terça-feira, 1 de setembro de 2020

Isolamento social

Pandemia aumenta relevância do setembro amarelo
Mês de prevenção ao suicídio ganha mais importância com os efeitos causados pelo isolamento social decorrente da pandemia, que vai chegar a 6 meses em todo o país


isolamento social 

CURITIBA - Cerca de 800 mil pessoas se suicidam todos os anos no mundo. Estima-se que de 80% a 90% das pessoas que cometem esse ato sofrem de algum tipo de transtorno do humor – ou seja, devem ser considerados pacientes, assim como alguém que sofreu infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). Desde 2003, celebra-se o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio no dia 10 de setembro, mês que também ganhou a alcunha de “Setembro Amarelo” em alusão ao combate ao suicídio. Em 2020, a campanha ganhou uma nova preocupação com o fato de muitas pessoas estarem em isolamento social devido à pandemia do coronavírus.



“As campanhas de prevenção são de extrema importância para pessoas que consideram a possibilidade do suicídio, pois cada vez mais a medicina entende que isso pode ser prevenido. Entretanto, os profissionais da área da saúde precisam se atualizar e entender os novos fatores de risco para doenças mentais”, explica Sivan Mauer, médico psiquiatra especialista em transtornos do humor, citando o ciberbullying, por exemplo. Entre esses fatores, em 2020, há também a pandemia e suas consequências: sociais, econômicas, psicológicas e emocionais.

Entre as formas de prevenção, encontram-se as abordagens psicoterápicas, caso do Centro de Valorização da Vida (CVV), que trabalha na precaução dos casos, e o uso de psicofármacos. Uma das abordagens de recomendação de medicamentos é o uso do lítio. De acordo com Mauer, que é mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine e doutor em Psiquiatria pela USP, apesar de um tratamento de conhecimento comum, é preciso que essa informação e o cuidado se disseminem para todos os profissionais, incluindo aqueles que atuam nos prontos-socorros.

Reflexos da quarentena

A pandemia afetou a rotina da maioria das pessoas. As famílias passaram a conviver em casa, com as crianças tendo aulas dentro de uma rotina domiciliar e os pais em home office. As notícias sobre os reflexos da pandemia e a mudança de rotina, com a obrigatoriedade do uso de máscaras, restrições para frequentar estabelecimentos, entre outras alterações, interfere na saúde mental. Em outras palavras, a quarentena desperta o medo na maioria das pessoas, seja do contágio pelo vírus; da possibilidade de infectar parentes e amigos; das consequências econômicas.

No caso do emprego e do temor do futuro, estudos anteriores, que usaram informações de 63 países entre 2000 e 2011 (incluindo 2008, quando houve a crise econômica mundial), indicaram crescimento do risco de suicídio entre 20% e 30%. “Dados da crise econômica de 2008 revelam aumento no número de suicídios precedendo o aumento da taxa de desemprego. É esperado um aumento da sobrecarga dos serviços de saúde psiquiátrica. A comunidade médica deve estar preparada para este desafio. É importante que hotlines e serviços psiquiátricos estejam prontos para esta fase da pandemia”, diz Mauer.

De acordo com o profissional, as quarentenas mais longas se associam a desfechos psíquicos mais negativos. Desde março, há, no Brasil, a recomendação de isolamento social, que, em setembro, deve atingir os 6 meses. Uma das sugestões do profissional é fornecer informação de boa qualidade sobre a doença, suas formas de contágio, seu risco e buscar reduzir o tédio e melhorar a comunicação. “O tédio e o isolamento causam angústia e sofrimento. Pessoas em quarentena devem ser orientadas, e medidas objetivas devem ser repassadas para que elas tenham mais condições de lidar com o estresse”, ressalta.

Para as famílias ou mesmo para quem vive sozinho, a dica é se comunicar tanto entre quem divide os ambientes quanto com as outras pessoas. “Uma das grandes vantagens dos nossos tempos é a de poder ver a outra pessoa pela internet, interagir com elas. É importante que isso aconteça, que não haja esse isolamento total”, completa o especialista.

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