terça-feira, 25 de julho de 2023

POEMAS URBANOS


 

INVERNO

 

Pedro Lichtnow

 

Eu abrigo invernos calorosos

Folhas caídas ao chão de solidões

Ventos severos atravessam em mim

Recortam e reúnem camas soldadas

Em noites de estrelas incendiárias

 

Abrigo lavas em chamas

Uma alma fria

Um coração escaldante

 

Eu sou livre

Sereno e distante

Vivo longe

Em sertões bandidos

 

Varo madrugadas

Silêncios esplêndidos

Ah, tempos estes intensos

Intempestivos

Austeros, reflexivos

 

De serenatas sinceras

Medos incertos

Repleto de sombras sonoras

Passos largos por caminhos estreitos e caminhadas vastas

Sentimentos escondidos comandam algo sem fim

 

Minha mente resseca com tantas emoções rasas

Sentimentos congelados

Águas de lágrimas salgadas

Em tempos absortos

Obsoletos, mórbidos e tristes

 

Sou um inverno frígido

Carregado de porões preenchidos

 

Recluso, insólito, escuro

Em quartos apagados

Quais invernos acalmam a alma?

 

Estou sôfrego

Fraco, cheio de fardos

Inquieto, com represas que arrebentam nos cantos

 

Represálias em mim ecoam ao alto

Somos rastreados

Carregamos lastros do passado

Momentos de luz

Sagrados.

Ah, vidas e feridas abertas

 

São tantas bençãos

Disfarces consagrados

O frio esvai-se em mim

Produz calor, desertos e tumultos

 

O mundo

De inúteis

Avestruzes banidos

Temidos, covardes

Senhores e senhoras

Retém-se em si

 

Os invernos passam

As almas resistem

O corpo adormece

As mãos congelam

 

A minha mente transporta o vento de verdades ocultas

Nos belos confins da primavera

De campos e jasmins

Pétalas silvestres

Girassóis iluminados

 

Somos estações passageiras

Casas e fortalezas

Heróis da resistência

Que sofrem, amam e insistem

Por uma vida livre

Deserta de invernos falidos

Com a esperança do amanhã ensolarado.

 

Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista

 


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