terça-feira, 14 de dezembro de 2021

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 Alfredo Galhões, músico e gastrônomo, estreia na ficção com o livro

"Entre a agulha e a navalha"


“Entre a agulha e a navalha'' é o título do primeiro romance de Alfredo Galhões, carioca que atuou durante anos como músico e arranjador de artistas da MPB. E após uma bem sucedida incursão no mundo da gastronomia, quando esteve à frente de cozinhas de vários restaurantes brasileiros até abrir seu próprio restaurante em Portugal, fechado por causa da pandemia, Galhões se lança como escritor neste livro que nos transporta ao Rio de Janeiro da década de 1960. Com prefácio de Nei Lopes e editado pela renomada editora Chiado Books, o livro será lançado na livraria Blooks (em Botafogo), no dia 17 de dezembro, às 19h.



Sobre o Livro


O cenário é a Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, na década de 1960. Neste romance repleto de humor, os tipos que trabalham e comandam as noites de jogatina e luxúria se mostram por inteiro. Num triângulo amoroso bem atípico, a costureira, o porteiro do edifício e o dono das calçadas da Lapa se entrelaçam. A disputa pelos pontos de carteado e prostituição é acirrada e ocorre em meio à turbulência das três paixões que se revelam.


A narrativa flui, em boa parte, através do linguajar dos malandros da época. A Lapa é desnudada. Seus pontos turísticos e ruas principais são vistos por outro prisma. Serão o palco para cenas muito dramáticas: de lutas pelo poder, assédios e conquistas. Os bares e casas noturnas abrem as portas para os que desejam escolher um dos dois caminhos da diversão: um trilha em busca do prazer e vaidade; o outro, tão contrastante, vai ao encontro do desejo de apreciar a beleza histórica e a alegria contagiante da Lapa.



E qual foi a inspiração para ter a Lapa carioca como cenário? Muito do que escreveu, escutou dos antigos, dos mais velhos que fizeram as suas rondas pelas calçadas da Lapa. “Algumas histórias foram mesmo sussurradas pelos soturnos aproveitadores da noite, malandros que para muitos se encontravam em decadência, perdidos e inúteis num hiato temporal. Por esta razão os personagens carregam a malemolência da boemia da década de 1960, as gírias, o modo de encarar a vida e almejam se equilibrar entre a pureza das paixões e o submundo vil que os entorpecem."  - diz Galhões.


Sobre o autor


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carioca Alfredo Galhões estreia como escritor. Tecladista e produtor musical, já acompanhou e trabalhou com diversos artistas da música popular brasileira. Apaixonado pelo samba, estilo que mais lhe rendeu conquistas e alegrias, integrou por mais de vinte anos a banda do cantor carioca Zeca Pagodinho


Fotos: arquivo pessoal


Além de músico, Alfredo é formado em Gastronomia pela UNISUAM no Rio de Janeiro, tendo se especializado em panificação artesanal e cozinha mediterrânea na Itália, França e Espanha. O autor também fez pós-graduação em Gestão de Segurança de Alimentos pelo SENAC – Rio, onde lecionou por quatro anos. Desde 2017 reside em Portugal, atuando como gastrônomo, músico e produtor do artista português Nuno Bastos.  



Prefácio - por Nei lopes

Na cidade do Rio de Janeiro, a região do antigo Centro compreende alguns logradouros que, por diversas razões, foram se tornando, ao longo dos anos, verdadeiros sub‐bairros, como são a Praça Mauá e o Largo da Lapa, localizados nas extremidades da Avenida Rio Branco, criada como “Avenida Central” no início do século 20, para abrir a velha urbe aos ventos da Baía de Guanabara.


A Mauá, com seu legendário “Cais do Porto”, é a entrada marítima da cidade; e a Lapa marca a saída em direção aos subúrbios e às terras do interior. Como destino comum, ambas as localidades ganharam fama, sobretudo pelo ambiente de boemia romântica – até certo ponto e até certo tempo – que nelas se desenvolveu. E este é o lócus privilegiado das ações deste livro que temos o prazer de apresentar.


A literatura de Alfredo Galhões, também artista da música e da gastronomia, especialidades igualmente marcadoras da cena deste Entre a agulha e a navalha, é despretensiosa e divertida, sem nenhum compromisso com o cânone literário, mas com muito “bom senso e bem gosto”, como recomendou Antero de Quental, na Coimbra do século 19. De início ela nos remete, de certa forma, a Marques Rebelo ou Nelson Rodrigues, talvez pela galeria de tipos, ou pela sensualidade transbordante: a costureira Idalina, o porteiro Osvaldo, o alfaiate Aníbal, o malandro Ferraz... Ou estariam eles mais adequadamente colocados em uma singela comédia musical da cinematográfica companhia Atlântida, nos anos 1950? Ou evocariam genialidades como as de Sérgio Porto (“Stanislaw Ponte Preta”) ou do já saudoso Aldir Blanc?


Deixo as perguntas para os críticos literários. Pois o que me importa neste livro de estreia do múltiplo Alfredo Galhões é a verve, o bom humor, o olho crítico, a observação precisa: “Mulher bem‐feita de corpo, coxas grossas, cintura fina, mas com a ala das baianas além do número de integrantes”, diz ele apresentando a personagem Idalina. E isto, num romance que poderia se passar em qualquer cidade brasileira, em qualquer tempo histórico, não fosse a acuidade da lente com que o escritor ampliou seus personagens, numa amplificação que evidenciou a carioquice de cada um deles, no seu trajeto entre a Mauá e a Lapa e circunvizinhanças. Carioquice que, aliás, no momento deste texto, é objeto de reflexões entristecedoras e questionamentos veementes.


Neste outubro de 2020, a “cidade maravilhosa, éter na capital, de encantos mil” ainda sorri, mas com aquele sorriso amarelado pela ação predatória de políticos desonestos e/ou incompetentes, falsos cristãos e falsos profetas, organizações criminosas, gente  inescrupulosa que põe seus interesses pessoais acima de tudo e de todos, deixando para os já despossuídos apenas o “bagaço da laranja”, como diz um conhecido samba.


Em localidades como as aqui evocadas, o cenário é apocalíptico. Mesmo assim, Alfredo Galhões, em seu autoexílio lusitano, conseguiu compor este divertido romance de estreia, no qual, entretanto, sob o manto alegórico em que envolve e desenvolve sua trama, também alfineta e a navalha certa sociedade “que prefere se embalar onde se sente segura”, julgando que “suas mãos estão limpas, usando de artifícios para se fingir humilde,

quando, na verdade, não move uma palha em benefício dos que sofrem”.


Entre “agulhas e navalhas”, isto ocorre da Lapa à Zona Oeste, da Praça Mauá à Baixada Fluminense e em todas as adjacências – acrescentamos.



Serviço
Lançamento “Entre a Agulha e a Navalha”

Autor: Alfredo Galhões
Local: Livraria Blooks (Praia de Botafogo, 316 - Lojas D e E)
Data: 17 de dezembro
Horário: 19h
Valor médio do livro : R$35


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