Livro sobre a vida e carreira do designer e arquiteto Bernardo Figueiredo será lançado fisicamente no mês de outubro
A produção de mobiliário moderno, incluindo peças para projeto original do Palácio do Itamaraty em Brasília, dezenas de prédios projetados no Rio desde os anos 1960, estandes de feiras internacionais e o pioneirismo nos shoppings centers marcam sua atuação
A trajetória múltipla de Bernardo Figueiredo é revista e celebrada no livro “Bernardo Figueiredo: designer e arquiteto brasileiro”, que será lançado pela Editora Olhares no mês de outubro, em paralelo à exposição de mesmo nome no Museu da Casa Brasileira – instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. O livro e a exposição fazem parte do projeto idealizado e produzido por Angela Figueiredo (produtora cultural, atriz e filha de Bernardo) e com supervisão de Adriana Figueiredo (cineasta, atriz, tradutora e filha de Bernardo). Autoras do livro e curadoras da mostra, Maria Cecília Loschiavo dos Santos, professora titular de Design da FAUUSP, Amanda Beatriz Palma de Carvalho, doutora em Design, e Karen Matsuda, mestre em Design, ambas pela mesma instituição, tiveram o vasto acervo deixado pelo arquiteto e designer como ponto de partida para a pesquisa. O livro é bilingue em português/inglês com e tradução de Adriana Figueiredo, Emily Cavelier e Mark Farnen.
O lançamento será dividido em dois eventos. O primeiro será no dia 07 de outubro, em que ocorrerá uma mesa de debates virtual com as curadoras do livro e da exposição sobre a obra do Bernardo, na página do MCB. Neste encontro virtual, será liberada pré-venda dos livros para serem retirados pessoalmente no museu no dia 09 de outubro.
“A produção de Figueiredo está situada no cruzamento da arquitetura, urbanismo, design de mobiliário, design de interiores, cultura e suas inter-relações transdisciplinares. O que motivou estes cruzamentos? Bernardo foi um homem de pensamento aberto e sua identidade profissional sempre esteve imbricada com as condições culturais e s ociais do Rio de Janeiro de seu tempo. Ele se envolveu em diferentes experiências profissionais e humanas, sempre com uma atitude aberta e positiva, expandindo suas práticas criativas em direções interdisciplinares e em constante fluxo no Brasil e no exterior”, diz Maria Cecilia Loschiavo.
Ao destrinchar o pensamento de um profissional multidisciplinar, que se formou no auge do período moderno e atuou com pioneirismo e sucesso em diversas tipologias, livro e exposição preenchem uma lacuna importante sobre os campos de arquitetura e design no Brasil na segunda metade do século XX, indo além de nomes de maior evidência para ampliar os conhecimentos do período.
Além dos textos das autoras, a obra traz uma apresentação assinada por Adriana Figueiredo e Angela Figueiredo, e conta também com prefácios do MCB e do diplomata Heitor Granafei, pesquisador do mobiliário original do Palácio do Itamaraty.
A narrativa parte do ambiente em que Bernardo cresceu, se formou e iniciou sua vida profissional, nos anos 1950, no Rio de Janeiro. A partir disso, faz uma revisão sobre sua atuação em capítulos sobre o design de móveis no auge da produção moderna; seu protagonismo no projeto do Itamaraty, um dos mais elaborados de Brasília; sua arquitetura, que inclui dezenas de edifícios no Rio de Janeiro; estandes premiados para feiras internacionais, participando da construção da identidade brasileira no período, projetos precursores de shoppings centers, sua experiência em Porto Seguro, onde morou, foi ativista de causas ambientais e desenvolveu um projeto urbanístico e, por fim, a volta de seus produtos ao público através da reedição de suas peças.
Sobre Bernardo Figueiredo
Formado em 1957 pela Faculdade Nacional de Arquitetura (atual FAU-UFRJ), o carioca Bernardo Figueiredo (1934-2012) iniciou sua carreira projetando edifícios, explorando o universo do design de móveis e da arquitetura de interiores. Ao longo de sua carreira, ele traçou projetos urbanísticos, desenhou estandes para feiras nacionais e internacionais, projetos gráficos e empreendimentos comerciais, sendo pioneiro na criação de shoppings centers no país, como o Barra Shopping, inaugurado em 1981 no Rio de Janeiro.
