sábado, 24 de agosto de 2019


Produção de alimentos e turismo multiplicam as potencialidades de Morretes

2ª Edição do Morretes Chef intensifica ações de desenvolvimento sustentável com legado para o ano todo
Desde o início da organização do evento, agricultores e empresários estão firmando parcerias de curto, médio e longo prazo visando potencializar agricultura familiar e o turismo agroecológico
A 2ª Edição do Morretes Chef caminha para a quarta semana com uma programação completa, misturando gastronomia, aulas-shows com chefs e expedições pelos locais de produção, que estão fazendo da cidade um destino certo para quem quer fugir da rotina e apoiar uma iniciativa com o firme propósito de deixar um legado de desenvolvimento sustentável para a região. Para isso, toda a concepção do evento está estruturada em fortalecer e garantir continuidade à vocação local para a geração de renda pelo viés da agroecologia, cozinha Quilômetro Zero, turismo aliado à natureza e atração de investimentos para o empreendedorismo atrelado a esse conjunto de valores. 


Tanto que os preparativos foram além da definição dos pratos servidos, chefs participantes, lugares das expedições e toda a extensa programação prevista. Há dois meses, o Morretes Convention e Visitors Bureau viabilizou um cronograma para melhorar a logística e comercialização dos ingredientes produzidos na região. Entidades de agroecologia, por sua vez, ajudam na capacitação e planejamento da produção de alimentos. O que tem despertado o interesse dos agricultores convencionais da região para as oportunidades relacionadas à agroecologia. Esse legado de apoio logístico mais profissionalização da produção local não só visa o fornecimento de ingredientes durante o mês da 2ª Edição do Morretes Chef, mas também pretende intensificar de forma prática e permanente a relação entre as duas pontas, que se beneficiam da lógica dos circuitos curtos de alimentação, que poupam energia e garantem preços mais competitivos por eliminar atravessadores e gastos com transporte.
Quilômetro Zero e turismo agroecológico
Presidente do Morretes Convention e Visitors Bureau e proprietário do restaurante Casa do Rio, Lourenço Rolando Malucelli Neto explica que o gargalo logístico sempre limitou muito a atividade dos agricultores do município, que perdiam duas vezes com a falta de canais que garantissem a venda do que foi colhido e o dia de trabalho usado para comercializar a produção. Por outro lado, o grande limitador dos restaurantes locais para contemplar a produção de Morretes sempre foi a incerteza sobre a entrega na quantidade planejada do insumo. ”Via Convention, decidimos resolver a logística fazendo o transporte dos produtos aos restaurantes e já estamos conseguindo movimentar 250 quilos de alimentos por semana, além de itens que não são pesados como maços de temperos”, conta.
Um cronograma semanal entre agricultores e grupos de compras foi estruturado para organizar oferta e demanda. Toda segunda-feira, os agricultores disponibilizam a lista dos produtos que podem ser colhidos para que os grupos de compra efetuem os pedidos. Feito isso, só se colhe o que foi negociado para que na quinta-feira o produto seja entregue. “Encabecei o projeto, fiz o primeiro contato nas propriedades junto às associações e, para esse início, hoje eu cedo minha caminhonete e funcionário para fazer a entrega aos 11 estabelecimentos”, explica o presidente, acrescentando que esse sentimento de fazer acontecer é comum entre todos os envolvidos. “Todos estão motivados porque ganham os restaurantes adquirindo a preços competitivos iguarias e produtos de excelência que só são encontrados aqui e ganham os agricultores que evitam perdas com a produção não vendida, comercializam seu produto sem atravessadores e também são remunerados seguindo a tabela da Ceasa conforme a nossa sugestão”, comenta.
Como a compra é feita por profissionais da cozinha, os produtos sem tanto apelo visual, mas com qualidade para consumo, também são aproveitados, reduzindo desperdício. “A medida em que estamos comprando deles, os agricultores produzem e plantam de acordo com as nossas necessidades e com isso trabalham de forma planejada para atender o nosso mercado”, informa.
Para a Coordenadora da AOPA (Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia) e do Núcleo Mauricio Burmester do Amaral da Rede ECOVIDA de Agroecologia e integrante da AMAE (Associação Morretes Agroflorestal e Ecológica), Neltume Espinoza, a organização das entregas por meio de circuitos curtos de alimentação é de extrema importância para o sistema evoluir e pelo fortalecimento da soberania alimentar do território. “Principalmente a produção orgânica e agroecológica tinham Curitiba como principal destino, mas ao se valorizar os circuitos curtos de alimentação, reduzindo a logística de 70 km para algo entre 5 e 10 km de distância, há um fortalecimento da territorialidade e do que o clima e vegetação da Mata Atlântica oferecem”, acredita.
A visão dos envolvidos é de que economicamente isso seja extremamente benéfico tanto por deixar o recurso no território, quanto pelas potencialidades de desenvolvimento sustentável de Morretes, incluindo o turismo agroecológico. “Conhecer além do barreado, entender que Morretes tem muitos outros alimentos e possibilidades é um imenso atrativo turístico, pois as visitas às áreas de produção ficam muito interessantes, mostram que o foco vai além dos alimentos, o foco está na contribuição para o meio ambiente, produzindo água e cultivando e produzindo mais solo”, ressalta Neltume.
A conservação do meio ambiente é outro avanço significativo que pode ser alavancado a partir da produção sustentável de alimentos e do estímulo ao ecoturismo e turismo rural. “A partir do momento que as pessoas conhecem o processo de produção, entendem o impacto de suas escolhas alimentares e vivenciam a natureza, passam a entender a importância de conservar o nosso patrimônio natural e as possibilidades de desenvolvimento econômico e bem-estar social que ele oferece”, afirma a coordenadora de Áreas Protegidas da Fundação Grupo Boticário, Marion Silva.
Atração de recursos
A 2ª Edição do Morretes Chef se soma a um contexto favorável com atração de investimentos por meio de diferentes programas de iniciativa pública (como o Corredor do Iguaçu) e privada com o lastro de instituições como o Sebrae. Segundo Malucelli Neto, isso se deve por conta da estruturação de um desenvolvimento que respeita a Mata Atlântica e prima pela sustentabilidade. “Morretes sempre teve muitas potencialidades e o impacto da retirada do passeio de trem do meio da semana na cidade foi sentido, ao mesmo tempo que motivou uma reação muito mais consistente de ampliar a permanência do turista na cidade, incentivando e capacitando toda a cadeia envolvida”, explica o presidente do Morretes Convention e Visitors Bureau. “Junto a essa série de incentivos, Morretes também está de portas abertas e disposta a incentivar iniciativas em prol do desenvolvimento e que estejam em acordo com o nosso Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica”, destaca.
Sobre o evento
Com a curadoria do chef Celso Freire, o evento reúne pratos assinados por chefs renomados de Curitiba e com um grande diferencial: a utilização de ingredientes típicos da região em restaurantes da cidade histórica de Morretes.

Nenhum comentário: