Washington Novaes tem uma trajetória única no jornalismo brasileiro possivelmente porque sempre se negou a ocupar lugares de conforto. Poderia ter facilmente seguido carreira na TV Globo, depois de passar pelo Globo Repórter e pelo Jornal Nacional, mas decidiu se mudar para Goiânia e encarar o desafio quase utópico de conduzir um jornal em moldes participativos - o Diário da Manhã - , como achava que um jornal diário deveria ser feito.
Foi também assim que recusou o conforto das pautas quentes nas redações e começou a tratar de temas como meio ambiente e povos indígenas, quando ainda não eram parte dos assuntos do jornalismo.
Ainda no Globo Repórter, seu Amazonas, a Pátria da Água, filme que abriu o festival, já abordava também de forma inovadora aquela região, procurando olhá-la pelo viés da relação entre seus habitantes e os recursos naturais, e não apenas como natureza intocada e território desconhecido e desocupado.
Nessa mesma direção, veio a série que o consagrou quando, em 1985, encantou o Brasil, revelando toda a riqueza das culturas indígenas do Xingu, e trouxe os povos indígenas para o horário nobre da televisão brasileira.
Transformado pela experiência, Washington passou a olhar para as sociedades indígenas como uma espécie de utopia viva, exemplos de outras possibilidades humanas, da liberdade possível para o indivíduo e da convivência respeitosa com o outro e a natureza.
O jornalista que faleceu no ano de 2020 é um dos homenageados da 22º edição do Fica. Para valorizar o legado deixado por ele, foi criada uma mostra especial para exibir importantes produções dirigidas por Washington durante sua trajetória.
Intitulada “Espelhos de outros Brasis”, a mostra traz alguns de seus documentários menos conhecidos e há muito não exibidos, transparecendo o olhar de encantamento com os índios e com o mundo natural e também a busca da arte como linguagem para ir além daquilo que o jornalismo e o documentário conseguem. Em todos eles, há a presença do artista plástico Siron Franco, amigo dos primeiros dias de chegada a Goiás, e parceiro constante nos trabalhos de Washington.
São, por isso, de certa forma, espelhos de outros brasis, mostrando personagens, lados e lugares até então pouco conhecidos de nosso país, num olhar que mistura a razão jornalística a um encantamento pela via da arte.
Os filmes da mostra especial estarão disponíveis para o público durante todo o evento no canal da Secult Goiás no Youtube. Abaixo, confira a sinopse das produções:
Filmes
Xingu - A Terra Mágica
Doc,46', 1985
Direção e Roteiro: Washington Novaes
Direção de Fotografia: Lula Araújo
Som: Antonio Gomes
Produtor: José Carmo
Abertura e Arte: Siron Franco
Edição: João Paulo Carvalho e Célio Ribeiro
Produção: Intervídeo e TV Manchete
Sinopse:
Este é o primeiro episódio da série Xingu - A Terra Mágica, de 1985, exibida à época pela TV Manchete. Nele, Washington nos apresenta ao universo das culturas indígenas do Xingu através dos povos Waurá, Kuikuro, Yawalapiti, Krenakrore e Metuktire, mostrando toda a sua riqueza e os desafios na relação com os brancos.
Cerrado Urgente
Doc, 57', 2003
Direção e Roteiro: Washington Novaes
Imagens: Spike
Som: Alcides Almeida
Edição: Sérgio Antônio Pereira
Direção Musical: Roberto Corrêa
Produção Executiva: Roberto Tibiriçá
Produtores: Max Eluard e João Novaes
Produção: TV Cultura
Sinopse:
Este documentário é parte do projeto Biodiversidade Brasil, fruto de uma parceria entre a TV Cultura e a Natura. Neste episódio sobre o Cerrado, Washington Novaes mostra a importância da savana mais rica do planeta, que ocupa quase um quarto do território brasileiro e abriga um terço de sua biodiversidade, tomando como fio condutor sua importância para as águas no Brasil.
Os Caminhos da Sobrevivência - Pantanal
Doc, 49', 1986
Direção e Roteiro: Washington Novaes
Direção de Fotografia: Walter Carvalho e Lula Araújo
VT e Som: Antônio Gomes e Luís Teixeira
Abertura e Edição de Imagens: Marco Editoria e Paulo Célio Ribeiro
Direção de Arte: Siron Franco
Direção Musical: Egberto Gismonti
Participação Especial: Carmo Bernardes
Produção: José Carmo
Sinopse:
A série Os Caminhos da Sobrevivência, produzida pela extinta TV Manchete, foi pioneira em trazer para o horário nobre da TV brasileira a temática ambiental, mostrando tanto a riqueza dos biomas brasileiros, quanto sua degradação. Washington Novaes assinou a direção geral e a direção dos dois primeiros episódios, sobre o Pantanal Matogrossense. Os outros episódios foram dirigidos por Sílvio Tendler, sobre a ocupação de Rondônia, Eduardo Coutinho, sobre o Rio Tietê, e José Antônio Menezes, sobre agrotóxicos.
Siron Franco - Especial
Doc, 55', 1988
Direção e Roteiro: Washington Novaes
Roteiro Dramático: Eloí Calage
Diretoras assistentes: Lisa França, Mara Moreira e Thaís Maria
Direção de Fotografia: Washington Araújo e Reginaldo Oliveira
Edição: Sérgio Antônio Pereira
Produção: TV Brasil Central
Sinopse:
Entre 1987 e 1988, Washington Novaes coordenou um inédito núcleo de documentários na TV Brasil Central, à época afiliada da TV Bandeirantes em Goiás, hoje afiliada da TV Cultura. Este documentário sobre o artista plástico Siron Franco foi uma das produções que resultaram dessa iniciativa. Nele, em meio a performances de Siron e dramatizações de episódios importantes de sua vida, entendemos como se construíram suas influências e a visão que pauta seus trabalhos únicos e internacionalmente reconhecidos.
Kuarup - Adeus ao Chefe Malakwyauá
Doc, 60', 1988
Direção e Roteiro: Washington Novaes
Direção de Fotografia: Lula Araújo
VT e Som: Antonio Gomes
Produção: Intervídeo e TV Manchete
Sinopse:
Em 1987, Washington Novaes retornou ao povo Waurá, na Terra Indígena do Xingu, para documentar o Kuarup, a grande festa dos mortos dos povos xinguanos, onde seria homenageado o chefe Malakwyauá, falecido no ano anterior, que fora um dos personagens da série Xingu - A Terra Mágica. O resultado foi uma nova série em cinco episódios, dos quais este é o primeiro.
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