A carreira de Bernardo esteve fortemente ligada ao Rio de Janeiro nas décadas de 1960/70, sobretudo a Ipanema, bairro onde nasceu e viveu e que se tornou um dos epicentros da cultura brasileira no período.
“Bernardo, assim como seus contemporâneos, refletiu sobre a materialidade, oferecendo projetos ousados, que visitavam diversas frentes, sem deixar de lado a real funcionalidade de cada um deles, para o seu público-alvo”, explica Karen Matsuda.
Bernardo trabalhou na loja Oca, onde teve a oportunidade de conviver diretamente com Sergio Rodrigues e Inge Dodel. Sobre essas experiências, dizia: “Inge me disciplinou, Sérgio me permitiu a intimidade com o móvel e Tenreiro me aguçou o estilo”.
Teve participação marcante na concepção do projeto de arquitetura de interiores do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, em 1967. Ele foi convidado a mobiliar as principais salas do palácio e conviveu, na ocasião, com nomes do modernismo como: Oscar Niemeyer, Burle Marx, Athos Bulcão, Bruno Giorgi e, novamente, Sergio Rodrigues e Joaquim Tenreiro, também chamados para participar do projeto.
“O móvel brasileiro existe quando atende às condições próprias da nossa gente. É essa exatamente minha preocupação ao criar um modelo. Proporcionar através do conforto, plástica, materiais e autenticidade, o encontro daquilo que é acima de tudo útil para quem o procure. É uma questão de identidade”, dizia Bernardo Figueiredo.
A constante movimentação de Bernardo e sua busca por um modo de vida mais perto da natureza o levaram a se mudar para Porto Seguro, na Bahia. Lá, quis contribuir para algumas soluções para a população local encabeçando pequenos edifícios e projetos urbanos, além de se dedicar a preservar a riqueza natural e cultural da cidade histórica.
"Desde sua chegada em Porto Seguro, Bernardo lutou para que a cidade preservasse toda a natureza e vegetação ao redor. Em 1984, quando soube que usinas de álcool seriam implantadas na região, chegou a criar e liderar um grupo em defesa da cidade", contam as autoras Maria Cecília, Amanda Carvalho e Karen Matsuda.
“Bernardo teve uma carreira abrangente e múltipla, e suas criações permanecem e demonstram a validade formal e o rigor das respostas de projeto que ele soube dar às mais variadas demandas com as quais se defrontou”, segundo Maria Cecília Loschiavo.
Sobre o projeto
O projeto de resgate da obra de Bernardo Figueiredo teve início em 2014, quando, nos preparativos do aniversário de 50 anos do Palácio dos Arcos, em Brasília, Angela Figueiredo, foi contatada pelo diplomata Heitor Granafei, que estava à frente de uma grande pesquisa sobre o mobiliário do Palácio e não encontrava informações suficientes sobre Bernardo. Ela apresentou documentos e fotos deixados pelo pai, que hoje constituem o Acervo Bernardo Figueiredo. Na mesma época, Heitor apresentou Angela a Maria Cecília Loschiavo dos Santos, professora titular de Design da FAU-USP e nome de referência sobre o design moderno brasileiro. Ela havia conhecido Bernardo na década de 1980, quando o entrevistou para o seu livro Móvel Moderno no Brasil (Olhares/Ed. Senac), e estimulou a realização de um estudo aprofundado sobre sua obra. Durante o processo para viabilizar o livro, foi acrescentada ao projeto a exposição no Museu da Casa Brasileira. Após Angela apresentar a Giancarlo Latorraca, Diretor Técnico do MCB, e o projeto e o acervo Bernardo Figueiredo, Giancarlo reconheceu a relevância histórica do material deixado por Bernardo e da sua trajetória profissional.
A Schuster Móveis e Design é responsável pelas reedições de móveis de Bernardo desde 2011, com comercialização em todo o país e no exterior. A empresa reconhece o valor do cultural da obra de Bernardo é a patrocinadora e incentivadora da deste projeto.
