97 min., 2018, França, DCP
Sinopse
Jessica é uma rainha, mas ela pode ser uma guerreira, uma mãe, uma deusa ou uma estrela. Jessica salvou todos aqueles jovens perdidos, aqueles meninos solitários, órfãos e perseguidos que nunca conheceram o amor e que se tornaram monstros. Juntos, formam uma família e procuram criar um mundo no qual tenham o direito de permanecer vivos.
Ficha técnica
Roteiro: Caroline Poggi, Jonathan Vinel Fotografia: Marine Atlan Montagem: Vincent Tricon Som: Lucas Doméjean Música: Ulysse Klotz Produção: Emmanuel Chaumet, Mathilde Delaunay, Olivier Père Elenco: Aomi Muyock, Lukas Ionesco, Maya Coline, Paul Hamy
Sobre o Diretor
Caroline Poggi nasceu em Ajaccio, Córsega, em 1990. Estudou na Université Paris 8 e na Università de Corsica Pasquale Paoli. Jonathan Vinel nasceu em Toulouse, França, em 1988, estudou montagem na La Fémis em Paris. Juntos realizaram diversos curtas incluindo Tant qu'il nous reste des fusils à pompe (2014), que recebeu o Urso de Ouro de Melhor Curta no Festival de Berlim; Notre Héritage (Berlinale, 2016) e After School Knife Fight (Semana da Crítica, Cannes, 2017). Jessica Forever é o primeiro longa da dupla.
O MUNDO DE JESSICA ENTREVISTA com os diretores CAROLINE POGGI E JONATHAN VINEL
*publicada no material de divulgação do filme.
- Jessica é uma personagem misteriosa. Percebemos que ela tem poderes. Quem é ela? De onde veio sua inspiração para criá-la?
Jessica é uma maga, deusa, guerreira, irmã, rainha pacifista, um anjo que desceu dos céus. Está envolta em mistério. Sabemos muito pouco sobre ela, apenas que tem o poder de sentir a tristeza das pessoas e usa esse poder para acolher garotos violentos e acalmar seus instintos assassinos.
É uma bússola para esses órfãos, um farol que ilumina o caminho deles. Nem os garotos sabem quem ela é, mas, para eles, isso não importa. Tudo o que sabem é que Jessica dedicou sua vida à tarefa de salvá-los. Essa é sua missão.
Jessica é uma mistura de várias heroínas que nos inspiraram, entre as quais se incluem: Arwen (Lord of the Rings) Quiet (Metal Gear Solid V), Pocahontas, Buffy, Casca (Berserk) e Ciri (The Witcher 3).
- O tema do grupo como família alternativa é recorrente em seus filmes. Este grupo procura viver em paz e com autonomia num mundo que quer destruí-lo. Você vê algum paralelo com a juventude de hoje?
Totalmente. Jessica Forever é a história de uma geração assombrada pela violência e faminta por conexões e ideais. Uma geração desesperada em busca de amor e de um novo estilo de vida.
O caminho padrão ditado pela sociedade em que vivemos está desgastado. Já não nos oferece um modelo com o qual possamos sonhar. Viver em grupo é uma maneira de resistir à nossa sociedade.
Criar uma família alternativa, uma comunidade do coração, é uma maneira de se reconectar com o mundo, sentindo-o; de agir de acordo com nossos sentimentos e não conforme aquilo que é determinado. É uma maneira de preencher os vazios criados por uma sociedade que tende a nos separar, anestesiar e nos isolar do mundo. Quando os seres humanos se juntam, adquirem força e poder, ou sejam, laços que os ajudam a confrontar a sociedade. Juntos, descobrem novas maneiras de ver o mundo. Porque a maior violência de todas é o mundo que somos chamados a viver.
- Apesar de serem ex-assassinos, ficamos muito ligados a esses garotos perdidos. Como você consegue criar empatia por personagens tão incomuns?
