Especialista esclarece como a arquitetura pode ajudar a reduzir a incidência de queda de idosos.
Professora da UniAvan, Juliana Tasca Tissot desenvolve pesquisa sobre o assunto e destaca que o SUS gasta mais de R$ 50 milhões para tratamento destas pessoas
O Brasil é um país que vem envelhecendo, por isso é importante pensar agora sobre o futuro com os idosos. Quem convive com algum parente que está nesse estágio da vida começa a observar situações do dia a dia que passam a se tornar algo mais complexo e que, muitas vezes, levam a quedas. Por consequência disso, o Brasil vive um acréscimo na incidência de quedas de idosos dentro de casa.
Professora da UniAvan, a arquiteta e urbanista Juliana Tasca Tissot está desenvolvendo sua tese de doutorado sobre o tema e o papel da arquitetura diante desses fatos. “Quando se desenvolve um projeto arquitetônico, quase ninguém leva em conta que o usuário vai envelhecer, e que as habilidades tanto físicas quanto cognitivas não vão permanecer da mesma forma. E isso implicará em adequações sobre as novas demandas que a idade impõe”, ressalta. Nos próximos meses, ela fará uma pesquisa de campo sobre o tema nos Estados Unidos para efeito de comparação. A professora passará um período no país como parte integrante do doutorado.
Desde que começou a pesquisar esse assunto, a questão mais relevante que Juliana encontrou foi o alto investimento do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento de idosos que sofreram quedas em casa. O SUS gasta mais de R$ 50 milhões com situações como essa. Além disso, de 2009 a 2019, mais de 103 mil pessoas com mais de 60 anos morreram em decorrência das quedas.
Quando sobrevivem, os problemas relacionados vão de fraturas a traumas psicológicos. Geralmente, quando o idoso cai pela primeira vez, é como se psicologicamente ele não conseguisse voltar ao estágio inicial e para de agir como agia antes, o que causa mais dependência e necessidade de ajuda. A contribuição da arquitetura vai ao encontro, principalmente, da projeção de espaços seguros, que deem autonomia e independência aos mais velhos – se não com projetos que necessitem reformas e investimentos, ao menos melhorando o que já existe para tornar o ambiente mais interessante a esse público.
O arquiteto tem conhecimento técnico para contribuir, e as dicas de agora são para trazer alento e segurança aos mais velhos. O primeiro passo é fazer uma análise do que pode ser prejudicial, como o uso de tapetes, excesso de móveis e enfeites, iluminação desproporcional, ausência de barras, entre outros. As dicas da doutoranda Juliana Tasca Tissot você confere agora.
Iluminação
Com a idade, a visão do idoso vai se degenerando, e uma única lâmpada no ambiente pode não ser mais suficiente para a quantidade de luz que ele precisa. Por isso, nos quartos, é preciso observar a colocação de iluminação perto da cama, como abajures, além de instalar o interruptor da luz central por perto; também é preciso ter uma luz de vigília. Na cozinha, o ideal é ter luz próximo à bancada para ajudar no corte dos alimentos, lavação de louça e até para cozinhar.
Desníveis no chão e excesso de móveis
Alguns desníveis, como os provocados por tapetes, muitas vezes não são nem percebidos pelos mais jovens, mas infelizmente eles fazem uma grande diferença para os idosos. Em ambientes com pessoas mais velhas, é preciso removê-los. Outro elemento importante que deve ser observado são os fios de acessórios elétricos que possam ficar no meio do caminho. Quem também tem o hábito de manter a casa cheia de móveis vai precisar pensar em se desfazer – poltronas extras e mesas de centro, por exemplo, devem ser retiradas. Nesses casos, o ideal é dar preferência aos móveis sem quina e fazer a substituição ou consertar aqueles que são instáveis. Por fim, vale observar as maçanetas de fácil abertura, evitando as que são redondas.
Banheiros
Aqui na região, os banheiros são pequenos, o que dificulta fazer reformas para melhorá-los. Quando o espaço é utilizado por idosos, a orientação da doutoranda Juliana Tasca Tissot, professora de Arquitetura e Urbanismo da UniAvan, é deixá-lo sem box, principalmente se ele for de vidro. “Muitos hospitais trabalham com banheiros acessíveis, totalmente sem boxes, apenas com barras de segurança. Esse é um caminho”, explica. Ela orienta que sejam usados pisos antiderrapantes nas áreas molhadas, pois eles são mais porosos, evitando as quedas. “A especificação dos materiais de revestimento é importante. Ele não pode ser polido, tem que ser mais áspero”, justifica.
Exterior da casa
O exterior da casa do idoso também pode colocar em risco a sua segurança e levar à queda. Por isso devem ser revistos calçadas e degraus quebrados no jardim e limpos os caminhos para que não haja resto de folhas, vasos ou lixeira. Vale substituir as escadas por rampas com corrimão e evitar lavar o quintal com detergentes que tornam o chão mais escorregadio. “A idade causa naturalmente uma transformação nas pessoas. O idoso costuma ter resistência às alterações necessárias no seu ambiente. À arquitetura cabe adaptar o espaço para as necessidades da pessoa, e não fazer com que ela se adapte ao ambiente”, considera a professora da UniAvan. Tornar esses lugares aptos é uma forma de aumentar a sobrevida, mas é preciso manter o idoso em atividade. Então, nada de querer ficar fazendo as coisas básicas para seus pais ou avós. Estimular a rotina dos idosos é importante para que eles não percam a autonomia.
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