Sobre a exposição
Dividida entre o hall de entrada e as três salas principais do MCB, a mostra traz uma linha do tempo com datas e eventos importantes: desenhos, fotos de suas criações de design de móveis e arquitetura, além do vídeo Fabricando a Poltrona Milhazes, que apresenta a fabricação desta peça na fábrica da Schuster, em Santo Cristo, RS. Haverá também desenhos originais de projetos urbanísticos criados por Figueiredo para a cidade de Porto Seguro, na Bahia.
Uma das salas contará com 11 peças produzidas nos anos 1960 que fazem parte do Acervo Bernardo Figueiredo, além de fotos de ambientações dessa época, incluindo imagens da residência de Bernardo. A exibição de um vídeo com trechos do filme "Garota de Ipanema" de Leon Hirzman, 1967, apresenta a segunda residência de Bernardo, que foi uma das principais locações do filme.
A Poltrona Carioca, desenvolvida para ser montada em um programa de TV da época, estará desmontada e aplicada em uma das paredes mostrando cada uma das partes que a compõem. Os visitantes ainda poderão conferir fotos do Porão da loja Chica da Silva, que pertenceu à figurinista Kalma Murtinho, pioneira no comércio de artesanato brasileiro no Rio de Janeiro. O local era ponto de encontro de intelectuais cariocas e comercializou moveis de Bernardo durante vários anos.
Outra sala será dedicada ao Palácio do Itamaraty, que abriga o Ministerio das Relações Exteriores, em Brasília. Móveis originais como a Cadeira dos Arcos e a Poltrona Rio irão dividir espaço com as reedições produzidas pela Schuster como a Cadeira Bahia e a Poltrona Leve. Essas peças fazem parte do projeto do Palácio. A sala conta ainda com reedições sofás Conversadeira, que poderão ser utilizados pelos visitantes e com o vídeo Palácio dos Arcos, criado por Angela Figueiredo com fotos e imagens de 1967 e 2017.
Em um terceiro espaço serão apresentadas peças reeditadas pela fábrica gaúcha Schuster Móveis que, desde 2011, produz os móveis de Bernardo. O público visitante poderá experimentar o mobiliário.
"Relançar os móveis do Bernardo significa manter vivo o legado e a própria história do mobiliário nacional. Suas dificuldades, necessidades e propostas de solução. Tudo isso sempre apresentado uma brasilidade típica junto à discussão do jeito de ser e morar do brasileiro e suas relações com a natureza e sua filosofia própria", comenta Wilson Schuster, diretor da empresa gaúcha.
Sobre o livro
Título: Bernardo Figueiredo: designer e arquiteto brasileiro
Publicação: Editora Olhares
Organização: Maria Cecilia Loschiavo dos Santos
Autoras: Amanda Beatriz Palma de Carvalho, Karen Matsuda, Maria Cecilia Loschiavo dos Santos
Versão em inglês: Adriana Figueiredo, Emily Cavelier e Mark Farnen
Prefácios: Heitor Ganafei, MCB
Ensaio fotográfico: Andre Nazareth
Coordenação do projeto: Angela Figueiredo e Adriana Figueiredo
Patrocínio: Móveis Schuster
Formato 21x28cm, capa dura
Número de páginas: 176
Tiragem: 2.000
Edição bilíngue: Português/Inglês
Preço de capa: R$ 139
Onde comprar: www.editoraolhares.com.br
Exposição Bernardo Figueiredo: designer e arquiteto brasileiro
Visitação a partir de 17 de julho, sábado, às 10h, até 12 de dezembro de 2021.
Funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h.
Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia-entrada) | Crianças até 10 anos e maiores de 60 anos são isentos | Pessoas com deficiência e seu acompanhante pagam meia-entrada
Gratuito às terças-feiras.
Acessibilidade no local
Bicicletário com 40 vagas | Estacionamento pago no local
Museu da Casa Brasileira | Av. Faria Lima, 2705 | Tel.: (11) 3032-3727
SITE: mcb.org.br/
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