sexta-feira, 11 de março de 2022

Saúde.

 

Produzidas no treino físico, enzimas que melhoram resposta à insulina podem virar medicamento, diz estudo

Estudo publicado em dezembro na Science Advances descobriu enzimas produzidas no exercício físico que são a chave de como o treino protege contra consequências do envelhecimento, incluindo diabetes e perda de massa muscular. Expectativa é de que enzimas virem medicamentos

Treino

São Paulo /2022 - Você provavelmente já ouviu falar que pessoas que praticam atividade física envelhecem de forma mais saudável – e um estudo australiano recente, publicado em dezembro na Science Advances, descobriu a chave que explica porque o exercício melhora a nossa saúde e protege contra consequências do envelhecimento na saúde metabólica, incluindo o diabetes tipo 2. “Os cientistas descobriram enzimas que podem evitar doenças metabólicas e elas são produzidas com o exercício físico. A descoberta abre a possibilidade do desenvolvimento de medicamentos para promover a mesma atividade dessa enzima”, conta o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral Multigene. O estudo foi realizado pela Monash University, uma universidade pública de pesquisa sediada em Melbourne, na Austrália.


 O estudo é extremamente importante, segundo o geneticista, uma vez que a proporção de pessoas em todo o mundo com mais de 60 anos dobrará nas próximas três décadas. “A incidência de diabetes tipo 2 aumenta com a idade e maus hábitos de vida, portanto, o envelhecimento da população também resultará em um aumento da incidência da doença em todo o mundo. Uma das principais razões para o aumento da prevalência de diabetes tipo 2 com a idade é o desenvolvimento de resistência à insulina, ou a incapacidade do corpo de responder à insulina, e isso geralmente é causado pela redução da atividade física à medida que envelhecemos”, diz o geneticista. No entanto, os mecanismos precisos pelos quais a inatividade física facilita o desenvolvimento da resistência à insulina permaneciam um mistério até o resultado desse estudo.

            Os pesquisadores descobriram como a atividade física realmente aumenta a capacidade de resposta à insulina e, por sua vez, promove a saúde metabólica. “É importante ressaltar que as enzimas que eles descobriram que são essenciais para esse mecanismo têm o potencial de ser direcionadas por drogas para proteger contra as consequências do envelhecimento, como perda de massa muscular e diabetes”, explica o Dr. Marcelo Sady. “O estudo mostrou que as reduções na geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) do músculo esquelético durante o envelhecimento são fundamentais para o desenvolvimento da resistência à insulina. O músculo esquelético produz constantemente ROS e isso aumenta durante o exercício. Essas espécies reativas de oxigênio induzidas por exercícios impulsionam respostas adaptativas que são essenciais para os efeitos do exercício na promoção da saúde”, explica o geneticista. “Ou seja, o exercício é capaz de gerar radicais livres no músculo e – ao mesmo tempo – induzir o organismo a responder melhor a esse estímulo, o que aumenta a resposta antioxidante”, esclarece o geneticista.

            A equipe de pesquisa mostrou como uma enzima chamada NOX-4 é essencial para as espécies reativas de oxigênio induzidas por exercícios e as respostas adaptativas que impulsionam a saúde metabólica. “Em ratos, os pesquisadores descobriram que o NOX-4 é aumentado no músculo esquelético após o exercício e que isso leva a um aumento de ROS, que estimula respostas adaptativas que protegem os ratos do desenvolvimento de resistência à insulina; sem os exercícios, problemas metabólicos surgiam com o envelhecimento ou pela obesidade induzida por dieta. É importante ressaltar que os cientistas demonstraram que os níveis de NOX-4 no músculo esquelético estão diretamente relacionados ao declínio associado à idade na sensibilidade à insulina. Neste estudo, em modelos animais, mostrou-se que a abundância de NOX-4 no músculo esquelético diminui com o envelhecimento e que isso leva a uma redução na sensibilidade à insulina", explica o geneticista.

            Segundo o estudo, o desencadeamento da ativação dos mecanismos adaptativos orquestrados pelo NOX-4 com drogas pode melhorar os principais aspectos do envelhecimento, incluindo o desenvolvimento de resistência à insulina e diabetes tipo 2. "Um desses compostos é encontrado naturalmente, por exemplo, em vegetais crucíferos, como brócolis ou couve-flor, embora a quantidade necessária para efeitos antienvelhecimento possa ser mais do que muitos estariam dispostos a consumir, daí a importância do desenvolvimento de medicamentos", finaliza o especialista.

FONTE:

*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.

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