INVERNO
Pedro Lichtnow
Eu abrigo invernos calorosos
Folhas caídas ao chão de solidões
Ventos severos atravessam em mim
Recortam e reúnem camas soldadas
Em noites de estrelas incendiárias
Abrigo lavas em chamas
Uma alma fria
Um coração escaldante
Eu sou livre
Sereno e distante
Vivo longe
Em sertões bandidos
Varo madrugadas
Silêncios esplêndidos
Ah, tempos estes intensos
Intempestivos
Austeros, reflexivos
De serenatas sinceras
Medos incertos
Repleto de sombras sonoras
Passos largos por caminhos estreitos e caminhadas vastas
Sentimentos escondidos comandam algo sem fim
Minha mente resseca com tantas emoções rasas
Sentimentos congelados
Águas de lágrimas salgadas
Em tempos absortos
Obsoletos, mórbidos e tristes
Sou um inverno frígido
Carregado de porões preenchidos
Recluso, insólito, escuro
Em quartos apagados
Quais invernos acalmam a alma?
Estou sôfrego
Fraco, cheio de fardos
Inquieto, com represas que arrebentam nos cantos
Represálias em mim ecoam ao alto
Somos rastreados
Carregamos lastros do passado
Momentos de luz
Sagrados.
Ah, vidas e feridas abertas
São tantas bençãos
Disfarces consagrados
O frio esvai-se em mim
Produz calor, desertos e tumultos
O mundo
De inúteis
Avestruzes banidos
Temidos, covardes
Senhores e senhoras
Retém-se em si
Os invernos passam
As almas resistem
O corpo adormece
As mãos congelam
A minha mente transporta o vento de verdades ocultas
Nos belos confins da primavera
De campos e jasmins
Pétalas silvestres
Girassóis iluminados
Somos estações passageiras
Casas e fortalezas
Heróis da resistência
Que sofrem, amam e insistem
Por uma vida livre
Deserta de invernos falidos
Com a esperança do amanhã ensolarado.
Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista
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