Uso excessivo de mídias digitais durante isolamento acende alerta para ‘Dismorfia Instagram’
Filtros e ângulos para fotos no Instagram mudam percepções da aparência e influenciam até cirurgias. Segundo artigo publicado no começo do ano passado em uma das principais revistas de Cirurgia Plástica, pacientes procuram procedimentos para parecer com sua versão "aprimorada" após o uso do filtro
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De acordo com o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, mesmo antes da pandemia, a autoexposição online levava, cada vez mais, a geração de millennials a procurar cirurgia estética em idades mais jovens do que as anteriormente vistas. “O fenômeno das selfies fez aumentar tanto as cirurgias quanto os procedimentos estéticos não cirúrgicos”, afirma o médico. “Com as mídias digitais e as selfies, as pessoas estão o tempo todo se autoavaliando e procurando ‘defeitos’ para que possam melhorar. Elas querem se tornar mais bonitas para ficarem melhor nas fotos e postarem em suas mídias. Assim como veem as celebridades e os influencers divulgando um tratamento e procuram pelo procedimento oferecido”, acrescenta o cirurgião plástico. Mas qual é a explicação para essa mudança de percepção entre o que é visto no espelho e o que é observado na selfie? A primeira tem a ver com os filtros utilizados, uma vez que eles corrigem o tom de pele e minimizam pequenas imperfeições. “Além dos filtros, os ângulos de câmera são um grande fator que afeta a maneira como nos observamos nas fotos. Se a lente da câmera estiver muito próxima do nariz, por exemplo, ele ficará maior na foto do que na vida real. Se sua câmera estiver inclinada abaixo do seu rosto, a foto mostrará partes do seu rosto que você não vê necessariamente ao olhar diretamente. E se você for fotografado embaixo de uma fonte de luz, ao lado da luz, ele lançará sombras em seu rosto e corpo”, diz o médico. Segundo o Dr. Paolo, quanto mais próximo do corpo a câmera estiver, mais ela irá deformar a imagem. “Além disso, as fotos não correspondem exatamente como os outros nos vêem, pois elas retratam um momento específico, sem movimentos, como é na vida real”, diz o médico. E, por fim, a luz e o ângulo da foto podem mudar completamente a imagem final. “Isto já é muito conhecido entre os fotógrafos e mais atualmente, com o fenômeno das selfies e mídias sociais, as pessoas também estão com esta percepção e procuram usar estas características para conseguir a melhor foto possível. Vemos o tempo todo pessoas tirando fotos em diferentes ângulos, sob diferentes condições de luz, e avaliando qual delas fica melhor para postar. Além disto, o uso de aplicativos de edição de fotos também permite mudanças em áreas do corpo que não gostamos muito. A soma destes fatores faz com que as pessoas procurem cada vez mais se aproximarem do que julgam perfeito”, explica o cirurgião plástico. Com relação aos que buscam procedimentos estéticos, o Dr. Paolo Rubez analisa que eles são cada vez mais específicos com relação ao que querem mudar. “Com as selfies, as pessoas estão mais focadas em detalhes do rosto e do corpo e têm inclusive uma noção estética apurada. Com isto, elas procuram tratamentos para detalhes que observam nas fotos, que antes não eram tão valorizados porque as pessoas não se viam o tempo todo nas imagens”, afirma. “Como a percepção estética está mais apurada, pelas próprias informações técnicas que encontram nas mídias sociais, as pessoas se tornaram mais exigentes com relação aos resultados. Por isso, é muito importante trabalhar bem as expectativas de cada paciente para que não haja frustrações caso o tratamento não atinja o desejo do paciente”, completa o cirurgião. Apesar da antecipação dos procedimentos e ser responsável pela implacável busca pela perfeição da aparência, o fenômeno das mídias digitais também tem seu lado bom, que é o do autocuidado – quando ele não é exagerado. “Não há problema em relação ao tempo em que se inicia os tratamentos. Pelo contrário, o quanto antes as pessoas começam a se cuidar, elas tendem a envelhecer melhor. No entanto é preciso que isto seja feito com cautela para se evitar exageros e artificialidade. O objetivo dos tratamentos deve ser tornar cada um o mais belo possível dentro de suas características e de forma natural”, diz o médico. Com relação à pandemia, é prudente observar, segundo o médico, se esse excesso nas redes sociais não tem a ver com a ansiedade. “Esse também é um momento de estar mais junto com a família e de realizar novas atividades. É importante que as pessoas criem rotinas e tarefas ao longo do dia, como horário para acordar, para dormir e trabalhar, mesmo que em home office. Além disto, é fundamental a prática de alguma atividade física, mesmo em casa, pois isto gera a liberação de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar. E também vale a pena usar a técnica da meditação, que pode ser feita até com ajuda do celular. Hoje existem vários aplicativos, mesmo grátis, que ensinam técnicas de meditação e ajudam a inseri-la na rotina de qualquer pessoa”, finaliza o médico. PAOLO RUBEZ: Cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS) e da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), Dr. Paolo Rubez é Mestre em Cirurgia Plástica pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. O médico é especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University, com o Dr Bahman Guyuron (em Cleveland – EUA) e em Rinoplastia Estética e Reparadora, pela mesma Universidade e pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. http://drpaolorubez.com.br/ |
terça-feira, 26 de maio de 2020
Internautas de Plantão.
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