sexta-feira, 30 de setembro de 2022

 Cia. Os Fofos Encenam festeja seus 20 anos de trajetória em Aquilo Deu Nisso


Projeto conta com lançamento de livro comemorativo e experimento cênico audiovisual dirigido por Márcio Abreu, sobre a construção de um futuro menos distópico e mais coletivo


Fotos de Ligia Jardim


A companhia Os Fofos Encenam faz uma retrospectiva de seus 20 anos de estrada e propõe uma reflexão sobre o futuro da nossa sociedade e da cultura no projeto Aquilo Deu Nisso, composto por um experimento audiovisual criado a partir de 12 ações performativas realizadas em diferentes locais da cidade de São Paulo. 

Além desse experimento, o projeto prevê o lançamento de um livro comemorativo: Os 20 anos: retrospectiva, celebração e novos rumos da Cia. Os Fofos Encenam.

O projeto, que começou a ser elaborado no momento mais conturbado da pandemia de Covid-19, nasce do seguinte questionamento: sobre que terra vamos construir o futuro? Trata-se de uma investigação sobre os acontecimentos sociais e políticos do Brasil nos últimos anos.

“Para compreendermos os novos rumos e mirarmos em futuros menos distópicos e mais coletivos, torna-se necessário nos debruçarmos cenicamente e assumir o risco de dissecar a engrenagem que se retroalimenta das macro e microestruturas políticas, sociais e culturais”, explica sobre a natureza da pesquisa o diretor e ator dos Fofos Fernando Neves.

E essa pergunta é justamente o ponto de partida do experimento cênico audiovisual Aquilo Deu Nisso, que será exibido no canal da Corpo Rastreado no Youtube de 07 a 16 de outubro, às 20h, com exibições extras nos dias 8, 9, 15 e 16, às 17h. 


Para conduzir esse processo criativo, o grupo convidou o diretor Márcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro. O grupo, que nestes 20 anos sempre teve projetos artísticos propostos pelos diretores Newton Moreno e Fernando Neves, propõe neste Aquilo Deu Nisso uma mudança de comando. A ideia do projeto foi pretendida por uma das atrizes, Erica Montanheiro, que sugeriu o nome de Abreu para conduzir o processo. E vale dizer que o deslocamento das mulheres para posições de liderança no projeto é inédito: Montanheiro e Rafaela Penteado coordenaram pela primeira vez dentro do grupo a oficina de dramaturgia aberta ao público; Cris Rocha e Kátia Daher lideraram ao lado de Fernando Neves a oficina de Circo-Teatro e a equipe de filmagem do experimento foi toda composta por mulheres: Julia Rufino (direção audiovisual), Alícia Peres (direção de fotografia) e Luiza Akimoto (captação de som direto e mixagem som).

“A presença de um artista convidado, com um olhar de fora para entendermos aqui dentro, foi fundamental para (re)existirmos e vislumbrarmos um futuro na retomada dos teatros e do setor cultural. E o Márcio tem se dedicado a compor dramaturgias híbridas (entre o teatro, a performance e a dança), usando como ponto de partida muitas vezes o próprio encontro daquela equipe criadora”, comenta Neves. 

“Depois de derrubarmos nossa própria casa física (o Espaço dos Fofos) justamente para preservar a casa simbólica, os corpos e a nossa força coletiva, realizar esse encontro com Márcio apresenta-se como busca e risco. Como possibilidade de olhar nossas próprias fissuras. O grupo, de alguma forma, amplia as linguagens pesquisadas desde sua formação para se lançar diante do desconhecido. Olhar para os acontecimentos externos e internos como disparadores de criação requer coragem e comprometimento com o abismo, além de uma condução experiente e precisa”, acrescenta.

Esse processo resultou em uma série de ações performativas que foram realizadas na rua, em diferentes pontos de São Paulo – algo que só é possível agora, após a retomada cultural decorrente do abrandamento da pandemia de Covid-19. É isso que o público poderá conferir no experimento audiovisual.

