terça-feira, 20 de junho de 2023

Poemas Urbanos \ Por Pedro Lichtnow

 

Poemas Urbanos \ Por Pedro Lichtnow 

ROSTOS


Que rostos estranhos são aqueles?

Olhos flamejantes

Perdidos na estação do retrato

Em tempos parados

No passado

 

Seus chapéus, vidas e medos

Falsas esperanças, receios

Temores na linha dos ferros

No centro moderno

Em algum ponto cego do inverno

 

Quais murmúrios rezavam ao vento?

De quem passou e não volta mais

Daqueles estranhos pedestres e pedantes

Solenes amantes, seres e memórias distantes

 

São olhos de vidro

Olhares petrificados

Imagens congeladas

Cenas abismais

 

De algum futuro perdido e incompreendido

Na avenida de viscondes

De setembros e nobres

Pobres abarrotados aos montes

Ricos e sigilos de prata e diamantes

 

Com senhoras e senhores

Vassalos, incrédulos, coitados sagrados

Em um tempo remoto estático, em vidros e quadros espelhados

 

Nas imagens de setembro, das avenidas, das estações

De fábricas, obras e consumo

Marcados por relógios no alto

Com ponteiros e atrasos

Que passam por uma vida fugas, vazia e veloz

 

Ah, são ternos rapazes

De terno alinhados

Coletes listrados e marcados naquele retrato

Após a partida dos trens do passado

À chegada ao futuro inesperado

 

Com suspenses, suspensórios e enigmas lacrados

Somos o espelho de imagens

Reflexo de rostos e riscos lastreados

 

Que vivem sombrios

Em sorrisos frios

Momentos sublimes e memórias descartáveis

Óh, são tantas imagens, rostos e faces

Em meio à estranha face dos restos

Dos mortos do passado

Dos fantasmas da estação

De trens e retratos apagados

 

Quantas vidas in vitro

Quantas ideias sagradas

Pensamentos vultosos

Emoções compartilhadas

 

Eu assisto a gravura estática

Com os olhos vivos e móveis

Abarcado por uma invasiva e medonha sensação

 

De viver o agora com lágrimas estreitas

Em um momento apenas

Por um instante congelado

Por uma imagem na parede

Em estações transitórias

Quando as verdades eram ilusórias

 

Seremos a mesma imagem em pausa?

O mesmo silêncio em repouso

A mesma história refletida

Em um vitral do tempo

Em um mundo ultrapassado

 

Somos, afinal, espectros do mundo em uma só imagem

Sonhos, desejos e puro desdenho

Ilhados em um momento

 

Quando nossos rostos inspiram as multidões

Criam cenas e abduções

 

Quando fixamos a mente e o coração

Olhamos para o que fomos ontem

Somos agora e seremos amanhã

 

Diga-me, portanto:

Qual face não alcançou a vastidão?

 

Rostos, linhas e expressões

Pensamentos infames

Tempo, espaço e dimensões

 

Somos os rostos e as caras de anfitriões

Ladras e ladrões de pequenos frames captados no inferno

Vestidos de coragem, suspense, ficção

 

Os olhos parados não mentem quando vivem para sempre

Em retratos, nos quadros, nas paredes em existências

Por olhos passageiros, sentimentos livres e sensações

 

Cada imagem representa o sinal da eternidade

Em um retrato fixo no alto de espaços, pedaços e estações do passado....

 

Ninguém nunca morre quando existe uma imagem pendurada no coração.

 


Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista



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