Os garotos são assassinos arrependidos em recuperação. A violência deles não é um programa político, de nada lhes serve. É a natureza deles, não uma escolha. É parte deles, tal como um câncer. Esses garotos experimentaram tanto horror que é como se já estivessem mortos. Sabem que podem morrer a qualquer momento, então vivem cada dia como se fosse o último. O filme é um adeus a tudo que amam. Para nós, nada é mais triste do que a situação em que se encontram. Sentimos medo por eles. Desejamos que o sonho deles de encontrar a paz em uma nova família se torne realidade. Há uma tendência atual de condenar as pessoas, de forma rápida e definitiva, pelo mal que causaram. Jessica Forever questiona se é possível mudar após termos agido como um monstro. Temos o direito e a oportunidade de mudar, de nos tornarmos outra pessoa? Ou estamos condenados a permanecer os mesmos?
A missão de Jessica é salvar monstros ao enxergá-los de modo diferente. Ela acredita no amor como uma força curadora. É uma crença que têm raízes profundas na alma humana.
- Quais foram suas influências para criar o mundo onde esses personagens vivem e se desenvolvem?
A estória se passa num mundo que parece realista, mas está impregnado de estranheza e fantasia. Tínhamos de tornar extraordinário aquilo que era ordinário. A casa se transforma num palácio. O colégio abandonado se transforma numa fortaleza. O bairro residencial se transforma num campo de jogos ou cemitério. O mundo do filme é uma grande arena que se assemelha ao mapa de um videogame, algo ao mesmo tempo selvagem e urbano, onde os personagens lutam por sua sobrevivência.
Ao alterar a realidade, fazemos com que as perguntas habituais se tornem irrelevantes: Onde eles moram? Como conseguem dinheiro? Onde estão seus pais biológicos? Quais são seus pontos de vista políticos? Eles trabalham? A estória não acontece em nenhum lugar específico, portanto, acontece em toda parte. As casas, florestas, praias e os bairros são locais universais que podem servir de cenário para qualquer estória, o que nos permite focar nas outras perguntas do filme: Como vive alguém que é visto como um monstro? Essas pessoas têm ao menos o direito de viver?
O tratamento das imagens contribui para a estranheza desse mundo. Privilegiamos o digital com o objetivo de criar um visual bastante definido que remete a videogames tais como God of War, Horizon Zero Dawn e Ghost Recon Wildlands. A imagem ultrarreal cria certa estranheza.
- A personagem de Jessica não é sexualizada, o que é surpreendente considerando o gênero e a escolha de Aomi Muyock para representá-la. Com esta heroína de ação vocês pretendiam romper com algum tipo de padrão?
Não tínhamos nenhum desejo de romper com nenhum tipo de padrão. Simplesmente não queríamos sexualizar nossa personagem. Isto não era importante para a estória que queríamos contar. Poderia ter nos conduzido em direção a sentimentos que não nos interessavam, tais como ciúme ou sedução. Os garotos veriam Jessica de forma diferente. Queríamos que todos ocupassem a mesma posição em relação a Jessica. Acima de tudo, queríamos que o grupo fosse como uma grande família. Queríamos que a cura acontecesse não através do desejo sexual, mas do amor infinito.
Entretanto, o filme não é desprovido de sexualidade. Um dos personagens se abre para o mundo exterior e descobre que, além de Jessica, há outro tipo de amor. O sexo representa um aprendizado, um caminho alternativo para aquele que eles percorrem.
Quanto à escolha de Aomi Muyock, quando a encontramos, descobrimos que ela irradiava algo extraordinário. Ela é muito terrena e humana, mas é também cósmica, uma deusa. É fascinante, magnética. Poderíamos ficar olhando para ela eternamente. Por não sexualizá-la, pudemos mantê-la naquele lugar de um outro mundo. Jessica é sagrada, impenetrável.
Filmografia
Caroline Poggi 2018 Jessica Forever 2017 After School Knife Fight (curta) 2017 Toys on Fire (curta) 2015 Notre héritage (curta) 2014 Tant qu’il nous reste des fusils à pompe (curta) 2012 Chiens (curta)
Jonathan Vinel 2018 Jessica Forever 2017 After School Knife Fight (curta) 2017 Martin Pleure (curta) 2015 Notre héritage (curta) 2014 Tant qu’il nous reste des fusils à pompe (curta) 2013 Notre amour est assez puissant (curta) 2012 Prince puissance souvenirs (curta) 2011 Play (curta) 2011 We (curta/short)
Festivais
IndieLisboa 2019 (Special Jury Award) Berlin International Film Festival 2019 Toronto International Film Festival 2018 Bordeaux International Independent Film Festival 2018
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário