ARTIGO: Novo ano, novos hábitos
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Por Helena Ben (*)
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Na época, eu também estudava e já começava a trilhar minha carreira publicitária. E, em um determinado momento, percebi que estava fazendo o mesmo que a banda da cabeça de cavalo: andava com as mesmas pessoas, ia aos mesmos lugares, fazia os mesmos programas que todos os meus amigos de faculdade. Ok, mas qual o problema disso?
Talvez para os estudantes de medicina não houvesse problema algum, justamente o contrário. O fato de conviver com pessoas que encaram a mesma jornada estressante de estudo auxiliava a lidar com a pressão e manter, o mínimo, de vida social. Já na publicidade, a gente escuta desde o começo frases do tipo: “o segredo da criatividade é saber esconder as fontes”. Ué, mas, afinal, como poderia ou deveria esconder as fontes já que todos consumiam exatamente a mesma coisa?
Então, se o segredo para a criatividade é o repertório e as conexões que fazemos, como podemos ser criativos se consumirmos, falarmos e convivermos apenas com os “iguais” a nós?
Para mim, o segredo da criatividade mora aí, em estar aberto a conhecer as coisas que estão fora das zonas do “gosto” ou “não gosto”. Estar aberto ao diferente, e não só ao que você, seus amigos e sua bolha consomem.
Vá ver Coringa, mesmo que você não goste de filmes de super-heróis, e aproveite para pegar a fila do Méqui número 1.000 só para sentir como é a experiência. À noite, permita-se entrar naquele restaurante de comida local que fica na esquina do seu bairro e que você nunca foi porque sempre está vazio.
Vá àqueles museus ‘instagramáveis’ na sua próxima viagem, mas também vá ver arte sacra, pré-histórica ou algo que você nunca teve curiosidade ou interesse, apenas para aprender algo que você não esperava.
Assine a Netflix para entender os fenômenos de La Casa de Papel, Vis a Vis e Stranger Things, mesmo que seja para assistir a um episódio e largar no meio. De vez em quando, lembre-se de assistir à Globo para ver aquele combo de Jornal Nacional + novela das 9 (e não, não troque de canal nos comerciais).
Escute suas playlists personalizadas do Spotify e descubra todas aquelas bandas novas e diferentes que só você conhece, mas permita-se fazer uma viagem um dia escutando o Top 50 do Spotify e entender o que está de fato nos ouvidos das pessoas.
Faça uma aula de Crossfit, mesmo que você só pratique o bom e velho levantamento de copo. Ou, permita-se sair da dieta um dia e vá tomar uma cerveja em plena terça-feira com seus colegas de colégio que tomaram rumos totalmente diferentes do seu.
Fique com o filho de um amigo e peça para ele te mostrar todos os vídeos de YouTube que ele gosta. Siga pessoas estranhas nas redes sociais, mesmo que você não concorde com o ponto de vista de cada uma delas.
Não é sobre ser hipster ou mainstream.
Permita-se ver e viver experiências que não têm absolutamente nada a ver com você e que, talvez, não faça sentido nenhum no momento. Afinal, nem sempre os gostos e hábitos dos nossos clientes (e dos clientes dos nossos clientes) são iguais aos nossos. Quase nunca na verdade!
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Helena Ben, 30, é publicitária, sócia na agência Batuca.
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terça-feira, 7 de janeiro de 2020
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