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Márcio Abreu conta que uma das coisas importantes relacionadas ao projeto foi “estabelecer um espaço de trabalho e de criação que não precisasse estar pressionado por uma lógica de produção de resultados imediatos e assertivos, mas sim estabelecer um campo sensível de convivência criativa, de estudo, de pesquisa e de criação para ativar novamente as conexões entre esses artistas e reconfigurar perspectivas para imaginar futuros”. 

“Não só para o trabalho como um grupo, mas para um pensamento mais expandido para as artes no Brasil de hoje e em uma cidade como São Paulo. Então me pareceu fundamental sair, fazer esse movimento do íntimo para o público. Do privado para o público. Do dentro para o fora”. 

“O conjunto das ações que nós fomos construindo tem a ver com isso: com o ocupar, com o pensar espaços públicos na cidade de São Paulo através de performances individuais que intervém nessa massa urbana e humana estabelecendo atravessamentos poéticos. Poéticos e políticos”. 

“A perspectiva ético/estética está na base do pensamento desse processo, deste experimento, e, a partir desses movimentos realizados em espaços públicos nas ruas da cidade de São Paulo, e de uma série de conversas e entrevistas a gente também vai realizar um filme que tem uma perspectiva de ser uma obra autônoma, não necessariamente um documentário no sentido estrito a respeito dos mais de 20 anos de existência do grupo, mas uma obra que fale dos assuntos urgentes, que faça emergir os assuntos urgentes que nos atravessaram ao criar essas performances nas ruas, e a se colocar em relação novamente como um coletivo nos dias de hoje, no nosso país, no nosso mundo”, conclui Abreu. 

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Cada uma dessas ações foi criada a partir de questões como: É possível continuar fazendo teatro coletivamente após vinte anos de criação? Como se rearticular permanentemente em relação ao tempo histórico? Como o desmonte da cultura atinge a sociedade civil?

E o elenco traz Carlos Ataíde, Carol Badra, Cris Rocha, Eduardo Reyes, Erica Montanheiro, Fernando Neves, Kátia Daher, Marcelo Andrade, Paulo de Pontes, Rafaela Penteado, Simone Evaristo, Silvia Poggetti e Zé Valdir. A direção musical é de Fernando Esteves em colaboração com a cia.

O livro

Além do experimento audiovisual, a companhia também prevê no projeto a publicação de um livro em comemoração à trajetória de 20 anos dos Fofos, coordenado por Newton Moreno e Luciana Lyra. A versão digital do livro estará disponível no site da cia. a partir do dia 17 de outubro.

A obra, que terá ainda a distribuição de 100 cópias da versão impressa gratuitamente, tem como proposta refletir sobre essa história do grupo a partir de fotografias dos muitos trabalhos criados ao longo de sua trajetória.

Sobre Os Fofos

Os Fofos encenam iniciam sua trajetória em São Paulo no ano de 2001 com o espetáculo Deus Sabia de Tudo..., escrito e dirigido por Newton Moreno. Em 2003 estreiam A Mulher do Trem, comédia de circo-teatro dirigida por Fernando Neves e vencedora do Prêmio Shell de melhor Figurino. Com o incentivo da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo montam, em 2005, Assombrações do Recife Velho, texto e direção de Newton Moreno a partir da obra homônima de Gilberto Freyre. Assombrações recebeu 3 indicações ao Prêmio Shell (melhor iluminação, melhor figurino e melhor direção).

Em 2006, partiram, sob a direção de Fernando Neves, para o drama circense Ferro em Brasa, com subsídio do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. Ferro em Brasa foi indicado ao Prêmio Shell nas categorias melhor atriz para Cris Rocha e prêmio especial pela pesquisa do grupo sobre o universo do circo-teatro. A partir desta montagem inicia-se outra fase: a busca por um espaço que abrigasse a evolução das investigações cênicas e que possibilitasse de forma continuada a apresentação do repertório d’Os Fofos.

