Principal representante da nossa tradição alimentar, a mandioca ganha um livro todinho sobre ela. Resultado de dois anos de trabalho, a obra Manihot Utilissima Pohl: Mandioca conta com mais de 400 páginas e confere ao ingrediente seu merecido reconhecimento na voz de Alex Atala, o maior chef do país. Mas não é só. O projeto ainda reúne pesquisadores, cronistas, cozinheiros, indigenistas e fotógrafos para apresentar esse universo tão rico quanto diverso.
Ao valorizar a versatilidade do alimento na cultura brasileira, a publicação aborda aspectos culturais e se torna um registro único sobre como, de norte a sul do país, a mandioca resiste e permanece como sustento e alimento da população, ao mesmo tempo em que representa nossa ancestralidade. Isso porque o livro traça o panorama histórico do ingrediente, desde os costumes indígenas antes da chegada dos portugueses, destacando as formas de plantio, cultivo, processamento e preparo da mandioca; até a travessia dos séculos de colonização e a resistência à industrialização dos tempos recentes.
Desdobrando-se em farinhas finas, grossas, brancas, amarelas, gomas, polvilhos, cauins e tucupis, a mandioca povoa todas as casas, roças, restaurantes, dos simples aos mais refinados, das terras indígenas ao interior colonial catarinense, em diferentes preparos que são retratados neste livro. Além disso, o leitor percorre os estudos que Alex Atala e sua equipe fizeram para transformar a mandioca em iguarias exclusivas de seus cardápios, bem como confere receitas emblemáticas de alguns dos mais renomados cozinheiros do país, como Helena Rizzo, Dani Martins, Mara Salles, Claude Troisgros e Rodrigo Oliveira.
Vale destacar ainda que a publicação está dividida em três partes e conta com capítulos assinados por convidados do chef Alex Atala, como Neide Rigo, Ana Laura Mantovani, Flora Dias Cabalzar e Charles Clement.
A Mulher provedora
Ganha destaque na publicação “a mulher provedora”. Ou seja, mulheres e mães que costumam ter de três a cinco roças para o cultivo da mandioca. Juntas, elas trabalham e revezam suas terras. A cada dia, uma vai à roça da outra, sendo que as convidadas nunca saem de mãos vazias, mas com pelo menos um aturá cheio.
Os bebês são carregados na tipoia até a roça, onde uma pequena rede é armada sob a sombra, para que eles possam descansar, enquanto suas mães trabalham. As crianças também aparecem hora ou outra. Entre brincadeiras e trabalho, elas carregam pequenas quantidades de farinha de beiju, mujeca ou farinha de formiga e, quando maiores, assumem responsabilidades cotidianas ao lado da mãe. Confira um trecho a seguir:
“Dizem as mulheres de hoje que as antigas eram mais sábias: trabalhavam na roça antes do sol quente. Hoje em dia já não têm tanta pressa, dizem, fazendo-se a primeira refeição tranquilamente e com longas conversas antes de sair para a roça. Quando chove nesse período da primeira refeição, atrasam-se com calma, dedicando-se a outros afazeres, como a produção artesanal.”
Imagens
O livro apresenta 157 imagens, sendo que a maioria das fotos foi escolhida para retratar as etapas descritas na publicação (plantio, processamento, preparo), há também ensaios específicos de fotógrafos renomados, como Pedro Martinelli e Iêda Marques. Renato Soares e Elza Lima também assinam algumas fotos.
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