fadas da ingenuidade e os dentes de mordidas

De punhos apertados e arranhões sacros.

 

 Pois há um estrondo por baixo dos leitos secretos

Um gosto estranho e insano das verdades distintas

Aceita por toques

Por sentidos e instintos sutis.

 

Somos animais fingidos.

Vestidos de anjos.

Travestidos de lobos

Cobertos de desejos e sensações.

 

Por momentos precisos e sentidos.

Instantes fálicos, viúvas ágeis e lábios estreitos.

Quantos gestos libertos e gostos delicados.

Somos mesmos os lábios do escárnio.

 

Quando tudo faz sentido, mesmo em sentidos inversos.

Em posições contrárias e gestos perpendiculares.

 

Em silêncio, nos cantos do abismo entre nós

Nos oceanos profundos de lábios tintos.

Espessos, confessos e vibrantes.

Intensos e pretensos

Nós encontramos o espaço e afeto despercebido.

 

É assim que os sentidos se invertem

As posições se tornam avessas

Os momentos verdadeiros.

Inteiros, plenos, cheios de malícias sinceras.

 

Sonhos prontos para satisfazer os encantos mais puros.

De quem sequer sente os sentimentos

De quem não reconhece o corpo, nem pressente a beleza do desejo maduro, em tons, cores, cheiros, texturas e gozos.

 

Por instintos livres

Tensões abertas

Tendões escancarados

Quadris vastos como pastos abocanhados.

 

O gosto do cheiro do vácuo infinito

Das pernas esparsas e espaçadas

De jogos e sedução privada entre as paredes invisíveis

Dos quartos impuros e dos pecados salientes

 

Lábios formosos

Com sangue quente e a temperatura cálida.

Sem dentes e língua retida.

 

Lábios perigosos

Lábios do céu da boca molhada

 

De êxito inebriante, movimentos incessantes da bebida trépida.

De arrepios e calafrios ferventes.

De mentes insurgentes ao sexo da boca e o gosto do prazer.

 

Quantas sensações

Quantos Desejos,

Quantos sentidos efêmeros e distantes.

 

Os lábios trazem o mundo no céu da língua

Nos movimentos intensos de libido disfarçado

Por gemidos acalorados e prazeres afamados.

Nas camas, nos quartos, nas paredes, dos cantos, em todas as estações do segredos camuflados.

 

Eis a travessia dos lábios aos campos infinitos

Do mundo separado de amores e castigos

De amantes e prazeres momentâneos.

Por lábios distintos e desvanecidos, sem vida ou verdades intensas.

Sugamos o sulco do suco das entranhas mais íntimas.

 

Dos Lábios da alma, das chamas acanhadas e apressadas.

Das pétalas devassas e dos prazeres sem recalque.

De libido livre e sentidos infinitos de gostos e gozos gentis.

 

Os lábios queimam com o fogo manso dos incensos pérfidos e insinuantes dos labirintos da boca sacra do mundo esvaecido de excitação e sigilos.

 

Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista.

 


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