Em 2007, a cia. é contemplada com a Lei de Fomento ao Teatro da cidade de São Paulo com o projeto O Ninho. Com esse subsídio, é inaugurado no bairro do Bixiga o Espaço dos Fofos, sede para atividades teatrais que muito contribuiu para o aperfeiçoamento das peças de seu repertório e das novas investidas estéticas, além de abrigar temporadas de espetáculos de companhias teatrais convidadas.

Em 2009, estreia no Espaço dos Fofos o quinto espetáculo da cia., Memória da Cana. Com dramaturgia e direção de Newton Moreno, Memória da Cana é uma adaptação do texto Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, alimentada pela leitura das obras de Gilberto Freyre e pela interlocução memorial dos atores-criadores. O espetáculo conquistou visibilidade e reconhecimento ao percorrer os mais importantes festivais de teatro do país e ao receber os seguintes prêmios: Shell (melhor direção e melhor cenário); APCA 2009 (melhor espetáculo) e Cooperativa Paulista de Teatro (melhor direção e melhor projeto visual).

Em 2012, através do edital de incentivo à cultura da Petrobrás, montaram Terra de Santo. O espetáculo elegeu a cana-de-açúcar como um pretexto para estabelecer um olhar sobre o país, sua identidade e sua volátil questão socioeconômica nos seus quinhentos anos de existência. Terra de Santo ganhou o Prêmio APCA 2012 de melhor autor (Newton Moreno) além da indicação ao Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro (melhor projeto visual).

Em 2013, com recursos da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, apresentaram o projeto Baú da Arethuzza. Com coordenação e direção de Fernando Neves, o projeto levou à cena 5 espetáculos diversos de circo-teatro. O projeto foi vencedor do Prêmio APCA 2014 (categoria especial) além de ser indicado ao Prêmio Shell na categoria inovação. Em 2015, Os Fofos são contemplados novamente pela lei de Fomento ao Teatro para a realização do projeto de pesquisa inspirado na obra de Brecht. Com dramaturgia inédita de Cássio Pires, realizam O deus da Cidade e compõem a última temporada do grupo em sua sede, entregue em janeiro de 2017.

Ficha Técnica (experimento audiovisual)
Direção: Márcio Abreu
Assistência de direção: Cris Rocha, Erica Montanheiro e Rafaela Penteado
Elenco: Carlos Ataíde, Carol Badra, Cris Rocha, Eduardo Reyes, Erica Montanheiro Fernando Neves, Kátia Daher, Marcelo Andrade, Paulo de Pontes, Rafaela Penteado, Simone Evaristo, Silvia Poggetti e Zé Valdir.
Cenografia: Marcelo Andrade
Adereços: Zé Valdir
Figurino: Carol Badra
Direção musical: Fernando Esteves e cia. Os Fofos Encenam
Fotografia: Ligia Jardim
Direção Audiovisual: Julia Rufino
Direção de Fotografia: Alícia Peres
Direção de Som: Luiza Akimoto
Montagem: Julia Rufino
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Motorista: Leandro de Andrade

Assistente de produção: Lucas Cardoso
Administração e financeiro: Gisely Alves - Corpo Rastreado
Produção: Leo Devitto e Lud Picosque - Corpo Rastreado

Realização: Os Fofos Encenam, Secretaria Municipal de Cultura – Programa Municipal de Fomento ao  Teatro para cidade de São Paulo – Prefeitura de São Paulo.

Serviço (experimento audivisual)
Aquilo Deu Nisso, d’Os Fofos Encenam
Temporada: de 7  a 16 de outubro a 20h, com exibições extras dias 8, 9, 15 e 16 às 17h
Onde: Canal Youtube da Corpo Rastreado
Ingressos: gratuito
Classificação: livre

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