Poemas Urbanos \ Por Pedro Lichtnow |
ROSTOS
Que rostos estranhos são aqueles?
Olhos flamejantes
Perdidos na estação do retrato
Em tempos parados
No passado
Seus chapéus, vidas e medos
Falsas esperanças, receios
Temores na linha dos ferros
No centro moderno
Em algum ponto cego do inverno
Quais murmúrios rezavam ao vento?
De quem passou e não volta mais
Daqueles estranhos pedestres e pedantes
Solenes amantes, seres e memórias distantes
São olhos de vidro
Olhares petrificados
Imagens congeladas
Cenas abismais
De algum futuro perdido e incompreendido
Na avenida de viscondes
De setembros e nobres
Pobres abarrotados aos montes
Ricos e sigilos de prata e diamantes
Com senhoras e senhores
Vassalos, incrédulos, coitados sagrados
Em um tempo remoto estático, em vidros e quadros espelhados
Nas imagens de setembro, das avenidas, das estações
De fábricas, obras e consumo
Marcados por relógios no alto
Com ponteiros e atrasos
Que passam por uma vida fugas, vazia e veloz
Ah, são ternos rapazes
De terno alinhados
Coletes listrados e marcados naquele retrato
Após a partida dos trens do passado
À chegada ao futuro inesperado
Com suspenses, suspensórios e enigmas lacrados
Somos o espelho de imagens
Reflexo de rostos e riscos lastreados
Que vivem sombrios
Em sorrisos frios
Momentos sublimes e memórias descartáveis
Óh, são tantas imagens, rostos e faces
Em meio à estranha face dos restos
Dos mortos do passado
Dos fantasmas da estação
De trens e retratos apagados
Quantas vidas in vitro
Quantas ideias sagradas
Pensamentos vultosos
Emoções compartilhadas
Eu assisto a gravura estática
Com os olhos vivos e móveis
Abarcado por uma invasiva e medonha sensação
De viver o agora com lágrimas estreitas
Em um momento apenas
Por um instante congelado
Por uma imagem na parede
Em estações transitórias
Quando as verdades eram ilusórias
Seremos a mesma imagem em pausa?
O mesmo silêncio em repouso
A mesma história refletida
Em um vitral do tempo
Em um mundo ultrapassado
Somos, afinal, espectros do mundo em uma só imagem
Sonhos, desejos e puro desdenho
Ilhados em um momento
Quando nossos rostos inspiram as multidões
Criam cenas e abduções
Quando fixamos a mente e o coração
Olhamos para o que fomos ontem
Somos agora e seremos amanhã
Diga-me, portanto:
Qual face não alcançou a vastidão?
Rostos, linhas e expressões
Pensamentos infames
Tempo, espaço e dimensões
Somos os rostos e as caras de anfitriões
Ladras e ladrões de pequenos frames captados no inferno
Vestidos de coragem, suspense, ficção
Os olhos parados não mentem quando vivem para sempre
Em retratos, nos quadros, nas paredes em existências
Por olhos passageiros, sentimentos livres e sensações
Cada imagem representa o sinal da eternidade
Em um retrato fixo no alto de espaços, pedaços e estações do passado....
Ninguém nunca morre quando existe uma imagem pendurada no coração.
Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e palestrante existencialista
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