A Cultura do Cancelamento: autor alerta para o perigo dos rótulos na internet e o inconsciente coletivo
Com a popularização das redes sociais, as pessoas comuns e personalidades passaram a ter mais liberdade para expressar as suas opiniões, o racismo, o bullying ou outros assuntos polêmicos passaram a ser combatidos, mas também podem ocasionar o linchamento virtual.
É a chamada "Cultura do Cancelamento". Ela, que teve início há alguns anos, para dar voz às reivindicações populares através das redes sociais, sejam para ações políticas, sociais, de marcas, empresas ou figuras públicas, é uma ferramenta poderosa da atualidade quando usada pelo bem coletivo. Mas também, essa forma de “banimento” frente a alguma atitude ou posicionamento considerado errado, pode gerar prejuízos enormes às carreiras, empresas ou até mesmo para pessoas anônimas.
O jornalista, pesquisador e escritor brasileiro, Jacob Petry, que é autor de livros que abordam temas como psicologia da cognição, inteligência emocional e desenvolvimento pessoal, comenta o perigo de rotular as pessoas neste universo digital.
“O processo que cria o cancelamento virtual, por mais estranho que possa parecer, é o mesmo que criou outros movimentos de violência coletiva, como a inquisição, o nazismo e outros sistemas autoritários que provocaram grandes morticínios. Primeiro, reduz-se o individuo a um conceito mental, um rótulo. Com isso, não lidamos mais com o individuo, mas com o rótulo que ele representa. A partir de então, existe uma falsa noção de que podemos fazer qualquer coisa com o rótulo”, ele explica.
Embora para o autor a internet seja positiva, por ser democrática e proporcionar o acesso às informações, ela ao mesmo tempo pode ser negativa pela rápida difusão de conteúdos e até pela propagação de Fake News, e por isso todo o cuidado é pouco.
“Todo rótulo, inconscientemente, nos separa daquilo que rotulamos. E uma vez que você rotula alguém, você se separa dele. Agora existe um conceito entre você e ele. E é a partir dessa conceitualização que você não reconhece mais o ser humano que existe na outra pessoa. Você vê apenas o conceito criado, o rótulo, e você passa a habitar nessa realidade conceitual”, explica.
Ele exemplifica explicando que nas redes sociais, quando uma pessoa tem uma opinião diferente da nossa, muitas vezes, ela é rotulada de “hater”, e por conta disso, ela é bloqueada. Esse bloqueio, embora seja um ato leve, é um ato de violência. E como o senso comum justifica esse ato de violência? Através do rótulo que foi criado.
“Qualquer ato de violência se torna possível através da conceitualização de outros seres humanos, porque de certo modo, ele aparentemente deixa de ser um ser humano. Ele agora é um conceito: um “hater”, uma pessoa tóxica, e bloqueá-lo parece ser o certo. E quando você reduz um ser humano a um conceito, você pode fazer com esse conceito o que quiser, e é aí que está o perigo. Apesar de parecer algo ingênuo, é um processo cuja escala não tem limites”.
Ele ressalta ainda que é através desse processo que as pessoas anulam a sensibilidade e não se sentem mal pelas suas ações.
Jacob Petry argumenta sobre o perigo que os rótulos e julgamentos nas redes sociais representam, pois os usuários muitas vezes se identificam neste processo de inconsciência coletiva, promovendo um cancelamento virtual coletivo, que poderá ocasionar muitos prejuízos financeiros e psicológicos a quem sofre esse tipo de violência.
Ele finaliza ainda comentando que neste processo é importante o aprendizado da sociedade diante desses acontecimentos. “Uma dica importante é: tenha empatia para avaliar a situação do outro. Todos erram, mas se for haver alguma crítica, que seja para construir e educar, não para odiar ou destruir”.
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