domingo, 13 de dezembro de 2020

 Abrolhos Filmes

Co-produção de marcas é alternativa aos incentivos públicos e patrocínio para entretenimento

Produção associada simplifica acesso a financiamento e gera mais valor para empresas

Encontrar patrocinadores para o audiovisual não tem sido tarefa fácil para produtoras independentes. E isso não é só uma implicação da pandemia do coronavírus. Em 2019, o governo federal anunciou um corte de 43% do fundo para o setor, colocando barreiras para financiamento público e leis de incentivo. Ao mesmo tempo, marcas de diversos portes e segmentos nunca estiveram tão preocupadas em cruzar suas campanhas de marketing com entretenimento. 

Diante deste cenário, segundo André Sobral, fundador e produtor da Abrolhos Filmes, a tendência é que produtoras busquem marcas, e vice-versa, para co-produção de filmes e séries, passando a serem também exibidoras de conteúdo. O formato é uma alternativa ao patrocínio e product placement. “Ao invés de apenas colocar uma verba e esperar seu nome aparecer nos créditos, as empresas participam mais ativamente das produções e envolvem-se no roteiro. O resultado é a geração de valor muito mais significativo para seus produtos e audiência”, afirma. 


Durante a produção do documentário “Chico Rei Entre Nós” (2020) - sobre um rei congolês que comprou sua própria liberdade e de seus súditos durante o ciclo do ouro em Minas Gerais, tornando-se símbolo de resistência - a Abrolhos teve como produtora associada a loja virtual de camisetas Chico Rei. Sediada em Juiz de Fora (MG), a marca homenageia o herói africano em seu nome e adota o slogan “Camisetas mudam vidas”, acumulando diversas ações sociais em um bairro periférico da cidade. 

Na parceira, que aconteceu por acaso, a Abrolhos adaptou o curta “Chico Rei Em Movimento” (2020), vídeo-dança feito em paralelo ao documentário, a fim de produzir uma websérie de teor didático para a marca mineira. “Caiu como uma luva, já que essa temática está intrinsecamente ligada ao nosso DNA de busca das raízes históricas de Minas Gerais e porque sempre promovemos alguma ação no Mês da Consciência Negra”, declara Vitor Vizeu, Diretor de Marketing do e-commerce. 

A websérie foi exibida nas redes sociais da marca e gerou, nas palavras de Vizeu, “resultados fantásticos no sentido tangível e intangível”. Foram quase 45 mil de alcance, mais de 11 mil views e mais 1 mil interações, além do aumento do engajamento da audiência. O envolvimento da Chico Rei não parou nos resultados digitais. 

A loja exibiu o documentário para presos da Penitenciária Ariosvaldo de Campos Pires, em Juiz de Fora (MG), onde mantém um projeto social. “Eles não arredaram o pé antes dos créditos e ficaram muito comovidos com a história, que é a de muitos deles como população negra oprimida. Gerou também uma discussão em torno de outras questões citadas no filme, como as ocupações do MTST”, conta Vizeu. 

O Diretor de Marketing reforça que a co-produção do longa gerou um valor relevante para a Chico Rei e concorda com Sobral, que esta é uma tendência interessante. “É um caminho vantajoso para as produtoras independentes, que têm mais opções de acesso a incentivos, e também gera benefícios para nós, que tivemos muitas trocas com a equipe da Abrolhos, criamos um relacionamento com os entrevistados do documentário e entregamos um conteúdo de qualidade aos consumidores”.

Ainda, para Sobral, a co-produção funciona como uma estratégia de marketing de longo prazo.  “Para além da websérie, a Chico Rei associa seu nome a um documentário que foi premiado [Melhor Documentário Brasileiro e Menção Honrosa do Júri da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo] e, conforme projetamos, estará presente em outros festivais nacionais e internacionais, salas de cinema e serviços de streaming em 2021”, declara. 

O e-commerce também produziu camisetas com as temáticas do longa-metragem e uma parcela das vendas será revertida para a Associação Amigos do Rei (Amirei), que organiza a festa do Reinado, a celebração da memória de Chico Rei, anualmente em Ouro Preto (MG).


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