Na fragilidade, a força
Chefes e líderes são necessários. Mesmo nas organizações mais liberais e descentralizadas deve haver comando, as decisões devem ser tomadas, medidas devem ser implantadas, responsabilidades assumidas. Um chefe deve sua autoridade ao cargo que ocupa; chefes são obedecidos. O líder tem autoridade natural, derivada da competência, do envolvimento, do comprometimento e da credibilidade; lideres são seguidos. O mundo atual demanda mais líderes do que chefes, pois as estruturas familiares mudaram, os modos de produção mudaram, nós mudamos. Técnicas, atividades e equipamentos sofisticados exigem operadores capazes de pensar e tomar decisões independentes, constantemente motivados por uma liderança eficiente. Mulheres costumam ser melhores líderes do que chefes, e quando listamos as de maior proeminência no mundo dos negócios, da política, da arte, da educação, vemos que a imensa maioria delas deve seu espaço às suas próprias qualidades em primeiro lugar.
O que há de comum entre elas é viverem em sociedades nas quais os direitos civis e o acesso equânime de homens e mulheres à educação e ao trabalho são garantidos em lei e respeitados. Hoje no Brasil as mulheres constituem maioria em grande parte dos cursos universitários, e isso não pode deixar de ter consequências no perfil do trabalho futuro. Mulheres estão assumindo posições de destaque em todas as atividades econômicas e sociais. Ainda não chegamos à igualdade, a remuneração média da mulher é inferior à do homem em mesma função, mas estamos a caminho, e em passos rápidos.
Mulheres só conquistaram o direito de votar e ser votadas no Brasil em 1934, quarenta e cinco anos depois da Proclamação da República. E ainda hoje o quadro não é favorável: dos 513 deputados federais 45 são mulheres, dos 81 senadores 10 são mulheres; há duas mulheres governadoras de estado, cerca de 9% dos prefeitos municipais são mulheres e pouco mais de 12% dos vereadores são mulheres.
No entanto, é praticamente certo que nas eleições presidenciais deste ano duas mulheres serão candidatas. Duas mulheres com perfis diferentes, ambas competitivas. Se uma delas ganhará ou não a eleição, caberá ao eleitorado decidir e isso não é o fundamental, é parte de um processo. Em um país tradicionalmente machista, é revolucionário que tenhamos duas candidatas nessas condições, e o melhor é que a maioria dos eleitores que escolherem uma delas o fará por razões legítimas: história política e de vida, apoios partidários, realizações, ideais declarados e demonstrados, ou simples identificação. Dificilmente seus eleitores votarão nelas por serem mulheres ou apesar de serem mulheres; votarão em candidatas em que acreditem, e que por acaso são mulheres. Isso é o que realmente importa.
Na outra ponta do espectro social, onde as consequências de nossa obscena distribuição de renda são mais sentidas e doloridas, as mulheres são responsáveis pela maioria das famílias, são elas que mantêm os filhos em casa e na escola até onde é possível. Não é à toa que agentes de financiamento de moradias populares preferem que as casas sejam registradas em nome do casal, e se não for possível, em nome da mulher, só em última hipótese no do marido. Mulheres não trocam facilmente suas casas por quimeras motorizadas, não abrem mão de sua família por motivos fúteis e não desistem do que conquistaram. Gerentes de banco sabem que o risco de emprestar às mulheres é bem menor que emprestar aos homens de mesma idade e extrato social; mulheres são melhores pagadoras.
Em qualquer família, de qualquer situação econômica e social, sabe-se quem cuidará do avô doente, do filho ferido, da sogra entrevada: uma mulher, mãe, filha, irmã. Mulheres são responsáveis e compassivas, e em um mundo individualista e cruel isso é uma fragilidade. Mas no centro desta fragilidade está contida a grande força, compaixão e responsabilidade fazem melhores seres humanos, melhores profissionais, melhores líderes.
*Wanda Camargo – Presidente da Comissão do Processo Seletivo
Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
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