Velho Herói.
*escrito por Raphael Miguel
Quando as sirenes das ambulâncias ecoam por Los Angeles rumo ao luxuoso bairro de Beverly Hills, o mundo parece parar por alguns instantes. E então, todos os problemas do planeta sossegam por alguns momentos e as atenções se voltam às mansões dos astros e estrelas na ânsia de saber o que aconteceu. Minutos de tensão precedem o fatídico noticiário. Foi assim com Michael Jackson, foi assim com Elvis muitos anos antes dele. Dessa vez, a humanidade perdeu outra espécie de rei. Em 12/11/2018, aos 95 anos, lamentamos a morte de Stan Lee.
A carreira de Stan Lee se confunde com a trajetória de uma das maiores empresas de entretenimento mundial, a Marvel Comics. Muito do que temos hoje, em termos de super-heróis, passou pelas mãos e mente criativas de Stan Lee. Na década de 60, inovou ao trazer para os quadrinhos temas mais comuns ao público americano. Apesar da alta dose de ficção científica de suas criações, afinal estamos falando de heróis de quarinhos, os enredos traziam dramas familiares, conflitos internos, dualidade de caráter. Algo bem diferente e peculiar em contraponto ao que fazia sua distinta concorrente na época.
Toda essa diferença ficou muito nítida com a criação daquele que viria ser sua obra prima. O Homem-Aranha balançava suas teias por Manhattan ao mesmo tempo em que pensava em como iria pagar suas contas no fim do mês. E toda essa temática mais ‘pé no chão’ esteve presente em muitas de suas criações, como o Demolidor, Homem de Ferro, Pantera Negra e os X-Men.
Não à toa, a Marvel tornou-se um diferencial no mercado e Lee sempre esteve por trás disso, aliado a outros grandes artistas, como Jack Kirby. Mais próximos da realidade estadunidense, seus heróis eram mais homens e menos super, uma tendência que passou a se intensificar ao decorrer das décadas e que veio a influenciar toda a indústria dos quadrinhos.
Eu era nerd muito antes disso ser considerado cool, o tipo de adolescente que andava por aí com camisetas de heróis, se enfiava em bancas de revistas e sebos, que conhecia a árvore genealógica de quase todos os personagens existentes. Até por isso, sempre reverenciei a figura de Stan Lee.
Esse senhor foi uma das maiores inspirações na minha carreira literária e por influência maciça dele, tive a coragem de apostar na criação de Os Supremos, trazendo heróis brasileiros originais para a literatura brasileira. Inclusive, o nome, Os Supremos, é uma homenagem direta, eis que homônimo, a uma das versões dos Vingadores.
E assim como eu, o roteirista da Marvel deixou uma legião de fãs e admiradores de seu legado, sendo influente não apenas para os consumidores dos quadrinhos, mas para todo amante de cultura pop do globo terrestre. Devemos muito ao que veio da mente desse homem. Tanto que a própria DC, concorrente histórica da Marvel, se rendeu aos encantos do editor e lançou uma série que recontava os grandes nomes de seus personagens idealizados por Stan em 2001. Uma nítida homenagem e atitude de reconhecimento.
Podemos dizer que Lee está para os quadrinhos assim como Walt Disney está para as animações; assim como Einstein está para a física; como os Stones estão para o rock; assim como Pelé está para o futebol.
Minha professora de biologia no colegial repetia exaustivamente uma máxima no começo de cada aula. Dizia ela que todo ser vivo nasce, cresce, reproduz e morre. Esse é o tal ciclo da vida, mas existe uma maneira de burlar o sistema, de sobrepor essa ideia, de ser imortal. Basta fazer algo incrível, deixar seu legado, cravar seu nome no coração das pessoas. Stan Lee fez exatamente isso, e o fez de forma heróica. A humanidade agradece.
Icônico, ímpar, visionário. Stan Lee, um monstro sagrado da cultura pop.
Já que citei Os Supremos, nele deixo uma mensagem aos leitores e sei que o eterno nome da Marvel concordaria comigo. “Talvez o mundo precise de mais heróis.” Hoje, com a devida licença poética, quero reformular a citação.
“Talvez o mundo precise de mais Stan Lee.”
Adeus, velho herói. Obrigado por tudo
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