terça-feira, 9 de agosto de 2022

 Audiovisual é contar histórias

Luiz Fernando da Silva Jr

Falar e homenagear o grande e imortal Jô Soares, que partiu neste dia 05 de agosto, certamente, levará a todos a citar sua inteligência e seu carisma. Como estudante de comunicação na ESPM, em 1992, tive o privilégio de ser levado a vê-lo atuando, nos estúdios do SBT no Sumaré, no “Jô Soares Onze e Meia”. Que impacto! Reforçou mais ainda minha convicção de que a televisão era o meu lugar. 

Dois anos depois, recém-formado, para minha alegria e surpresa, estava trabalhando naquele mesmo prédio no Sumaré, no qual passou a ser a sede da TVA, TV por Assinatura do Grupo Abril – assumindo o local após o deslocamento do SBT para as modernas instalações do Complexo Anhanguera. 

Jô Soares faz e fará parte do imaginário coletivo dos brasileiros, estando presente no cotidiano de nossas casas e de nossas famílias por mais de 60 anos, na qual a televisão permanece como importante fonte de entretenimento e informação para um país tão amplo e desigual em acesso a tecnologias e oportunidades como o nosso. Quantos, como eu, somente iriam dormir após o “beijo do Gordo”, no encerramento do “Programa do Jô”? 

Podemos falar em números, como as mais de 14 mil entrevistas realizadas, os mais de 200 personagens desenvolvidos, 08 livros, peças de teatro, diversos programas de TV. Mas isso não é suficiente para ter a verdadeira dimensão da envergadura deste artista: devemos observar e destacar o impacto do Jô para o audiovisual e para a cultura brasileira. 

Sua inteligência o levou a desbravar caminhos e encontrar recursos para driblar momentos difíceis de censura. Permitiu abrir espaço para a diversidade entre seus entrevistados, quando nem mesmo esse era o assunto de maior destaque no nosso país – de presidentes da República a grandes artistas, o sofá do Jô era democrático e atento o suficiente para também receber e destacar os artistas de rua ou mesmo vendedores de pipoca. Ou juntar um grupo apenas de mulheres jornalistas, semanalmente, para debater política e economia – o inesquecível “Meninas do Jô”, acerto deste visionário que se manteve no ar por 11 anos. O que importava era a história que tinha para contar. Se fosse interessante, estava habilitado a ir ao programa do Jô. 

Audiovisual é contar histórias. Jô nos contava e envolvia como poucos.

Hoje, como profissional que seguiu carreira em planejamento e marketing de audiovisual, em especial na televisão (tanto aberta quanto fechada), tenho a incumbência de levar informações do mercado aos nossos estudantes e de também ampliar seus repertórios para que conheçam e valorizem a história do nosso audiovisual e aqueles que construíram o que hoje somos. 

Em nosso curso de Cinema e Audiovisual na ESPM-SP, realizo uma aula de marketing televisivo em que estão presentes Chatô, Silvio Santos, Hebe Camargo, Chacrinha, entre tantos diversos nomes, e logicamente também Jô Soares. O denominado “Programa do Pará” (em que uso meu apelido) utiliza referências e reverência os mais diversos programas de auditório brasileiros, com aula especial formatada com quadros de entrevista, quiz, sorteios, dança, música e tudo que o formato tem direito. 

Para que isso em uma academia? Nossos estudantes têm entre 17 e 21 anos de idade, em geral. Quando o Programa do Jô saiu do ar, eles eram ainda crianças ou pré-adolescentes e, possivelmente, não faziam parte da audiência daquelas entrevistas da madrugada da TV aberta. A mesma atenção nos cabe ao trazer informações do programa da Hebe ou dos mais antigos, como o programa Flávio Cavalcanti. É nossa obrigação, como profissionais e educadores, levar os estudantes a conhecer, entender e valorizar suas trajetórias e contribuições que tiveram e terão repercussões nos caminhos deste nosso mercado. 

Despertar e estimular a visão crítica dos estudantes é questão fundamental no ensino universitário. Utilizar referências a atuações e contribuições tão sólidas de expoentes da nossa cultura e do audiovisual brasileiro, como Jô Soares, amplia as possibilidades de conexões de nossos estudantes, levando a uma formação consistente de conhecimento. Jô seguirá vivo e contribuindo para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro. 

Luiz Fernando da Silva Jr. é professor e superior do curso de graduação em Cinema e Audiovisual da ESPM. Mestre em Comunicação Audiovisual (Anhembi Morumbi), especialização em Formação Executiva em Cinema e Televisão (FGV) e graduação em Comunicação Social (ESPM). 

 

Nenhum comentário: