Exposição: A lua busca la sombra - Juan Araujo e Mauro Restiffe - ate dia 5 de novembro 2022, na Galeria Luisa Strina em São Paulo.
Exposição |
Projeto inédito dos artistas Juan Araujo (Caracas, 1971) e Mauro Restiffe (São José do Rio Pardo, SP, 1970) coloca em diálogo a relação histórica entre pintura, arquitetura e paisagem
A lua busca la sombra
Juan Araujo & Mauro Restiffe
Luna, luna, luna llena
Menguante
Luna, luna, luna llena
Menguante
Tonada de luna llena,
Simón Díaz, 1973
A Galeria Luisa Strina inaugurOU no próximo no inicio outubro a exposição A lua busca la sombra, um projeto inédito que coloca em diálogo obras dos artistas Juan Araujo (Caracas, 1971) e Mauro Restiffe (São José do Rio Pardo, SP, 1970).
Com expografia de Martin Corullon, do escritório METRO ARQUITETOS, a exposição foi organizada a partir de núcleos temáticos que conduzem o visitante por uma sequência de momentos e ambientes instalativos que revelam temas e interesses que aproximam os dois artistas, tais como: as utopias do movimento moderno, da América Latina à Europa; a ideia de ruína e a estética da fragmentação; o conceito de duplo, autorretrato e imagem especular; e a relação histórica entre pintura, arquitetura e paisagem.
Resultado de mais de um ano de trabalho e estreita colaboração e apresentando um conjunto significativo de obras em pintura e fotografia, a exposição partiu de um convite de Araujo a Restiffe em 2019 para fazerem uma abordagem conjunta em torno da Residência James Francis King (1972-74). Projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, essa residência privada é um ícone da arquitetura paulista brutalista, cuidadosamente inserida no remanescente de Mata Atlântica que existe no bairro da Chácara Flora, em São Paulo.
Durante o desenvolvimento da proposta, a relação da Residência King e paisagismo envolvente levou os artistas a ampliarem o mote inicial da exposição e a incluir casos exemplares de confluência entre espaço construído e natural. De modo que será possível ver também obras de ambos sobre as Piscinas das Marés (1966), projetadas pelo arquiteto português Álvaro Siza em Leça da Palmeira, Matosinhos, assim como reverberações entre fotografias de Restiffe sobre o jardim projetado em 1970 pelo paisagista Roberto Burle Marx na Fazenda Vargem Grande, situada na Serra da Bocaina (outra região de presença de Mata Atlântica no estado de São Paulo), e uma pintura de Araujo sobre o Lakeside Park que circunda o Barbican Centre, Londres. Isso entre outros exemplos que incluem o Palácio de Phaistós (2.000 a.C.) em Creta, a Villa dei Misteri (séc. II a.C.) em Pompeia, a Glass House (1949) de Philip Johson em New Canaan, o Palácio da Alvorada (1958) em Brasília ou o Museo di Castelvecchio (1957-1975) restaurado por Carlo Scarpa em Verona. Um passeio e tanto por muitos lugares e épocas.
O diálogo entre pintura e fotografia cria ainda espaço para núcleos de obras que remetem a obras emblemáticas da história da arte. Neste ponto, destacam-se as obras Black Square (2015) — fotografia realizada por Restiffe na ocasião do centenário da conhecida obra de Malevitch — e Ligereza y atrevimento de Juanito Alpiñani (2022) — pintura de Araujo a partir de uma conhecida gravura da série La Tauromaquia (1815-16) de Goya, com a qual se identifica pela menção ao lanceiro no título e sua sombra delineada no chão da arena. Também se destaca o núcleo dedicado a Rembrandt, incluindo a fotografia Matheus e Rembrandt (2015), em que Restiffe retrata o próprio filho diante de um conhecido autorretrato de Rembrandt datado de 1660, e Rembrandt, Self-portrait Aged 51 II (2022), de Araujo, uma ficção a partir do autorretrato do mestre holandês. As apropriações e citações são ainda mais evidentes no núcleo dedicado a retratos e que inclui obras dedicadas à fundadora da galeria.
O título da exposição evoca a canção Tonada de luna llena (1973) de Simón Díaz — um dos principais expoentes da música popular venezuelana —, que Caetano Veloso interpreta no álbum Fina Estampa de 1994. Tal referência estabelece conexão com a exposição pelo fato de a Lua refletir a luz solar. Quando a olhamos, vemos um espelhamento, como as sombras ou demais imagens que se formam em superfícies refletivas, como vidros e espelhos, um dos temas presentes na exposição.
Sobre os artistas:
Juan Araujo, pintor venezuelano residente em Portugal, é conhecido por sua produção marcada por uma reflexão sobre as relações existentes entre pintura e arquitetura, bem como sobre seus respetivos sistemas de reprodução. Araujo usa a apropriação e a citação para reproduzir imagens icônicas da história da arte e da arquitetura, selecionadas a partir de fotografias impressas, livros, revistas, internet, entre outros. Trata-se de um processo minucioso e complexo que, em última instância, comenta de maneira poética os limites da pintura: a sua incapacidade de reproduzir uma fotografia e seu potencial para criar imagens a partir da replicação de uma precedente.
O fotógrafo brasileiro Mauro Restiffe vem construindo um corpo de trabalhos que considera os dispositivos e procedimentos técnicos específicos da fotografia em paralelo a uma abordagem sobre a dimensão humana da imagem. Alternando entre uma Leica Rengefinder e uma Rolleiflex e operando com processos integralmente analógicos, suas fotografias apresentam uma granulação característica que confere às imagens um caráter pictórico, fazendo sobressair formas, tramas e texturas. As imagens de Restiffe se destacam pela revelação de situações cotidianas em enquadramentos que muitas vezes incluem obras da arte ou elementos arquitetônicos. Assim, o artista oferece novas possibilidades de percepção sobre cenas comuns que, de algum modo, fazem parte de nossa memória visual.
A Galeria Luisa Strina agradece à Família King, Metro Arquitetos, Fortes D’Aloia & Gabriel e Tiago Mesquita.
SERVIÇO:
A lua busca la sombra, exposição de Juan Araujo e Mauro Restiffe
local: Galeria Luisa Strina – Rua Padre João Manuel, 755
visitação: 07 de outubro a 05 de novembro de 2022
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