segunda-feira, 19 de abril de 2021

Saúde a Toda Prova

 Para diminuir tempo de permanência em UTIs, cresce importância de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas na pandemia.



Cirurgia para remoção do tumor de hipófise é realizada pelo SUS em hospital de Curitiba e envolve equipamentos de alta tecnologia

Com a escalada da demanda por UTIs na pandemia e do tempo de permanência dos pacientes nas unidades, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos têm se mostrado um apoio nesse momento em que todo o sistema de saúde está pressionado. Desde o início da pandemia, o tempo médio de internação dos pacientes com Covid-19 passou de 10 para 14 dias, segundo levantamento da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Nesse contexto, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) orientou recentemente que os procedimentos eletivos devem ser avaliados para que os leitos de UTI e internação sejam priorizados para os casos graves de coronavírus. Com isso, para a realização de outras intervenções, as cirurgias devem ser de menor impacto para facilitar a atuação dos profissionais e instituições de saúde. 


E é aí que procedimentos menos invasivos para casos de grande impacto para o paciente são uma importante saída por reduzirem o tempo de internação no pós-operatório. Um exemplo é a cirurgia para retirada de adenomas da glândula hipófise, um tipo de tumor cerebral que, por comprimir estruturas do cérebro, pode levar o paciente a problemas de visão e alterações hormonais. Um dos tipos de adenoma hipofisário é o secretor de hormônio do crescimento. Essa doença também é conhecida como acromegalia e pode acarretar aumento das extremidades, como mãos, pés, língua e enrijecimento das articulações. No Hospital Universitário Cajuru, que, por não ser referência em Covid-19 em Curitiba (PR), atende a maioria dos casos clínicos e de trauma da região, os pacientes costumam ficar apenas um dia na UTI após a realização da cirurgia. 

Segundo o neurocirurgião Carlos Alberto Mattozo, um procedimento de rápida recuperação faz com que a permanência na UTI seja reduzida, o que é um alívio no contexto de pandemia que pressiona o sistema de saúde como um todo, pela superlotação dos leitos. “Com a alta demanda por leitos na UTI, é importante investir em técnicas que evitam longos períodos de recuperação no hospital. Por meio dessa cirurgia, os pacientes podem ficar na UTI por apenas um dia, o que diminui a demanda por leitos e deixa à disposição novas unidades para o tratamento de pessoas diagnosticadas com Covid-19. No caso do Hospital Cajuru, as UTIs são destinadas para pacientes de trauma e casos clínicos que demandam um longo período de internação”, afirma o neurocirurgião. 

Procedimento minimamente invasivo 

Nessa cirurgia, o acesso ao tumor localizado no cérebro é feito pelo nariz utilizando um sistema de vídeo. É o que faz ela ser considerada minimamente invasiva, com um tempo menor de recuperação no pós-operatório. “O fato de não precisar fazer uma craniotomia, de não precisar abrir o crânio do paciente, que é um procedimento muito invasivo e traumático, e simplesmente conseguir retirar pela narina, traz muitos benefícios. E nós do Hospital Cajuru temos experiência na realização desse procedimento com o auxílio também de equipamentos que contribuem para uma cirurgia segura, precisa e de qualidade”, afirma Mattozo.

A cirurgia fez a diferença na vida da costureira Marilza Aparecida, que descobriu o tumor de hipófise ao fazer uma consulta de rotina com o otorrinolaringologista. “Por causa da produção excessiva do hormônio do crescimento, eu não conseguia nem mexer os dedos. Meu joelho e nariz ficavam muito inchados. Eu tinha até dificuldade para falar por causa do inchaço na minha língua e sentia muita dor”, conta. 

Após muitas tentativas e encaminhamentos para realizar a cirurgia, a moradora de Paranavaí (PR) viajou para Curitiba para realizar o procedimento no Hospital Universitário Cajuru. A neurocirurgia foi feita 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Na minha cidade não tinha o equipamento necessário para realizar a cirurgia. Depois de muito tentar, consegui o encaminhamento para o Hospital Cajuru que, além de ter a equipe médica especializada, apresentava toda a estrutura necessária para realizar essa cirurgia. Eu me sinto muito sortuda e agradecida por ter conseguido essa cirurgia pelo SUS em um hospital tão qualificado. Não teria condições de pagar por esse procedimento no particular”, diz Marilza. 

A paciente também revela as principais mudanças após a cirurgia. “Hoje eu consigo me movimentar com mais facilidade e até a minha fala melhorou. Pequenas coisas, como colocar um sapato que eu gosto, são possíveis hoje, porque antes tudo era muito inchado, o que dificultava bastante”, afirma.

Rápida recuperação 

O médico perito judicial de Florianópolis (SC), Norberto Rauen, viajou até Curitiba para realizar o procedimento com a mesma equipe no Hospital Marcelino Champagnat e, nesse caso, o neurocirurgião diz que não foi necessário o paciente ficar na UTI. “Para evitar a permanência em uma unidade de terapia intensiva, ele ficou um pouco mais no centro cirúrgico, na sala de recuperação, e passou sua primeira noite no quarto. Para o paciente, foi uma experiência positiva porque pôde voltar mais rápido para a família”, afirma. 

Para Norberto, que conviveu com o tumor por 60 anos, a ansiedade em realizar o procedimento foi ainda maior, já que também é um profissional da área da saúde. “O médico é o pior paciente que pode existir para quem vai tratar, porque conhece as intercorrências e as complicações. Felizmente a minha cirurgia evoluiu sem intercorrências e sem complicações. No outro dia foi realizado um exame de imagem e tomografia que comprovou o sucesso na ressecção cirúrgica do tumor, sem afetar outras estruturas nobres daquela localização. Só tenho a agradecer à equipe médica”, conclui. 

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