SÚPLICA
Poemas Urbanos por Pedro LICHTNOW. Imagem do arquivo do autor. |
SÚPLICA
Eu velo o silêncio em mim
Carrego a dor no peito
O sacramento, a hóstia e as hastes do medo
Pelas ruas e cortiços
Em cinzas batismais
Por lanças, ferros e ornamentos
Os abismos se desmancham em segredos retidos em declínio
Quantas súplicas sagradas
Quantas almas feridas
Orações perdidas
Todos os mesmos santos
Vidas bandidas
De quem amou o remorso
Sentiu o pesar
Despedidas distantes
Por lugares insanos
São castigos, castiçais de luz e abrigos
Pedaços despedaçados aos montes
Mentes consumidas em pensamentos vagos
Corações infinitos
Tristes, sensatos, inconstantes...
Que nunca cansam de sofrer
Nunca, nunca sentem as lanças das chamas
Nem cortes, rasgos ou domínios perdidos
Ah, são muitos abismos em um mundo apenas
Tantos vales de súplica e clemência
Sentimentos viris, abrigos invioláveis
Por estradas e chãos batidos
Batinas e ritos impuros
Com as mãos nas grades
O coração partido
A solidão que invade
A mansão de todos os mundos
Um minuto de paz e reverência...
Do mendigo ao fidalgo
Nos cantos espreitos e insensíveis.
Eu suplico de longe sem intenção
Vejo masmorras e reinos infames
Desejos impuros, prazeres pudicos
Ao passar por prédios e portões
Carrego correntes nos pés
Pórticos insólitos
Ah, sou o sonho livre em expansão
Os pés frenéticos e o mundo estranho
O olhar profundo e o azul solúvel
Meus olhos têm o oceano infinito
O universo escuro
A vida reflexiva
O mundo em frascos inflexíveis
Submundos e vassalos largados
Por isso, suplico pela fresta do portão
Do lado de fora de conventos e perdições
Ao passar por zumbis noturnos e pássaros da noite
Navego em estreitos de emoções e pouca razão
Quem ora ao fundo e enxerga a luz em meio à escuridão?
Acende a vela e leva o castiçal entre as mãos.
Quem são eles sôfregos
Intrusos dos infernos
Purgatórios sem redenção
Súplicas ecoam e vagam sonoras
Oram pelo mundo, menos em vão.
Olho para o fundo e não vejo nada
Somente almas sacras
Sonhos perdidos por momentos vedados
Eu velo as ruas
Celo medos em cada passo
No seio da minha alma
Em meio às sensações
Tudo parece seco e ácido
Um deserto de medos corrompidos
Relentos cheios de vento
O abismo do fim dos tempos
Predizes a vida?
Queres tudo em um minuto?
Quem sabe o fôlego da caminhada cativa
Somos altivos...
Em pegadas frágeis, mas nocivas
São raras as chances indevidas
As preces e Macunaímas
As praças, esculturas
Monumentos esculpidos
Estás livre ao céu noturno
Com memórias em pedra
Peles e cardumes urbanos
Nas calçadas rebeldes
Quem são eles com a vela na mão?
Em confissões conhecidas
Perdidos, serenos e cautelosos
Nos becos da vida
Em confessionários pagãos
Cobertos de ouro
Vestidos de medo
Sem nenhuma misericórdia ou perdão
Quais preces valem à pena sem restos?
Pedidos ou queixas em vão
O que desejam de longe
Com os olhos singelos
O peito aberto
O medo inquieto
Por uma vida sem dor
Sem anseios
Solidão ou menos sentidos
Contrassensos no meio de rajadas
Ao som do tempo casto
Das palavras ou sussurros temidos
Eu suplico em vão
Ouço clemências
Demências, loucuras, lastros
Retiros santos de anjos mórbidos
Na terra de areia branca
Em assoalhos espalhados pelo chão
São súplicas e batismos escuros do silêncio
Reféns delas, dos outros, do mundo, da graça insensata
Com olhos sagrados e horizontes distantes
Pedimos impacientes por milagres indiscretos
Perdidos em tempos escuros e caravanas de escravos
De um mundo terreno
Pouco sutil e verdadeiro
Ao passar por templos
Terreiros, cortinas e cortiços
Por caminhos indevidos
Suplico pela fresta
Pela ponta da lança
Com os olhos rasgados e o futuro imprevisto
Eu Suplico!!!!
Por algo
Alguém, um espírito, um santo
Por mim e mais ninguém
Por ego e reverência
Ao mundo oculto
Por meu abismo.
Por minha vida urbana
O tempo perdido, o agora extinto
Somos distintos e abstratos....
Eu suplico a súplica dos anjos caídos
Pedro LICHTNOW
E autor dos livros Catarse e Quem sou eu? Também sou coautor do livro “Rodovias, Caminhos entre Culturas”, com edições em português e em inglês.
Brilhante poema! Meus aplausos por tão significativos e intensos versos!!
ResponderExcluir